Na reunião em que o então ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque, recebeu das mãos de autoridades sauditas o estojo de joias Chopard avaliado em R$ 16,5 milhões para entregar para o então presidente Jair Bolsonaro (PL), em novembro de 2021, o assunto “venda de ativos da Petrobras” foi tratado entre ele os representantes do reino árabe, que é o segundo maior produtor de petróleo do planeta. A informação está num telegrama ao qual o portal g1 teve acesso.
O documento, datado de 21 de novembro de 2021 e emitido pela embaixada do Brasil na Arábia Saudita para o Itamaraty, revela que no encontro entre os altos funcionários dos dois países, Albuquerque fez questão de frisar que “a Petrobras passa, no momento, por um processo de desverticalização e de alienação de seus ativos ‘downstream’, como parte de reformas do setor de energia que apontam para a crescente liberalização do mercado, no qual os entes estatais encontram limitações legais para intervir”.
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Também foi falado na reunião, da qual participava o homólogo saudita de Albuquerque, o príncipe Abdulaziz bin Salman bin Abdulaziz Al Saud, sobre uma futura entrada do Brasil para uma versão ampliada da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), a grande confraria das nações que mantêm gigantescas reservas deste recurso fóssil, onde a Arábia Saudita tem uma enorme influência.
Quem tocou no assunto foi o chefe da Assessoria Especial de Relações Internacionais do Ministério das Minas e Energia (MME), Christian Vargas, que teria questionado aos anfitriões, de acordo com o telegrama, a respeito “da compatibilização entre o setor de petróleo dos países da OPEP+ e o do Brasil, onde as companhias petroleiras são de capital aberto”.
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Estojo de joias milionário
Numa visita oficial do ministro de Minas e Energia, à época do governo Bolsonaro o almirante Bento Albuquerque, à Arábia Saudita, um estojo com joias valiosíssimas (R$ 16,5 milhões) foi dado ao representante brasileiro por autoridades locais, com a orientação de entregá-lo ao então chefe de Estado brasileiro, como presente à sua esposa, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. Mais tarde, soube-se que havia também um estojo para o ocupante do Palácio do Planalto, com relógio, abotoaduras, anel e um item religioso.
O problema é que o estojo direcionado a Michelle, o mais valioso, que havia sido colocado na mochila de um assessor militar de Bento Albuquerque, foi confiscado pela Receita Federal na chegada dos brasileiros ao país, no final de outubro de 2021. A partir daí, uma verdadeira novela, com Jair Bolsonaro desesperado para recuperar as joias, passou a ocorrer.
O Estadão publicou detalhes minuciosos daquela que teria sido a última tentativa do então presidente de recuperar a verdadeira fortuna “dada” a ele e à esposa, mas que não poderia ficar em suas mãos, por questões legais, e que ficou retida na Alfândega do Aeroporto Internacional de São Paulo.
Marco Antônio Lopes Santanna, um servidor da Receita Federal do Brasil, foi informado de que uma “visita em caráter de urgência” acabava de chegar à Base Aérea de Guarulhos, anexa ao aeroporto de Cumbica, local onde ele é lotado. Eram 18h10 de 29 de dezembro de 2022.
O “visitante” acabara de chegar num avião da Força Aérea Brasileira (FAB) e vinha tratar com ele de uma “demanda do senhor presidente da República”. Era o sargento da Marinha Jairo Moreira da Silva, um ajudante de ordens muito próximo do então presidente Jair Bolsonaro e de sua total confiança.
O marinheiro se apresentou a Marco Antônio, explicou o caráter extraordinário e urgente que o fez sair de Brasília e ir até São Paulo numa aeronave militar, paga com dinheiro público, por determinação do chefe de Estado. Ele foi objetivo com o funcionário da Receita Federal: “vim retirar um material retido na Alfândega” e mostrou-lhe o celular.
Na tela do aparelho aparecia um documento com o nome do secretário da Receita Federal na gestão de Bolsonaro, Julio Cesar Vieira Gomes, e estaria relacionado ao Termo de Retenção de Bens do estojo de joias caríssimas apreendidos mais de um ano antes com o assessor do ministro Bento Albuquerque, que deveria ter sido entregue nas mãos de Jair Bolsonaro.
Marco Antônio, o servidor da Receita Federal, afirmou que não entregaria qualquer bem ao militar, argumentando desconhecer aquela “ordem” vinda do presidente e explicando ao ajudante de ordens que o tal documento mostrado na tela do celular era destinado ao secretário da Receita Federal e não a ele.
Jairo, o marinheiro, pegou o celular e ligou, então, para alguém que ele apenas chamava de “coronel”. Depois de muito papo, o militar da Marinha disse a Marco Antônio que “o coronel” queria falar com ele, mas o funcionário público recusou o diálogo e disse que não tinha coisa alguma para tratar pelo telefone.
Já sem paciência e sem conseguir avançar na “missão” de levar o estojo com as joias, Jairo foi “direto e claro” com o servidor da Receita Federal e disse que “estava ali naquele horário e data” por determinação “do presidente da República”, para retirar o tal objeto apreendido “porque estava próximo do período de passagem do governo” e que "não poderia ficar nada lá” que “fosse do antigo presidente para o novo”.
Passados alguns minutos, o telefone do militar da Marinha tocou e era o “alinhado” secretário da Receita Federal, Vieira Gomes. “Seu chefe quer falar com você”, disso o ajudante de Bolsonaro. Marco Antônio pegou o telefone, falou com seu superior e reiterou: “não vou entregar nada!”.
Ele pediu então para que “o chefe” ligasse para o delegado da Alfândega de Guarulhos, Fabiano Coelho.
O militar da ajudância de ordens de Bolsonaro ficou alguns minutos lá, supõe-se que para esperar um retorno com a ligação do delegado da Alfândega de Guarulhos, ou então uma nova ligação do secretário da Receita Federal. Entretanto, não houve qualquer nova chamada telefônica e o militar foi embora sem falar nada, desistindo de regressar a Brasília com as joias.