O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), falou um verdadeiro absurdo sobre a crise da Braskem em Maceió, capital do seu Estado de Alagoas. A fala foi feita nesta sexta-feira (15) durante a abertura da 7ª Edição do Salão Nacional do Turismo, em Brasília.
Além de Lira, também estavam presentes Celso Sabino, o ministro do Turismo, e Marcelo Freixo, presidente da Embratur, que estiveram em Maceió para acompanhar as consequências dos crimes ambientais derivados da mineração de sal-gema que ora afunda uma região da cidade.
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Em clara tentativa de apoiar o turismo, importante setor para a economia de Maceió sobretudo na temporada de verão que está em vias de começar, Lira se mostrou um verdadeiro negacionista da crise que está em andamento. Taxou como “versão” destinada a ir para a “lata do lixo” a linha narrativa adotada pelas comunidades atingidas de que “Maceió está afundando”.
“Queria enaltecer e agradecer, antecipadamente, a ida do ministro Celso Sabino e do Freixo a Maceió comigo, para que a gente de uma vez por toda jogue na lata do lixo a versão de que a minha cidade, o meu estado, está afundando”, declarou Lira.
Na mesma linha negacionista, Lira sequer mencionou a Braskem quando fez uma fala pedindo punição aos responsáveis. “Isso não é justo com Maceió. Quem é o responsável pelo que está acontecendo lá, isoladamente, vai ter que pagar”, finalizou o breve trecho sobre a grave crise registrada no seu Estado.
Mas a disputa narrativa de Lira em torno da questão vai além do seu apoio ao turismo alagoano. Na última quarta-feira (13) o Senado instalou a CPI da Braskem, que busca apurar a situação, motivada por um pedido apresentado pelo principal rival político de Lira em Alagoas, o senador Renan Calheiros.
A rixa entre ambos vem da política alagoana e tomou proporções nacionais em 2021, quanto Lira já era presidente da Câmara e Renan foi nomeado presidente da CPI da Covid-19. No ano seguinte as tensões continuaram por conta das eleições estaduais de Alagoas.
A crise da Braskem em Maceió
A cidade de Maceió, capital de Alagoas, enfrenta uma crise profunda que se desenrola há mais de cinco anos, culminando na desocupação forçada de áreas na última semana. Mais de 60 mil pessoas já foram evacuadas de 14 mil imóveis devido ao risco iminente de colapso das minas de sal-gema exploradas pela Braskem, que funcionam sob o solo. O drama ganhou um novo capítulo com a decisão da Justiça Federal, baseada em relatórios técnicos, que determinou a inclusão de novas áreas na zona de risco, resultando na criação de bairros fantasmas na cidade.
A ação judicial atendeu ao pedido do Ministério Público Federal, da Defensoria Pública da União e do Ministério Público do Estado de Alagoas, que solicitaram a inclusão de mais áreas no programa de realocação da Braskem. Além disso, a Justiça estabeleceu a intensificação do monitoramento, dada a gravidade da situação.
Segundo a Defesa Civil de Maceió, a zona afetada já estava praticamente desocupada, e medidas preventivas foram adotadas, como a solicitação para que embarcações e a população evitem transitar na região até nova atualização do órgão. O risco iminente de colapso poderia resultar na formação de sinkholes, caracterizados pelo afundamento da superfície e a criação de crateras devido ao esvaziamento do subsolo.
Em resposta à crise, a Prefeitura de Maceió decretou estado de emergência por 180 dias e estabeleceu um Gabinete de Crise para acompanhar de perto a situação. O governo federal também demonstrou preocupação, com o presidente em exercício, Geraldo Alckmin, orientando ministros a acompanharem a situação de perto.
A exploração das minas pela Braskem, que começou na década de 1970, está relacionada ao afundamento progressivo da região. No último domingo (10), ocorreu o rompimento da mina 18, localizada sob a lagoa Mundaú no bairro Mutange. As imagens correram o Brasil. Esse evento deve ser o mais discutido na CPI.