CPI DO MST

Professor que esculachou deputada bolsonarista envia carta à CPI do MST

Vídeo do professor se utilizando de extrema sofisticação para rebater teorias conspiratórias da deputada viralizou nas redes sociais

Deputada Carol de Toni e o professor José Júnior.Créditos: Câmara dos Deputados
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Após a repercussão massiva nas redes sociais de seu diálogo com a deputada federal Caroline de Toni (PL-SC), o professor José Geraldo de Sousa Júnior, especialista em Sociologia do Direito e Direito Constitucional da Universidade de Brasília (UnB) enviou uma carta à CPI do MST e à própria deputada esclarecendo o episódio.

Na carta, o professor se mostrou incomodado com a interpretação geral de que tenha “humilhado” e “esculachado” a parlamentar. “Tenho a intenção de estabelecer aquilo que é a nossa luta histórica de ter um parlamento onde as diferentes concepções de mundo possam ser debatidas. Tratei a todos e fui tratado com respeito e consideração”, escreveu.

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O professor lamentou a forma como sua resposta viralizou. Na sua opinião, o clima de “lacração” que tomou conta da repercussão nas redes esconde o que seria essencial ao debate que propõe. “É preciso manter a intercomunicação, a troca civilizada de pontos de vista e a possibilidade de criar um espaço para fazer circular os argumentos”, afirma.

Por fim, o professor tenta explicar que não teve a intenção de ofender a parlamentar. No entanto a carta não se trata de um pedido de desculpas, mas de um esclarecimento de que a tratou com respeito. “Fui surpreendido com a repercussão que torna incidente no diálogo que mantive com ela uma indisposição de entendimento que está longe de mim. Mantenho todo o respeito que sua atuação parlamentar merece, mas que evidentemente traduz contraposições e contracepções de mundo, de sociedade, de justiça e de direito”, concluiu.

O que aconteceu

Uma cena épica ocorrida na tarde da última quarta-feira (14) na Câmara dos Deputados, numa sessão da CPI do MST, já entrou para a história como um dos maiores esculachos dados em figuras bolsonaristas diante da cachoeira de impropérios e groselhas que a bancada de extrema direita profere diariamente no Legislativo brasileiro. O autor da “obra de arte” foi o professor doutor de Direito da UnB (Universidade de Brasília), especialista em Sociologia do Direito e Direito Constitucional, José Geraldo de Sousa Júnior.

Em meio ao palavrório dos extremistas bolsonaristas, a deputada Caroline de Toni (PL-SC), sempre muito empolada e pouco eloquente, pediu a palavra e despejou um caminhão de clichês contra o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), encerrando sua grotesca participação sem sequer formular uma pergunta ao participante da sessão. O presidente da comissão, deputado federal Tenente-Coronel Zucco (Republicanos-RS), mesmo tendo percebido que não havia questionamento, passou a palavra para o professor José Júnior, que então resolveu dar uma breve declaração sobre a fala da jovem bolsonarista.

“Em respeito à deputada, porque na verdade ela não me fez pergunta nenhuma, né? Eu só queria dizer assim... Octavio Paz, em ‘O Labirinto da Solidão’, diz que quando (Cristóvão) Colombo chegou, (os indígenas) não viram as caravelas... Elas estavam ali fundeadas, mas não havia cognição para poder representar cerebralmente uma imagem que era absolutamente incompatível com o quadro mental de uma cultura que não tinha elementos para visualizar... Por isso que os gregos diziam que ‘teoria’ significa ‘aquele que vê’, o ‘teores’, é ‘aquele que vê’... A gente só vê o que tem cognição pra ver... Eu não tenho como discutir com a deputada porque a sua visão de mundo, a sua percepção como cosmovisão, só lhe permite enxergar o que a senhora já tem escrito na sua cognição... Então a senhora vai ver não é o que existe, mas é o que a senhora recorta da realidade... A realidade é recortada por um processo de cognitivo de historicização... Então, eu não posso discutir um tema que contrapõe visão de mundo, concepção de mundo, entendeu?”, falou, com certo bom humor.

A parlamentar reacionária permaneceu durante toda a intervenção fazendo caras e bocas que davam a entender que, de fato, ela não estava compreendendo nem mesmo o que o acadêmico falava.

Veja o vídeo