Jair Bolsonaro prometeu a seus aliados uma “agenda de estadista” nos Estados Unidos, para preparar o terreno para sua volta ao Brasil como maior líder da oposição ao governo Lula. Mas seus aliados no Congresso e mesmo no empresariado estão entre decepcionados e irritados: para eles, o ex-presidente tem uma rotina de encontros e visitas consideradas "irrelevantes" e "menores".
As agendas de Bolsonaro nos Estados Unidos são um misto de férias com passeios por supermercados e lojas, encontros sem significado maior e eventos com a extrema direita evangélica. E só.
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Segundo estes aliados, ouvidos pelas jornalistas Carla Araújo e Juliana Dal Piva, do UOL, Bolsonaro estaria se deixando influenciar pelo grupo que o cerca nos EUA, formado por assessores de formação militar e com pouca bagagem política. Um sinal de alerta tocou para seus aliados na última semana: para eles, Bolsonaro está pouco a pouco retomando a sua antiga rotina de deputado federal.
Dois episódios da última semana desagradaram de maneira especial os bolsonaristas aflitos: uma visita ao departamento de Polícia de Oklahoma, nos EUA, na quarta-feira (23). A foto (veja no alto desta reportagem) ao lado de um carro da polícia e do assessor do Max Guilherme numa garagem vazia é constrangedora, segundo seus aliados.
A própria presença de Max Guilherme reflete a irrelevância da agenda de Bolsonaro. Ele é um ex-policial e era assessor especial de Jair Bolsonaro na Presidência. Afastou-se do cargo em julho, para concorrer ao cargo de deputado federal, mas obteve apenas 9 mil votos e não se elegeu no Rio de Janeiro. Ele foi readmitido como assessor especial após a derrota no pleito, mas ficou desde o dia 6 de outubro sem compromisso oficial. Foi um dos assessores autorizados pelo governo federal, nos estertores da Presidência de Bolsonaro, a participar da viagem aos EUA.
Na sexta-feira (24), Bolsonaro apareceu em imagens junto com o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), o ex-ministro do Turismo Gilson Machado e Tércio Arnaud Thomaz, assessor especial de Bolsonaro e um dos integrantes do chamado "gabinete do ódio". Max Guilherme aparece na foto, também no alto desta reportagem, atrás de Eduardo.
Gilson Machado, o “ministro sanfoneiro” dos tempos de Bolsonaro, chegou a postar a imagem dizendo que o grupo ia para uma "missão" em Nashville, no Tennessee. Mas a “missão” era apenas um passeio: eles estavam indo para o Safari Club, encontro que reúne operadoras de caça e pesca. Segundo Machado declarou ao UOL, a intenção seria "falar bem do Brasil".
A data de volta de Bolsonaro ao Brasil é incerta. Ele disse por duas vezes em meados de fevereiro que pretendia voltar ao Brasil nas próximas semanas. Ao jornal americano The Wall Street Journal ele afirmou que deve retornar em março. Não está claro se é uma estratégia diversionista ou apenas incerteza e receio do ex-presidente.
Entre aliados, existe expectativa de que ele aguarde a emissão do visto nos EUA para então definir quando deixar o país. Bolsonaro não tem mais o visto diplomático, expirado. Ele pode viajar internamente pelos EUA, mas se sair do país antes de obter o visto de turista, não poderá retornar ao país, e receia que isso aconteça.
Há divisão no bolsonarismo quanto à volta de Bolsonaro. Um grupo deseja que ele volte já e assuma a liderança da oposição. Para esses parlamentares, em especial do PL, Bolsonaro reforça a imagem de alguém que está com medo do Judiciário, ao estender sua permanência nos EUA.
Outro grupo de aliados pensa diferente e considera mais prudente sua permanência no exterior. Alguns afirmam inclusive que Bolsonaro já teria "perdido o timing" para voltar.
Em meio a agendas irrelevantes e dúvidas quanto ao seu destino próximo, Bolsonaro estaria perdendo densidade política e de popularidade? A resposta para essa questão precisa de tempo.