ESCÂNDALO

Homem de confiança de Bolsonaro, Mauro Cid fez jogo duplo para resgatar joias sauditas

Ao mesmo tempo em que tomava providências considerando os itens como se fossem de destinação pública, o tenente-coronel tratou as joias como presente pessoal para o ex-presidente

Bolsonaro e Cid.Créditos: Reprodução/Presidência da República
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Os depoimentos de testemunhas à Polícia Federal (PF) sobre o escândalo das joias sauditas de R$ 16,5 milhões, que foram retidas pela Receita Federal, apontam que o tenente-coronel Mauro Cid, homem de confiança de Jair Bolsonaro (PL), tentou de todas as maneiras resgatar o conjunto de peças para entregar ao ex-presidente.

No final de dezembro de 2022, Cid providenciou os documentos exigidos junto à Receita Federal, prática necessária no caso de bens com destinação pública. O objetivo era retirar as joias da Alfândega.

Porém, ao mesmo tempo, o braço direito de Bolsonaro atuou internamente para que, após a saída das joias da Receita, os objetos fossem para o acervo privado do ex-presidente, de acordo com informações do blog de Octavio Guedes, no G1.

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Manobra fracassou em todas as frentes

Apesar do esforço do tenente-coronel, a manobra não deu certo. Durante os dias 28 e 29 de dezembro, o corpo técnico da Receita analisou o ofício assinado por Mauro Cid e chegou à conclusão que seria impossível atendê-lo, porque a Ajudância de Ordens, órgão chefiado por ele, não era a instância competente para realizar o pedido de incorporação das joias.

Isso deveria ser feito por outro órgão ligado à presidência: a Secretaria-Geral da Presidência da República. Essa forma, as joias continuaram retidas. 

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Então, na noite do dia 29 de dezembro, o 2º tenente do Exército, Cleiton Hozschuck, assessor na Ajudância de Ordens e abaixo de Cid, determinou a outra funcionária que ela apagasse o documento preparado mais cedo, no qual constava a informação de que o presente era “pessoal” que já “estava com o Presidente da República”

Em mensagem a Priscilla Esteves das Chagas de Lima, Hozschuck pediu a exclusão do documento. A funcionária, em depoimento à PF, confirmou a informação. 

Hozschuck disse a ela: "Com relação àquele ofício que a gente fez hoje, sobre esses presentes do PR [Presidente da República], ainda bem que eu não assinei! Porque deu uma 'zica' lá e o Jairo [Jairo Moreira da Silva – sargento da Marinha] não conseguiu pegar esse material, tá certo?".

"Então, ele [Jairo] tá voltando hoje à noite sem o material, beleza? Aí, na segunda-feira, a gente tem que ver aí como é que faz pra excluir aí o ofício, excluir a documentação que a gente fez com relação ao recebimento desse material, beleza?", emendou, recebendo a resposta da secretaria: "Eita. Eu excluo é tranquilo (SIC). Como não tramitou eu mesmo excluo". "Blz", respondeu ele.