O empresário e ex-deputado estadual Tony Garcia, que vem fazendo graves acusações contra antigos integrantes da Lava Jato, segue revelando documentos que provariam que ele foi usado como agente infiltrado pelo ex-juiz e atual senador Sergio Moro (União-PR) para tentar levantar provas contra Lula e o PT durante a operação.
Garcia tem afirmado que foi coagido a realizar a mando de Moro uma série de atividades ilegais, como instalar escutas clandestinas em celas de presos da operação e instigá-los a dar declarações que incriminassem o presidente Lula, o PT e pessoas ligadas a ambos.
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Como primeira suposta prova documental das ilegalidades da operação, o empresário divulgou na madrugada de segunda-feira (12) uma sentença de Moro em que o ex-juiz faz elogios a ele e confirma que o ex-deputado "participou de diligências destinadas a colher provas".
"Dificilmente, lograria o Ministério Público ou a Justiça colher prova significativa desses fatos complexos sem o auxílio de Antônio Celso Garcia [NR.: nome de Tony Garcia], uma vez que este foi partícipe ou conhecia os fatos. Além disso, o acusado não só revelou os fatos, mas igualmente participou de diligências destinadas a colher provas a eles relativas", diz um trecho da sentença.
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Já nesta quarta-feira (14), Tony Garcia divulgou trecho de um depoimento que prestou em 2019 como testemunha de acusação contra o advogado Roberto Bertholdo.
"Deixo claro que tinha 'autorização' como agente provocador e infiltrado, levar Bertholdo para delação por ter acesso irrestrito ao acordo de Sergio Costa. Há gravação nos autos", escreveu Garcia junto a uma imagem que mostra parte da transcrição do depoimento.
No depoimento, de fato, o representante do MPF pergunta a Garcia se ele atuava como um "agente provocador", tal como havia sido descrito por Bertholdo em interrogatório, ao que o empresário responde afirmando que atuou para levar um advogado a fazer um acordo.
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Em outra postagem, Tony Garcia divulgou trecho de depoimento ao MPF em que fala sobre agentes da Polícia Federal e da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) ao seu dispor 24 horas por dia, como forma de tentar provar de que era mesmo um "agente infiltrado" por Moro para perseguir investigados da Lava Jato de maneira ilegal.
"Outra pequena amostra do envolvimento de agentes federais,PF e ABIN ao meu dispor 24h dia.Fui cobaia desses ALPINISTAS JURÍDICOS de seus métodos aprimorados na Lava Jato.Não dá para deixarmos por mais tempo esses esqueletos dentro dos armários", escreveu o empresário.
Confira o documento
A partir dessas supostas provas, Tony Garcia vem pedindo para que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) investigue ilegalidades da Lava Jato e pleiteia, também, a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara com o mesmo tema.
Por que Tony Garcia resolveu denunciar a ‘República de Curitiba’
Para explicar o que o levou a fazer as denúncias, Garcia se disse traído pelo ex-procurador Deltan Dallagnol. “Pergunta recorrente. Por que você trouxe as denúncias somente agora? Vou tentar ser o mais didático possível ao responder. Toda ação, enseja reação, e foi isso que se deu comigo. Tudo começou em 2018 quando a Força-Tarefa da Lava Jato queria a todo custo uma gravação de um empresário”, disse.
Tony Garcia então explicou que esse empresário era presidente de uma empreiteira que foi chantageada pelo chefe de gabinete do então governador Beto Richa, Deonilson Roldo, no gabinete do mesmo ao lado do gabinete do governador no Palácio Iguaçu. “Essa gravação foi feita com um celular IPhone 4 de minha propriedade que emprestei ao empresário. Somente eu tinha a gravação onde a higidez da prova era incontestável. Nem mesmo o empresário tinha uma cópia”, destacou.
Ele relata que ainda em 2013, fui ao MPF onde ficava a Força-Tarefa da Lava Jato. “Falei com o Carlos Fernando e Januário Paludo sobre a gravação. Disseram não poder atuar, visto ser o caso de alçada estadual e não federal. Ao saberem do conteúdo me alertaram que ali teria uma linha muito tênue entre o legal e o ilegal sobre minha atuação no caso concreto. Cinco anos após esse encontro, duas operações da Lava Jato em que estava envolvida a Odebrecht, a gravação passou a ser a cereja do bolo para chegarem ao Beto Richa. Deltan, sabendo o conteúdo bombástico da gravação, delegou ao Diogo Castor a missão de ‘caça ao Tony’”, contou.
“Eles tinham conhecimento de que eu havia procurado o Gaeco estadual espontaneamente onde fiz uma denúncia. Essa denúncia gerou um acordo, e o Deltan queria porque queria que eu entregasse a gravação ao Gaeco onde teriam prova ‘emprestada’. Irado, Deltan iniciou a retaliação determinando ao condomínio do prédio onde fica meu escritório a lista de todas as pessoas que acessaram meu andar e imagens de câmaras do mesmo. Ele achou que isso me intimidava, mas como nada tinha a me preocupar, ignorei. Impus uma condição para entregar a gravação ao MPF. Teriam que anuir em meu acordo com o Gaeco. Desesperado para ser protagonista na prisão do Beto e dos dois maiores empresários do Paraná, Deltan concordou e meu advogado foi ao MPF entregar a gravação mediante anuírem. Foi recebido por Deltan, Carlos Fernando, Januário Paludo e Diogo Castor. Deltan se dirigiu ao meu advogado dizendo que ele poderia ‘confiscar’ o pen drive e não assinar nada. Foi contido pelo Carlos Fernando por se tratar de um incidente grave que poderia anular a prova. Deltan, após prender o Beto, determinou que outro procurador pedisse a quebra de meu acordo já transitado em julgado em 2008 como forma de retaliação por tê-lo enfrentado. A soberba e a vaidade fizeram com que cometesse esse ato de deslealdade me proporcionando a reação”, concluiu o empresário.