O presidente da Câmara de Sinop, o bolsonarista Paulinho Abreu (PL), postou uma foto em uma piscina, com uma garrafa de cerveja ao lado no dia 21 de fevereiro, exatamente uma hora e meia depois da chacina que tirou a vida de sete pessoas na sua cidade.
É possível saber o horário do post inspecionando o código HTML do perfil dele no Instagram. A postagem foi feita exatamente no dia 21/02, 19:02, hora de Brasília, 22:02, horário GMT “Greenwich Mean Time”. No momento em que Abreu fazia esse post ostentação nas redes, as sete pessoas, inclusive uma criança de 12 anos, já tinham sido assassinadas. A chacina ocorreu às 17h30 e a notícia já circulava fortemente na cidade.
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"Das duas uma, ou o presidente da Câmara é incompetente e mal informado, por ainda não ter conhecimento do crime ou é mesmo um canalha, por saber e, assim mesmo, postar tal imagem", afirma o editor da Fórum, Renato Rovai, que acrescenta: "imaginando que ele não sabia, o mínimo que teria de ter feito era apagado a foto num momento de imensa dor que chocou o país inteiro numa cidade onde ele é presidente da Câmara".
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Ataques ao jornalista da Fórum
Sem saber da foto do vereador e muito menos sem citá-lo e em meio a emoção dos vídeos que circulavam da chacina, o editor da Fórum fez uma fala criticando a cultura dos CACs (o assassino era um CAC) no programa Fórum Onze e Meia da TV Fórum e também contou a história da criação de Sinop e Sorriso nos anos da ditadura militar. Sem generalizar, apontou que as ocupações dessas cidades foram um projeto violento da ditadura nos anos do general João Figueiredo para a expansão da produção de soja.
Depois disso, o vereador Paulinho Abreu apresentou uma moção de repúdio, no dia 27/02, durante a 3º Sessão Ordinária da Câmara Municipal de Sinop, contra o jornalista e diretor da Revista Fórum, Renato Rovai, e ameaça acionar o Ministério Público contra o jornalista por "atingir a honra dos cidadãos sinopenses e sorrisenses". A moção também é assinada por outros oito vereadores que querem punição para quem criticar Sinop, pedindo "medidas legais e cabíveis, que terão por fito coibir e penalizar malfeitores que maculam nossa região".
O vereador ainda usou sua conta do Instagram para fazer pelo menos dois ataques ao jornalista, dando um espaço muito maior a ele do que à própria chacina. Sobre a chacina Paulinho Abreu fez apenas um post burocrático onde pedia aos seus seguidores que curtissem e compartilhassem dizendo que confiava nas forças policiais.
Mais atenção ao jornalista que à chacina
Rovai destaca que “além de distorcer minhas palavras o vereador que é presidente da Câmara fez mais pra me atacar do que pra investigar esse crime nefasto que vitimou entre os sete assassinados uma menina de 12 anos”.
“A gente vai ter que enfrentar essas pessoas sim. Não é com bala nem na porrada. Não sou CAC, não venho dessa origem. A discussão vai ser no debate democrático, mas nós vamos ter que tirar as armas deles. Não vou me intimidar com um filhinho de deputado que se elegeu vereador e vem me ameaçar com nota de repúdio e tentar me colocar contra uma cidade inteira. Inclusive, como já disse, deturpando e descontextualizando o que disse, inclusive, e me colocando como alvo do ódio de gente como os que mataram as sete pessoas em Sinop”, diz Rovai, que também registra que seu comentário foi mais duro nesse dia porque dois meses antes havia sido ameaçado por telefone por gente que se dizia ser de Sinop. "Na ocasião encaminhei todas as ligações para assessores do ministro Alexandre de Moraes."
O que diz o advogado
O advogado da Fórum, Rodrigo Valverde, sustenta que "o trecho que foi veiculado e as aspas que constam da moção de repúdio realizada por alguns vereadores da Câmara Municipal de Sinop são distorções da fala de Rovai e ocorreram em um momento de alta emoção, dado que havia acabado de ver o vídeo da chacina. E o Rovai faz duras críticas ao ocorrido e a apenas uma parcela da população da cidade, jamais generalizando”.
Valverde ressalta ainda que “inclusive, na mesma oportunidade, ele reconhece que poderia ter se expressado melhor e faz questão de não direcionar sua crítica a todos os cidadãos e cidadãs de Sinop, e também de Sorriso. O evento foi estarrecedor e, sob a perspectiva do amplo exercício da liberdade de crítica e de expressão, não só pode como deve ser duramente condenado, como fez o jornalista”.
Bolsonarista
Paulinho Abreu é bolsonarista de carteirinha. Já concedeu título de “Cidadão Sinopense” para o empresário Luciano Hang, além de participar intensamente de campanhas do ex-presidente. Veja abaixo: