O jornalista cearense Wellington Macedo, acusado de participar do plano de George Washington de Oliveira Sousa e Alan Diego Rodrigues dos Santos, prestou depoimento à Justiça de forma remota. Ele está foragido desde a última véspera de Natal, quando o plano de explodir uma bomba no aeroporto de Brasília fracassou. O golpista chorou copiosamente durante o depoimento.
O jornalista Evandro Éboli, do portal Metrópoles, obteve a íntegra das imagens. Em suas redes sociais, mostra alguns trechos. Wellington dirigiu o carro que transportou a bomba fabricada por George Washington para Alan Diego, que a instalou no caminhão de combustível. No depoimento ele disse ser evangélico e que passou a “orar muito” desde os acontecimentos. Ele contou que ia ao Quartel-General do Exército, onde havia um acampamento bolsonarista instalado e o plano terrorista foi gestado, como um jornalista. Seu objetivo seria “cobrir os atos de forma isenta”. Revelou também que a partir de dezembro passou a utilizar um colete à prova de balas nas suas idas ao local.
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“Queria ver o que tinha acontecido. Peguei o carro e voltei ao local para ver, eram 8 horas da manhã. Só ia acreditar se visse a polícia no local e vi muita polícia no local. Dei graças a Deus daquilo não ter explodido. Voltei para casa sem saber o que fazer”, declarou, aos prantos.
O acusado também confirmou que trabalhou por 11 meses no Ministério da Família, da Mulher e dos Direitos Humanos, de Damares Alves, e revelou mais detalhes sobre o que fez após o atentado.
“Em frente a casa, muito nervoso, pensei em ligar para a polícia, e ao mesmo tempo fiquei com medo por causa do monitoramento. Sofri muito quando passei 40 dias naquele presídio. 41 dias sem ter feito nada. Eu não queria voltar praquele lugar, fiquei com medo de ligar do meu número e ficar registrado. E me prenderem. Eu não dormi”, disse Wellignton, soluçando.
Wellington segue foragido e prestou seu depoimento por meio remoto.
Quem é Wellington Macedo
Wellington Macedo de Souza, de 47 anos, é o jornalista que está foragido desde o último dia de 24 de dezembro de 2022 acusado de integrar a organização criminosa que planejou um atentado a bomba no aeroporto de Brasília. Em 26 de abril, a Folha publicou uma entrevista com ele, em que declarou estar se abrigando em fazenda de empresário bolsonarista, se diz vítima de perseguição e prometeu não se entregar à Justiça.
“Não voltei mais para casa, fui para outra cidade. Estou numa fazenda de pessoas que conheci no acampamento [montado diante do Quartel-General do Exército em Brasília]. Estou bem isolado, longe”, declarou por telefone ao jornal. A localização da fazenda e o nome do seu proprietário não foram divulgados.
Macedo está foragido desde o último Natal, depois que o plano de explodir a bomba no aeroporto de Brasília foi aos ares. Na ocasião, ele retirou a tornozeleira eletrônica que estava usando e se mandou do Distrito Federal.
Na recente entrevista, ele contraria a investigação da Polícia Civil do Distrito Federal que o coloca como o motorista do carro que transportou o artefato e alega que não sabia da existência da bomba e nem do plano para detoná-la.
Além dele, também estão envolvidos no caso George Washington de Oliveira Sousa, que teria preparado o explosivo, e Alan Diego dos Santos e Sousa, que colocou a bomba em um caminhão que transportava combustível de aviação para o aeroporto de Brasília. Os três foram tornados réus em janeiro depois que o TJ-DF aceitou denúncia do Ministério Público. George Washington e Alan Diego estão presos.
O objetivo do grupo seria detonar a bomba logo na entrada do aeroporto a fim de criar pânico na população e fomentar uma eventual ‘intervenção militar’ na capital federal que abrisse caminho para um golpe de Bolsonaro. A promotora Vera Gomes, em documento obtido pela TV Globo, reafirmou exatamente essa linha de investigação. Ela alega ter produzido provas suficientes, através de vídeos, laudos periciais e relatórios, que comprovam as autorias do crime e a motivação.
“Os planos dos réus eram mesmo colocar o artefato perto do aeroporto, plano, aliás, que foi relatado por George Washington em conversa com vizinhos, conforme informação obtida pelos órgãos de inteligência e relatado pelas testemunhas policiais em juízo. O objetivo era criar pânico na população e, com isso, motivar imaginária ação militar no país”, declarou a promotora.
