Em entrevista ao Fórum Café desta sexta-feira (10), a deputada estadual Laura Sito (PT-RS), que é presidenta da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, fez novas relações sobre as condições desumanas dos trabalhadores que foram resgatados em situação análoga à escravidão em alojamento de uma terceirizada (Oliveira & Santana), que prestava serviço para a Salton, Garibaldi e Aurora.
"O alojamento não foi fechado em momento algum. Tinham vários trabalhadores que continuavam nesse alojamento, porque a eles não foi caracterizado trabalho análogo à escravidão, apenas trabalho precário. Então eles continuavam lá, em outras partes do prédio que não tinham condições muito melhores do que essas [das que foram reveladas]", diz Laura Sito que visitou o local de onde foram resgatados os trabalhadores.
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A parlamentar também revela que, ao chegar para fazer a visita ao alojamento, se deparou com vans levando trabalhadores. "Nesse mesmo local, que eles chamam de alojamento, mas que serviu de cativeiro, ele também serve para abrigar trabalhadores de outras empresas terceirizadas. Então essa não é a única empresa que opera naquele alojamento”, revela.
Além disso, a deputada conta que, a partir de conversas com vizinhos do alojamento, foi possível tomar conhecimento do funcionamento diário do local e do chamado "mercado para baianos", onde os trabalhadores faziam compras.
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"Conversei com vizinhos que me deram relatos do tempo de funcionamento, da dinâmica de como era o mercado que, apenas na semana passada foi fechado, o ‘mercado só para baianos’. Sendo que os relatos dos vizinhos é que, mesmo ele estando fechado, continuou vendendo. O que acontecia: os salários que eram ofertados variavam de R$ 1.700 a R$ 2.000. Desse valor, segundo os testemunhos, R$ 400 eram em vale alimentação neste ‘mercado só para baianos’", conta.
"Nesse mesmo mercado, um saco de feijão custava R$ 22. As coisas eram superfaturadas. Eles também podiam pedir adiantamento para essa empresa: a cada R$ 100, eles pagavam R$ 150, então, tinha uma agiotagem no adiantamento salarial. Isso criava uma cena de que os trabalhadores ficavam o tempo todo devendo. Além de todos os testemunhos de agressões física e psicológicas", diz Laura Sito.
A situação de total insalubridade também era uma marca do local. "Não era oferecido produtos de higiene e lençóis. Um dos relatos que nós recebemos pela comissão de Direitos Humanos é de um trabalhador que saiu de lá há quase dois anos e ele nos disse o seguinte: quando ele esteve lá tinham cerca de 450 homens naquele prédio", diz.
Laura Sito também comentou a fala do vereador de Caxias do Sul, Sandro Fantinel (sem partido), que saiu em defesa das vinícolas e atacou os trabalhadores resgatados com expressões xenófobas e racistas. Para a parlamentar, a declaração de Fantinel revela um sistema de tráfico humano no Brasil.
"Nós estamos falando de uma rota de tráfico humano no Brasil e infelizmente o dono da empresa terceirizada [Pedro Oliveira Santana] está respondendo em liberdade. Quando o vereador fala 'vamos importar mão de obra argentina’, ele está se associando a uma ideia xenófoba e racista de que negros e nordestinos são vagabundos, mas também de uma ideia de se aproveitar da crise econômica que a Argentina vive para que se possa criar e fortalecer uma rota internacional de tráfico de pessoas. Em sua fala, ele explicitou não só uma concepção, mas também uma operação que é tratada de maneira natural naquele meio ambiente porque falta mão de obra. Sabe por que falta mão de obra? Porque as condições de trabalho e remuneração são terríveis”, afirma Laura Sito.
Confira abaixo a íntegra da entrevista com a deputada Laura Sito: