Os advogados do ex-presidente Jair Bolsonaro divulgaram, na noite desta sexta-feira (16), uma nota com argumentos bizarros na tentativa de desassociar seu cliente da conspiração golpista articulada por seus auxiliares mais próximos e militares, que foi reforçada a partir da divulgação de uma nova leva de diálogos e documentos encontrados pela Polícia Federal (PF) no celular do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens e braço direito do ex-mandatário.
No aparelho do militar, que está preso, a PF descobriu uma espécie de "roteiro do golpe" segundo o qual os militares poderiam ser convocados para arbitrar um conflito entre os Poderes e, assim, manter Bolsonaro no poder diante da derrota para Lula na eleição presidencial. Além disso, há inúmeros diálogos entre auxiliares próximos da presidência e oficiais de alto escalão das Forças Armadas, como o coronel Jean Lawand Junior, então subchefe do Estado Maior do Exército, conspirando um levante golpista que teria Bolsonaro como líder.
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Ao se posicionar sobre as novas revelações, a defesa de Bolsonaro se enrolou, dizendo que as conversas "comprovam" que o ex-presidente "jamais participou de qualquer conversa sobre um golpe de Estado" e ainda utilizou um argumento bizarro: o de que o celular de Mauro Cid se tornou um local para "lamentações".
"Registramos, ainda, que o ajudante de ordens, pela função exercida, recebia todas as demandas —pedidos de agendamento, recados, etc— que deveriam chegar ao presidente da República. O celular dele, portanto, por diversas ocasiões se transformou numa simples caixa de correspondência que registrava as mais diversas lamentações", diz o comunicado, que foi compartilhado pelo próprio Jair Bolsonaro através das redes sociais.
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Roteiro do golpe
O chamado roteiro do golpe foi encontrado no celular do tenente-coronel Mauro Cid, o ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro. Não se trata do mesmo documento que estava na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres. Os dois, no entanto, tem o mesmo entendimento (leia no final deste texto), revelado de saída pelo título deste mais recente e muito mais detalhado: “Forças Armadas como poder moderador”.
O plano, de acordo com a Veja, se sustenta numa tese controversa segundo a qual os militares poderiam ser convocados para arbitrar um conflito entre os poderes. Ele está contido em um relatório de 66 páginas produzido pela Diretoria de Inteligência da Polícia Federal reunindo material flagrado no celular de Mauro Cid.
Os peritos da Polícia Federal (PF) reviraram mensagens de WhatsApp, áudios, backups de segurança e arquivos armazenados. O resultado é claro e cristalino como água: a trama para um golpe de Estado.
E, nesta trama, estão incluídos até mesmo integrantes do alto escalão das Forças Armadas. Nos diálogos encontrados está um entre o coronel Jean Lawand Junior, então subchefe do Estado Maior do Exército, com Mauro Cid logo após a derrota de Bolsonaro nas urnas. O contato entre os dois era frequente e Lawand cobrou várias vezes o ex-ajudante de ordens para que o plano fosse colocado em prática.
“Cidão, pelo amor de Deus, cara. Ele dê a ordem, que o povo está com ele”, implorou o coronel na noite de 1º de dezembro. “Acaba o Exército Brasileiro se esses caras n??o cumprirem a ordem do Comandante Supremo”, completou, referindo-se aos generais que chefiavam a Forças Armadas e ao próprio Bolsonaro.
Lawand chega a prever, na mesma mensagem, uma futura prisão do então presidente. “Ele não pode recuar agora. Ele não tem nada a perder. Ele vai ser preso”, avisa o coronel, antes de acrescentar: “E pior, na Papuda, cara”. A resposta de Cid, porém, foi lacônica: “Mas o PR (presidente) não pode dar uma ordem se ele não confia no ACE (Alto-Comando do Exército)”.
Lawand voltou a falar no assunto no dia seguinte e relatou o encontro de “um amigo do QG” com o general Edson Skora Rosty, então subcomandante de Operações Terrestres, que teria anuído com a ofensiva. “Foi uma conversa longa, mas, para resumir, se o EB (Exército Brasileiro) receber a ordem, cumpre prontamente”, disse, antes de ponderar: “De modo próprio o EB nada vai fazer, porque será visto como golpe. Então, está nas mãos do PR (presidente)”.
Nove dias mais tarde, Lawand volta à carga: “se a cúpula do Exército não está com ele, da Divisão para baixo está”, garantiu Lawand. “Assessore e dê-lhe coragem. Pelo amor de Deus”, prosseguiu, mais uma vez em tom de súplica. Cid retrucou informando que havia “muita coisa acontecendo”, “passo a passo”. O coronel festeja: “Excelente!!!”
Lawand, que foi destacado pelo governo Lula para assumir o cargo de representante militar em Washington, nos Estados Unidos, afirmou à Veja ter uma relação de amizade com Cid, com quem conversava sobre “amenidades”. Ele disse não se lembrar de nenhum diálogo de teor golpista. O general Rosty também relatou que não se recordava de conversas do gênero.
Cid está preso desde o início de maio após uma operação da PF sobre fraudes em cartões de vacina, na qual seu telefone acabou apreendido.