PRISÃO À VISTA?

Além de cassação, vereador de Caxias do Sul vira alvo da PF por acusar ministro do STF de orgia com crianças

O ministro da Justiça, Flávio Dino, tomou conhecimento de declaração de Sandro Fantinel feita em 2022

Vereador Sandro Fantinel em fala xenofóbica contra nordestinos no plenário da Câmara de Caxias do Sul.Créditos: Reprodução
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O vereador Sandro Fantinel (sem partido), de Caxias do Sul (RS), além do processo de cassação aberto pela casa legislativa por declaração xenófoba contra baianos vítimas do trabalho análogo à escravidão, deve se tornar alvo da Polícia Federal e até mesmo ser preso devido a outra fala, feita em outra ocasião. 

Em sessão ordinária no dia 17 de novembro de 2022, em meio à intensificação dos ataques de bolsonaristas ao Supremo Tribunal Federal (STF) após a vitória eleitoral do presidente Lula, o vereador, em plena Câmara, reproduziu uma fake news absurda que circulava entre os radicais: a de que um ministro da Corte teria "participado de orgia com crianças".

"Um ministro do Supremo Tribunal Federal participou de orgia com crianças fora do Brasil. Como é que um cara desse vai permitir que sejam criadas leis mais severas pra quem comete esse crime aqui dentro? A vergonha começa lá em cima. A gente sempre tirou exemplo pelos nossos pais quando a gente era criança. E o povo tira o exemplo das nossas autoridades", disparou na ocasião. 

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Nesta quinta-feira (2), o ministro da Justiça, Flávio Dino, tomou conhecimento da fala do bolsonarista e anunciou que vai encaminhá-la à Polícia Federal

"Um agente político (vereador do RS) afirma que um ministro do STF participou de “orgia com crianças”. Enviarei hoje o discurso à apreciação da Polícia Federal, já que se cuida de crime contra autoridade federal. Seguimos lutando todos os dias contra mentiras e agressões", anunciou Dino através das redes sociais. 

Cassação

O vereador Sandro Fantinel, que usou a tribuna da Câmara Municipal de Caxias do Sul (RS) na terça-feira (28) para atacar com xenofobia trabalhadores baianos vítimas do trabalho escravo, deve ser cassado em até 90 dias. Em sessão ordinária nesta quinta-feira (2), a casa legislativa aceitou por unanimidade 4 pedidos de cassação contra o bolsonarista que haviam sido protocolados. 

Em sua discurso na terça-feira, Fantinel relativizou o escândalo dos mais de 200 trabalhadores - a maioria da Bahia - resgatados em situação análoga à escravidão em uma empresa terceirizada que oferecia mão de obra para as vinícolas Salton, Aurora e Cooperativa Garibaldi, em Bento Gonçalves (RS), e afirmou que os nordestinos, a quem ele se referiu como os "lá de cima", seriam "sujos", sugerindo que as empresas gaúchas do ramo contratem apenas argentinos. 

Ao aceitar os pedidos de cassação, a Câmara de Caxias do Sul criou uma comissão processante que terá até 90 dias para proferir uma decisão definitiva. Farão parte deste grupo os vereadores Felipe Gremelmaier (MDB), Tatiane Frizzo (PSDB) e Edi Carlos Pereira de Souza (PSB). 

Na quarta-feira (1), o Patriota, que até então era o partido de Fantinel, decidiu expulsar o bolsonarista de seus quadros. Em nota para anunciar a expulsão, a legenda informou que o discurso do vereador foi "desrespeitoso e inaceitável" e "está maculado por grave desrespeito a princípios e direitos constitucionalmente assegurados, à dignidade humana, à igualdade, ao decoro, à ordem, ao trabalho".

Além do processo de cassação, Fantinel é alvo de investigação do  Ministério Público do Trabalho (MPT) do RS por apologia ao trabalho escravo.