ESCLARECIMENTO

General Dias diz em depoimento à PF que houve “apagão da inteligência” durante ato golpista

O ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional prestou depoimento à Polícia Federal nesta sexta

General Dias diz em depoimento à PF que houve “apagão da inteligência” durante ato golpista.Créditos: GSI
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O general Gonçalves Dias, que foi exonerado do comando do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) nesta quarta-feira (19) após divulgação de novas imagens do ataque golpista, prestou depoimento à Polícia Federal (PF), em Brasília, nesta sexta-feira (21). 

Em seu depoimento, Dias afirmou que houve "apagão de inteligência" no dia 8 de janeiro e que foi não informado sobre o ato organizado pelos bolsonaristas radicais e golpistas. 

"Que indagado se o declarante entende se houve apagão da inteligência, respondeu que acredita que houve um 'apagão' geral do sistema, pela falta de informações para tomadas de decisões", diz trecho do documento da PF ao qual a Globo News teve acesso. 

O general Dias também revelou que foi não informado sobre a manifestação bolsonarista que ocorreria no dia 8 de janeiro. 

"Que não tem conhecimento a respeito de ações radicais que ocorreriam em manifestação na cidade de Brasília entre 6 e 8 de janeiro", declarou Dias à PF. 

 

Prisão dos golpistas 

 

O militar também foi questionado sobre o fato de não ter prendido ninguém. "Que indagado porque, no 3º e 4º piso, conduziu as pessoas e não efetuou pessoalmente a prisão, respondeu que estava fazendo um gerenciamento de crise e essas pessoas seriam presas pelos agentes de segurança no 2º piso tão logo descessem, pois esse era o protocolo". 

Além disso, Dias também justificou que, sozinho, não conseguiria prender os militantes golpistas. 

"Que o declarante não tinha condições materiais de, sozinho, efetuar prisão das 3 pessoas ou mais que encontrou no 3º e 4º andares, sendo que um dos invasores encontrava-se altamente exaltado", revelou Dias. 

o ex-chefe do GSI também afirmou que se tivesse visto a cena do major Natale oferecendo água aos golpistas, teria dado voz de prisão ao militar. 

"Que indagado a respeito de o major José Eduardo Natale de Paula Pereira haver entregue uma garrafa de água a um dos invasores; que deve ser analisado pelas circunstâncias do momento os motivos do major, mas que, se tivesse presenciado, o teria prendido", disse.  

 

Dias: "depoimento é oportunidade para esclarecer os fatos"


O general Gonçalves Dias, que foi exonerado do comando do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) nesta quarta-feira (19), prestou depoimento nesta sexta-feira (21) na sede da Polícia Federal (PF), em Brasília. 

Depois de quase cincho horas de depoimento, o general DIas deixou a sede da PF e conversou com a imprensa. Para o militar, trata-se de uma "oportunidade para esclarecer os fatos". 

"O Comparecimento na sede da Polícia Federal é, para mim, uma grande oportunidade de esclarecer os fatos que têm sido explorados na imprensa", declarou Dias à Globo. 

Além disso, Gonçalves Dias afirmou que confia na "investigação e na Justiça". "Confio na investigação e na Justiça, que apontarão que eu não tenho qualquer responsabilidade seja omissiva ou comissiva nos fatos do dia 8 de janeiro", disse. 

O depoimento de Gonçalves Dias foi determinado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, relator do inquérito que investiga a tentativa de golpe perpetrada no dia 9 de janeiro. 

 

Novas imagens mostram que CNN manipulou vídeo de G. Dias 
 

Novas imagens sem cortes das câmeras de segurança que mostram a ação de terroristas no Palácio do Planalto no dia 8 de Janeiro mostram que a CNN Brasil manipulou o vídeo e pode ter distorcido fatos. 

Os vídeos sem edição da reportagem feita por Leandro Magalhães, ex-assessor do vice-líder do PP durante o governo Jair Bolsonaro (PL), foram divulgadas pela própria CNN que, em nota, repudiou "as insinuações do ex-ministro Gonçalves Dias sobre a reportagem que o levou à saída do Gabinete de Segurança Institucional (GSI)".

As imagens, no entanto, corroboram a narrativa de G. Dias de que entrou "no Palácio depois que foi invadido e estava retirando as pessoas do terceiro e quarto pisos para que houvesse a prisão no segundo piso”.

Na entrevista à Globo, o general, que pediu a exoneração do comando do GSI após a divulgação das imagens, diz ainda que sentiu revoltado com a forma como essas imagens foram publicadas pela CNN. Na sua opinião, os vídeos foram editados e manipulados para dar a entender que ele estaria ajudando os golpistas.

“Colaram a minha imagem àquela situação momentânea que acontecia ali, colaram a minha imagem àquele major que distribuía água aos manifestantes, fizeram um corte específico na produção dos vídeos que vocês viram", disse o militar.

 

Novas imagens


 
A íntegra das três câmeras de segurança, divulgadas pela própria CNN, mostra que realmente houve uma manipulação na reportagem, divulgada em meio à pressão de parlamentares bolsonaristas para instalação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre os atos terroristas no Congresso.

Nas imagens da Câmera 1, que mostram uma concentração de golpistas próximo ao gabinete presidencial - quando um deles pega um extintor e carrega para outra sala -, G. Dias surge por outro lado e caminha no local já sem manifestantes. A imagem também mostra o major do Exército José Eduardo Natale de Paula Pereira, remanescente da equipe de Augusto Heleno, que no vídeo editado aparece dando água aos bolsonaristas.

A câmera 2 mostra G. Dias andando pelas salas já sem manifestantes. O vídeo na íntegra ainda corrobora a versão do ex-chefe do GSI, que aparece retirando alguns terroristas da sala, que aparentemente descem para outro andar do palácio. Isso ocorre às 16h29.

A CNN ainda divulgou imagens entre as 16h31 e 16h42 da mesma câmera, quando espaço já está completamente evacuado. O vídeo mostra a movimentação de apenas alguns agentes do GSI e da Polícia do Planalto. G. Dias aparece rapidamente, ao fundo, novamente sozinho.

G. Dias, no entanto, pediu exoneração antes mesmo de Lula tomar uma decisão. No entanto, mais do que as imagens, o presidente teria ficado decepcionado com o subordinado por ele ter mentido sobre a existência das gravações.