LAVA JATO

Quem é Tacla Duran, que acusa Sergio Moro e Deltan Dallagnol de extorsão

Vivendo na Espanha, o advogado foi uma das primeiras pessoas a denunciar as práticas criminosas da Lava Jato

Quem é Tacla Duran, que acusa Sergio Moro e Deltan Dallagnol de extorsão.Créditos: Reprodução
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O advogado Rodrigo Tacla Duran, acusado de ter praticado lavagem de dinheiro para a Odebrecht quando trabalhava para a construtora, foi ouvido nesta segunda-feira (27) pela 13ª Vara Federal de Curitiba, por meio do juiz Eduardo Appio. 

Em depoimento, denunciou o ex-juiz da mesma vara e hoje senador Sergio Moro e o ex-procurador e hoje deputado federal Deltan Dallagnol de estarem envolvidos em um caso de extorsão do qual foi vítima. Ao final do depoimento, Appio decidiu enviar a acusação para o Supremo Tribunal Federal (STF), onde será investigada pela Polícia Federal.

De acordo com Tacla Duran, em 2016 o advogado Carlos Zucolotto Júnior teria exigido o pagamento 5 milhões de dólares para que pudesse obter benefícios em acordos de colaboração com a Lava Jato. Na conversa, feita por aplicativos de mensagens e da qual Duran alega ter capturas de tela, Zucolotto Júnior teria apontado que DD (Deltan Dallagnol) acertaria os termos do acordo. Cerca de um mês se passou até que Duran fizesse uma transferência de 613 mil dólares para o escritório de Marlus Arns.

 

A denúncia de Tacla Duran contra Moro 

 

No auge da Lava Jato, o advogado Rodrigo Tacla Duran, que trabalhou para a Odebrecht entre 2011 e 2016, acusa o advogado trabalhista Carlos Zucolotto Junior, amigo e padrinho de casamento do juiz Sergio Moro, de intermediar negociações paralelas dele com a força-tarefa da Operação Lava Jato. 

As conversas de Zucolotto com Tacla Duran envolveriam abrandamento de pena e diminuição da multa que o ex-advogado da Odebrecht deveria pagar em um acordo de delação premiada. Em troca, segundo Duran, Zucolotto seria pago por meio de caixa dois. O dinheiro serviria para "cuidar" das pessoas que o ajudariam na negociação, segundo correspondência entre os dois que o ex-advogado da Odebrecht diz ter em seus arquivos.

Tacla Duran foi acusado de lavagem de dinheiro e de formação de organização criminosa pelo Ministério Público Federal. O advogado tentou fazer delação premiada, mas as negociações fracassaram. Ele teve a prisão decretada por Moro. Chegou a ser detido na Espanha em novembro de 2016. Em janeiro, foi libertado. O Brasil pediu a sua extradição, mas a Espanha negou –Tacla Duran tem dupla cidadania


Tacla Duran: "As pessoas precisam conhecer o lado obscuro de Moro"

 

Em 2018, já como ex-advogado da Odebrecht, Tacla Duran prestou um longo depoimento para a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. À época, Duran afirmou que "as pessoas precisam conhecer o lado obscuro de Sergio Moro".

Arrolado como testemunha de defesa do então ex-presidente Lula, Tacla Duran teve o seu depoimento rejeitado cinco vezes por Moro. Duran, antes mesmo de o ex-juiz ser condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) como juiz suspeito por atuar com parcialidade, alertava para os métodos do magistrado. 

“Moro emite opinião contra réu. Isso é pré-julgamento que viola um princípio básico de direitos humanos, pois os julgamentos precisam ser técnicos, isentos e imparciais. O dr. Moro me ofendeu em rede nacional, ao vivo, me prejulgou e me condenou. Ele feriu a Lei da Magistratura também por não me ouvir como testemunha do presidente Lula”, disse Tacla Duran na Comissão, em 2018. 

Em seguida, ele afirma que, mesmo tendo se apresentado de livre e espontânea à força tarefa da Lava Jato, sempre foi tratado como criminoso. “Desde 2016, quando me apresentei à força-tarefa da Lava Jato para dizer que era advogado da Odebrecht, sou tratado como criminoso. Nunca apresentaram provas contra mim. Aqui na Espanha já arquivaram acusações contra mim por falta de provas. A operação Lava Jato se tornou um polo de poder político capaz de moer reputações, de destruir empresas e instituições. Digo isso com tranquilidade, pois jamais fui filiado ou militei em qualquer partido político”, previu Tacla Duran. 

 

Vaza Jato endossa acusações de Tacla Duran contra Moro 

 

O nome de Tacla Duran voltaria a circular com a revelação das conversas de Moro e Dallagnol a partir da Vaza Jato. 

Um diálogo entre Sérgio Moro e Deltan Dallagnol, que teria acontecido no dia 31 de agosto de 2016, segundo o The Intercept, o juiz pergunta ao procurador se não estavam há muito tempo sem novas operações, e recebe a seguinte resposta: “É sim. O problema é que as operações estão com as mesmas pessoas que estão com a denúncia do Lula. Decidimos postergar tudo até sair essa denúncia, menos a op do taccla [Tacla Durán] pelo risco de evasão, mas ela depende de articulação com os americanos (que está sendo feita)”. 

Em entrevista ao portal UOL, o advogado conta que decidiu fugir do Brasil após a extorsão que sofreu por parte de pessoas ligadas à Lava Jato. Ele assegura: “paguei para não ser preso”, e indica que o valor foi pago em partes. A primeira parte, US$ 613 mil, teria sido entregue ao advogado Marlus Arns. O valor total desembolsado por Tacla Durán para escapar da prisão, segundo seu testemunho ao UOL, seria de 5 milhões de dólares. 


Dario Messer: doleiro confirma denúncia de Tacla Duran contra Moro 


 
Em conversa interceptada pela Polícia Federal, o doleiro Dario Messer confirma a denúncia do ex-advogado da Odebrecht, Rodrigo Tacla Durán, e diz que pagou propina para o procurador Januário Paludo para garantir uma blindagem nas investigações da Lava Jato. 

Os diálogos de Messer com a namorada, Myra Athayde, ocorreram em agosto de 2018 e descrevem um esquema de pagamento mensal de propina ao procurador, que dá nome ao grupo de Telegram - Filhos de Januário - da força-tarefa, como revelado pela série de reportagens da Vaza Jato.

Na conversa com a namorada, Messer, que é chamado de "doleiro dos doleiros" fala sobre os processos a que responde e cita reunião de uma das testemunhas de acusação contra ele com o procurador. "Sendo que esse Paludo é destinatário de pelo menos parte da propina paga pelos meninos todo mês". Segundo a PF, os meninos de Messer são Claudio Fernando Barbosa de Souza, o Tony, e Vinicius Claret Vieira Barreto, o Juca, que trabalharam com ele em esquemas de lavagem de dinheiro investigados pela Lava Jato e viraram delatores depois que foram presos. Em depoimento, os "meninos" disseram ter pago US$ 50 mil (cerca de R$ 200 mil) por mês ao advogado Antonio Figueiredo Basto em troca de proteção a Messer na PF e no Ministério Público.

Como se vê, o depoimento de Tacla Duran tem tudo para provocar um novo terremoto na vida de Sergio Moro e Deltan Dallagnol.