O MP pediu as condenações de Alan Diego e George Washington pelo crime de expor a vida e a integridade física de terceiros mediante explosão, arremesso ou colocação de explosivos. A pena, que é de 3 a 6 anos de prisão, pode aumentar em um terço de acordo com o MP uma vez que o alvo da explosão era uma reserva de combustível. No caso de pena máxima, ambos podem permanecer encarcerados por 8 anos. Wellington ficou de fora do pedido justamente por ainda estar foragido.
Prisão por incitar golpismo em 2021
Quando ele disse na declaração à Justiça sobre os 40 dias que esteve preso, ele se refere a uma prisão de 2021, determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, por ter instigado a turba de terroristas bolsonaristas a invadir a mais alta instância do Judiciário brasileiro no feriado de 7 de Setembro de 2021, durante uma transmissão na qual disse que “a possibilidade é de 80% (de invasão ao STF). São centenas de ônibus. Quando falamos que o povo está indo para Brasília para retomar o poder, é a retomada do poder, já que o presidente da República não tem mais poder”.
Por conta disso, Wellington foi detido e passou um na cadeia, para posteriormente, uma vez condenado, ser colocado em liberdade vigiada por meio de tornozeleira eletrônica. O repórter retirou ilegalmente o dispositivo de monitoramento, não se sabe exatamente quando, o que configura um novo crime.
Dizendo ser o fundador da “Marcha da Família Cristã pela Liberdade”, o jornalista frequentava diariamente o acampamento golpista instalado pelos bolsonaristas na porta do Quartel-General do Exército Brasileiro em Brasília, de onde saiu boa parte dos terroristas que devastaram a capital federal no dia 8 de janeiro deste ano, destruindo as sedes dos três poderes da República.
Assessor de Damares Alves e Linkedin suspeito
Entre as muitas atividades que ocuparam a vida profissional de Wellington, está um cargo exercido entre fevereiro e outubro de 2019 no Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, criado por Bolsonaro e entregue a Damares Alves. Lá, Wellington teve a oportunidade de ter ‘excelentes’ colegas de trabalho, como a ativista neonazista Sara Winter, que liderou o movimento “Os 300 do Brasil” – que promoveu um ataque com fogos de artifício ao STF em 2020, em plena pandemia.
Mas para além do bolsonarismo, a ocupação do suspeito parece não ter consistência. De acordo com o perfil do jornalista na rede de relações profissionais LinkedIn, ele teria realizado trabalhos para importantes veículos de imprensa brasileiros, como os jornais O Estado de S. Paulo, Folha de S.Paulo e para a revista Veja. Nenhum desses órgãos de comunicação confirmou as informações até o momento.
O bolsonarista extremista afirma também em seu perfil que trabalhou para a agência espanhola EFE, que por meio de nota à redação da Fórum explicou jamais ter mantido qualquer vínculo com o jornalista, negando que ele tenha sido seu correspondente. Há cinco anos, diz a EFE, a agência comprou para uma extinta produtora, a Mediamca, três materiais audiovisuais que foram produzidos por Wellington, mas sem qualquer responsabilidade pela escolha do jornalista, assim como sem saber se existiria algum laço entre ele e a produtora que já não existe mais.
A vaga ocupada por Wellington na pasta chefiada por Damares Alves parece encerrar a discussão sobre sua proximidade com Jair Bolsonaro e o núcleo de poder de seu governo, uma vez que a nomeação para um dos ministérios mais “ideológicos” da gestão bolsonarista se deu por conta de seu alinhamento com as posturas reacionárias e antidemocráticas da administração de extrema direita.
Antecedentes são variados
O jornalista tem muitos e variados antecedentes: contravenção penal, denunciação caluniosa, crime contra a incolumidade pública, é investigado por dano qualificado, incêndio majorado, associação criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e tentativa de golpe de Estado, de acordo com o G1.
Ele também foi autuado na Justiça do Ceará por utilizar a foto de uma mulher morta, sem autorização da família, para divulgar fake news sobre a primeira pessoa morta por Covid-19 no município de Sobral.
O caso de vilipêndio de cadáver aconteceu em março de 2020, quando o município ainda não tinha registrado mortes por Covid. A denúncia aponta que Wellington de Souza publicou em suas redes sociais a foto do caixão aberto com o corpo enrolado em um pano branco e um papel escrito “Óbito Covid-19”. Na legenda, ele revelou a identidade da mulher, de 51 anos, e afirmou que ela era a primeira vítima da doença na cidade.