A Polícia Federal (PF), diante dos avanços nas investigações sobre o assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, aposta agora que, assim como um dos envolvidos no crime, o ex-policial militar Élcio Franco, o também ex-PM Ronnie Lessa firmará um acordo de delação premiada em que entregará quem mandou matar a vereadora em 2018.
Segundo relato de uma fonte da PF à jornalista Natuza Nery, da GloboNews, as revelações feitas por Élcio Franco abrem a possibilidade para que Ronnie Lessa também faça uma delação. Diante das "provas robustas" que foram colhidas recentemente pelos investigadores, a situação de Lessa, apontado como o homem que efetuou os disparos contra Marielle, se complicou, criando um cenário ideal para que ele forneça novas informações sobre o caso.
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"Nesse novo cenário, caso o acordo aconteça, ele deverá ter nível de rigor igual ou maior ao do celebrado por Élcio Queiroz – exigindo, por exemplo, que Lessa traga informações ou indícios novos sobre o mandante ou os mandantes do crime contra Marielle", discorre Natuza Nery ao noticiar a intenção da PF em celebrar um acordo de delação premiada com Ronnie Lessa.
Operação da PF e delação de Élcio Queiroz
Denominada como Élpis, a deusa grega da esperança, a operação da Polícia Federal (PF) que levou novamente à prisão o ex-sargento dos Bombeiros Maxwell Simões Correa, o Suel, encerra a primeira fase das investigações sobre o planejamento e execução do assassinato de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, e da tentativa de homicídio da assessora Fernanda Chaves, que também estava no carro no dia 14 de março de 2018, mas sobreviveu à saraivada de tiros.
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"A novidade é que as provas colhidas e reanalisadas pela Polícia Federal confirmaram de modo inequívoco a participação de Élcio e Ronnie [Lessa, que efetuou os disparos]", disse o ministro da Justiça Flávio Dino.
Em entrevista coletiva, Dino afirmou ainda que agora inicia-se uma nova fase da investigação, focada nos mandantes do crime.
Entenda o que foi revelado e os próximos passos da investigação:
- Após elementos que comprovam a participação no crime, o ex-PM Élcio Queiroz, até então acusado de dirigir o carro de onde Lessa efetuou os disparos, confirmou a participação dos dois no assassinato de Marielle e Anderson Gomes;
- Élcio ainda implicou Maxwell Simões que, segundo ele, foi um dos articuladores do assassinato, atuando no planejamento do crime antes e depois da execução.
- Suel havia sido condenado a quatro anos de prisão em 2021 apenas por obstruir as investigações, escondendo as armas após o crime e depois jogando-as ao mar. Ele também teria feito campana para acompanhar os passos da vereadora desde 2017
- "Há convergência entre a narrativa do Élcio e outros aspectos que já se encontravam em posse da polícia. O senhor Élcio narra a dinâmica do crime, a participação dele próprio e do Ronnie Lessa e aponta o Maxwell e outras pessoas como copartícipes", disse Dino.
- Suel foi preso em casa, no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste, e foi levado para a sede da PF, na Zona Portuária. Ele foi preso na mesma casa onde foi detido em 2019. Além da mansão, ele possui um apartamento de luxo na Barra da Tijuca, no valor de R$ 2 milhões.
- Além de Suel, outras seis pessoas foram alvos da operação desta segunda-feira (27), entre elas o irmão de Ronnie Lessa, Denis Lessa, que presta depoimento à PF.
- Os outros cinco alvos são: Edilson Barbosa dos Santos, o "Orelha"; João Paulo Vianna dos Santos Soares, o "Gato do Mato"; Alessandra da Silva Farizote; Maurício da Conceição dos Santos Junior, o "Mauricinho"; e Jomar Duarte Bittencourt Junior, o "Jomarzinho".
- Segundo o promotor Fábio Cardoso, a delação premiada de Élcio Queiroz fez com que "um pacto de silêncio fosse rompido" entre os integrantes da organização criminosa que assassinou Marielle e Anderson Gomes.
- "Síntese do dia é que delação premiada do Élcio permite informações que conduzam a esclarecimento de toda a dinâmica do crime e evidentemente de outras participações", afirmou Dino.
Os próximos passos da investigação:
- Após desvendar a chamada "mecânica" do crime, sobre como foi planejado e executado o assassinato, o Ministério Público e a Polícia Federal agora vão focar nos mandantes.
- Segundo o ministro, parte da investigação está em segredo de Justiça, mas "o certo é que nas próximas semanas provavelmente haverá novas operações derivadas desse conjunto de provas colhidas no dia de hoje".
- Dino disse ainda que é "indiscutível" a participação de outras pessoas e que as investigações mostram envolvimento "das milícias e do crime organizado do Rio de Janeiro no crime".