EXCLUSIVO

Marcos do Val tentou registrar como sua a marca "BOPE", quando o BOPE já existia havia quase 30 anos

Se bem sucedido, o homem que ficou conhecido em todo o Brasil como “instrutor da SWAT” poderia explorar comercialmente a marca BOPE, a mesma do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Rio de Janeiro

Marcos do Val presenteia o francês Alexandre Vigier com uma caveira do BOPE.Créditos: Reprodução
Escrito en POLÍTICA el

Quando já era dono do CATI, o Centro Avançado em Técnicas de Imobilização, no Espírito Santo, o hoje senador Marcos do Val (Podemos-ES) tentou registrar como sua a marca "BOPE" junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), ligado ao Ministério da Economia.

O pedido deu entrada em dezembro de 2007, através de um procurador. O processo recebeu o protocolo 90064421. Foi feito sob a rubrica de “serviços”, na categoria NCL 41, que “classifica marcas de educação, provimento de treinamento, entretenimento, atividades desportivas e culturais”. 

Pedido de Marcos do Val para registrar a marca BOPE como sua (Reprodução)

Se bem sucedido, o homem que ficou conhecido em todo o Brasil como “instrutor da SWAT” poderia explorar comercialmente a marca BOPE, a mesma do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Rio de Janeiro.

Além da palavra, Do Val teria direito sobre um símbolo com crânio, arma branca, armas de fogo, círculos e letras apresentando um grafismo especial – muito similar ao do BOPE carioca.

O BOPE foi criado em 19 de janeiro de 1978 para atuar em situações de extremo risco, como as que envolvem a tomada de reféns. Foi uma resposta à morte de um major da PM durante uma rebelião de presos, numa tentativa de resgate em penitenciária.

Enquanto o símbolo do BOPE – uma caveira sobre um punhal e duas pistolas – tem as cores vermelha, amarela e branca, o desenho requisitado por do Val como “marca” é todo preto.

O pedido coincidiu com o sucesso extraordinário de "Tropa de Elite", que colocou o BOPE no vocabulário e no imaginário nacionais. Ele deu entrada exatos 53 dias depois do lançamento nacional do filme, que àquela altura ainda lotava salas de cinema.

A tentativa de assumir o controle sobre uma marca pública foi rejeitada em 10 de novembro de 2009, com a alegação de violar o inciso quarto do artigo 24 da Lei de Propriedade Industrial.

Ele diz que não são registráveis “designação ou sigla de entidade ou órgão público, quando não requerido o registro pela própria entidade ou órgão público”.

Ou seja, apesar de o BOPE não ter registrado o próprio nome, isso é dispensável por se tratar de uma instituição pública.

Como Marcos do Val não recorreu da decisão, o pedido foi arquivado. Curiosamente, mais tarde, Do Val incluiria no seu currículo o fato de ter treinado atores que atuaram na sequência do filme, "Tropa de Elite II", lançada em 2010.

A tentativa de assumir a marca do BOPE faz sentido comercial e de marketing. Marcos do Val fez fama como assessor de segurança pública, apesar de não ter formação policial, como expôs a Fórum.

Apesar de ter feito carreira como instrutor de técnicas de imobilização, que teria desenvolvido a partir de uma arte marcial, ele se projetou aparecendo em programas de TV de alcance nacional, sempre ligado a uma certa “SWAT dos Estados Unidos”, que na verdade não existe.

A sigla é utilizada por unidades de polícia distintas, dedicadas a operações especiais, que podem ser de uma cidade, condado, estado ou de instituições federais.

Numa das aparições mais famosas, com Jô Soares, Marcos do Val entrou em cena com o estúdio na escuridão, acompanhado por dois colegas, carregando armas e lanternas. Um show cenográfico, ao som da música da antiga série de TV "SWAT".

Quando a Fox relançou a série, ele foi escolhido como o garoto propaganda no Brasil. A grande exposição midiática foi um dos motivos de seu sucesso eleitoral em 2018, conquistando a segunda vaga de senador pelo Espírito Santo, com fama de durão contra o crime e na esteira do bolsonarismo.

Marcos do Val como garoto propaganda da série "SWAT"

No Brasil, Marcos do Val nunca integrou o BOPE, mas não foi essa a impressão que passou ao francês Alexandre Vigier, que o convidou para visitar uma unidade policial de Paris depois de acompanhar a página do hoje senador no Facebook.

Num depoimento em vídeo, Vigier contou que fez o convite por acreditar que Marcos do Val era policial. Ao final do encontro, também ficou com a impressão de que o brasileiro tinha envolvimento com o BOPE: ele presentou Vigier com a caveira que é símbolo do batalhão do Rio.

Mais tarde, na versão de Vigier, um relatório revelou que o agora senador não era policial e, por conta disso, ele diz ter recebido uma advertência de seus superiores.