GOLPE MILITAR

31 de março: militares comemoram golpe, apesar do general Tomás Paiva ameaçar punição

Após quatro anos sendo comemorado por Bolsonaro, governo Lula vai calar sobre a data, mas criticar duramente a ditadura

Lula e Tomás Paiva.Créditos: Ricardo Stuckert
Escrito en POLÍTICA el

O comandante do Exército, general Tomás Paiva, afirmou a interlocutores que a Força punirá os oficiais que comemorarem o aniversário do golpe militar nesta sexta-feira (31) ou participarem de eventos organizados por militares da reserva.

Apesar disso, há indícios de eventos e até mesmo alguns artigos tanto no Clube Militar quando no Defesanet.

O Clube Militar, formado por integrantes da reserva, promoverá um almoço, no Rio de Janeiro, para celebrar o golpe de 1964.

O evento, convocado sob a alcunha de "Movimento Democrático de 1964", terá ingresso a R$ 90 e será restrito a sócios e convidados. Generais ouvidos pela Folha afirmam que não é rara a presença de oficiais da ativa em eventos do Clube Militar, especialmente pelo fato de reservistas terem familiares na ativa.

No Defesanet, o General de Brigada Maynard Marques de Santa Rosa publicou nesta quinta-feira (3), o artigo “31 de MARÇO de 1964 – PATRIOTISMO, DECISÃO e CORAGEM”, assim mesmo em letras garrafais. Nele, o general avisa que “a memória de 1964 permanece tão presente quanto reprimida pela insegurança dominante. A tentativa que se faz de suprimir parte da História imita a prática do regime estalinista, durante os expurgos da década de 1930” (Sic).

“Provado está que uma ideia só pode ser superada por outra ideia melhor. E, ainda, não há substituto para o ideário de 1964, que começou com o movimento tenentista dos anos 1920, ficou represado no Estado Novo e desaguou no dia 31 de março, concretizando o anseio por um país soberano, moderno e próspero, uma sociedade livre, justa e fraterna”, prossegue o general.

Em tom um tanto mais b, mas mesmo assim laudatório, o General Gilberto Pimentel, ex-presidente do Clube Militar, publicou no site da entidade um artigo em que defende o golpe militar:

“Asseguro, pois, aos "críticos", a maioria nem nascida à época, que não somos nós os que distorcem a história. 31 de Março é uma data para ser lembrada, sim. Uma data de profunda reflexão para todos os que amam a Liberdade e a Democracia e repudiam os regimes autoritários”, escreveu.

Governo Lula

O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, afirmou aos comandantes da Forças Armadas que não será divulgada nenhuma ordem do dia sobre a ditadura miliar. Integrantes da cúpula do Ministério da Defesa afirmam, sob reserva, que a ordem é ignorar a data. Esta foi a forma encontrada de evitar crises tanto com os militares quanto com o governo.

O silêncio é o meio-termo entre as comemorações à data, feitas nos últimos quatros anos sob o governo Jair Bolsonaro (PL), e a divulgação de comunicado em repúdio ao golpe militar, que, na avaliação da Defesa, poderia desgastar a relação de Múcio especialmente com oficiais de baixa patente.

Ministério da Defesa

O Ministério de Direitos Humanos também não emitirá nenhum comunicado em repúdio ao golpe militar no dia de seu aniversário.

Mas, ao mesmo tempo, organizou nos últimos dias a "Semana do Nunca Mais", programação com uma série de agendas voltadas à preservação da memória, da verdade e da justiça sobre o período da ditadura.

O ápice da semana foi a primeira sessão da Comissão de Anistia, nesta quinta, quando o colegiado reverteu pedidos de indenização negados pelo governo Bolsonaro, em julgamentos considerados injustos.

"Rechaçar os crimes e as violações de direitos humanos ocorridos na ditadura civil-militar brasileira não significa, portanto, criticar as Forças Armadas, mas apontar para um período da história que todos, sem exceção, devem deixar para trás", afirmou o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, durante o evento.

"E isso não se dará silenciando sobre este período, mas conhecendo-o profundamente para que não deixemos que se reproduza no presente, como hoje o faz por lamentáveis atos de violência e ameaças contra cidadãos e instituições democráticas", prosseguiu.

O ministério articula agora o retorno da Comissão de Anistia e a recriação da Comissão de Mortos e Desaparecidos, extinta por Bolsonaro.

EBC

A EBC (Empresa Brasil de Comunicação) planejou programação especial contra a ditadura nesta semana. A emissora vai exibir filmes e organizar debates sobre o "verdadeiro caráter ditatorial do golpe militar de 1964", segundo um de seus avisos.

"Entendemos que é importante que os que não viveram este período da história do Brasil conheçam os males causados pelos regimes autoritários e entendam os benefícios da democracia", disse a EBC em nota.

Com informações da Folha