O juiz Eduardo Appio, da 13ª Vara Federal de Curitiba e atual titular da Operação Lava Jato, enviou ofício nesta quarta-feira (29) ao diretor do Fórum Federal onde relata estar sofrendo ameaças desde que tomou o depoimento do advogado Rodrigo Tacla Duran na segunda (27), e solicitou medidas de proteção e segurança. Durante o depoimento, Duran fez graves acusações de tentativa de extorsão contra o ex-juiz Sergio Moro e o ex-procurador Deltan Dallagnol.
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Entre as medidas de proteção e segurança solicitadas por Appio está o fornecimento de um carro blindado, de uma pistola Beretta e o apoio tático da Polícia Federal no controle de entrada e saída do prédio onde trabalha. Appio diz estar sofrendo uma onda de ameaças mas não as detalhou.
“Sinto-me ameaçado pelas declarações dos envolvidos, os quais têm grande poder político e econômico”, escreve Appio, sem citar nomes. No entanto, é de conhecimento público que tanto Moro como Dallagnol reagiram de forma a atacá-lo após o depoimento.
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Appio, que assumiu a Operação Lava Jato após longos anos em que Moro esteve à cabeça, é um crítico das práticas dos seus antecessores. Já existe um histórico de críticas e animosidades entre ele, Moro e Dallagnol.
Dessa vez, logo após o depoimento de Tacla Duran, o ex-procurador e atual deputado federal pelo Podemos-PR, Deltan Dallangol, chegou a esbravejar contra a atuação do juiz nas redes sociais. Em uma sequência de postagens, jogou o juiz aos “leões” do bolsonarismo, chamando-o de midiático e lulista.
"Adivinha quem acreditou num dos acusados que mais tentou enganar autoridades na Lava Jato? Ele mesmo, o juiz lulista e midiático Eduardo Appio (mais conhecido como LUL22), que nem disfarça a tentativa de retaliar contra quem, ao contrário dele, lutou contra a corrupção", escreveu o ex-coordenador da Lava Jato.
Já o ex-juiz e atual senador pelo União Brasil-PR, Sergio Moro, que havia se calado sobre o episódio, quebrou o silêncio na última terça-feira (28) quando entrou com uma ação para impedir que o caso chegue ao Supremo Tribunal Federal e pediu a suspeição de Appio.
Em seu depoimento, Duran, que é acusado de ter praticado lavagem de dinheiro para a Odebrecht quando trabalhava para a construtora, acusou Dallagnol e Moro de estarem envolvidos em um caso de extorsão do qual foi vítima. Diante das acusações e pelo fato de ambos os citados serem parlamentares, o juiz Eduardo Appio remeteu o caso para o Supremo Tribunal Federal (STF) e eles devem ser investigados pela Polícia Federal.
Acusações de Tacla Duran
De acordo com Tacla Duran, em 2016 o advogado Carlos Zucolotto Júnior teria exigido o pagamento 5 milhões de dólares para que pudesse obter benefícios em acordos de colaboração com a Lava Jato. Na conversa, feita por aplicativos de mensagens e da qual Duran alega ter capturas de tela, Zucolotto Júnior teria apontado que DD (Deltan Dallagnol) acertaria os termos do acordo. Cerca de um mês se passou até que Duran fizesse uma transferência de 613 mil dólares para o escritório de Marlus Arns.
Marlus atuava com Rosângela Moro em casos que envolviam a Apae e em processos relativos à chamada Máfia das Falências. Já Zucolotto era sócio da esposa de Moro e foi seu padrinho de casamento. Duran afirma que após a negativa em aderir ao esquema de extorsão, teria sido ameaçado por um outro delator, além de acusar o Ministério Público de utilizar subterfúgios para impedi-lo de prestar depoimentos.
“Com relação a Deltan Dallagnol e outros procuradores, inclusive coloquei na petição, que insistem em manter contatos extra conduto legal para continuar me perseguindo aqui na Espanha e em outros países. Ele se comunicava, tem provas nos autos, e tem uma questão de delator me ameaçando, por isso a urgência. Inclusive nessas trocas de mensagens foi comunicado que eu estava sendo ameaçado nos EUA por um relator. Precisa saber se o delator era a mando deles ou não, porque nada foi feito e as provas estão na própria petição”, denunciou.
Tacla Duran prossegue: “Fui testemunha em uma série de países onde há cooperação internacional sobre os casos da Odebrecht. Fui testemunha no Panamá, Argentina, Peru, Suíça, Andorra, vários países. É a primeira vez que sou ouvido no Brasil. Estou em causa própria nesse processo a um ano e pouco. E os subterfúgios processuais utilizados até agora para que eu não fosse ouvido são diversos”, relatou.
Duran também afirmou que tem de responder uma série de processos sobre o mesmo fato em cinco países diferentes como forma de perseguição por não ceder às pressões para extorsão. Ele vive na Espanha atualmente e prestou seu depoimento por vídeochamada.
“O processo penal no Brasil tem dois objetivos: a repatriação e a execução penal. O doutor foi contra a minha repatriação e a favor de me processar na Espanha, ao mesmo tempo em que tenta me citar. Eu realmente não sei o que o Ministério Público quer além de me perseguir. Fui processado pelo mesmo fato em 5 países, por uma simples questão de vingança, por eu não aceitar a extorsão. E porque eu não aceitei ser extorquido e, para falar no linguajar de cadeia que ele gosta, ‘arregado’, eu fui perseguido e sou até hoje", afirmou.
No momento da denúncia, o juiz interrompeu a audiência e enviou o caso para o Supremo Tribunal Federal, uma vez que dois dos citados, Dallagnol e Moro, agora são parlamentares. O caso deve ser investigado pela Polícia Federal e Tacla Duran terá seu nome encaminhado para o Programa Federal de Proteção a Testemunhas, uma vez que Appio entendeu que envolve acusações contra pessoas que possuem "grande poderio político e econômico".
“Diante da notícia crime de extorsão, em tese, pelo interrogado, envolvendo parlamentares com prerrogativa de foro, ou seja, o deputado Deltan Dallagnol e o senador Sergio Moro, bem como as pessoas do advogado Zucolotto e do dito cabo eleitoral Fábio Aguayo, encerro a presente audiência para evitar futuro impedimento, sendo certa a competência exclusiva do Supremo Tribunal Federal, na pessoa do ministro Ricardo Lewandowski”, despachou.