A investigação por crime de racismo cometido pelo bolsonarista Filipe Martins foi reaberta pelo desembargador Ney Bello. O então assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República do governo Jair Bolsonaro (PL) teria feito um gesto comum de supremacia branca em uma sessão do Senado Federal, em março de 2021.
O desembargador reformou a sentença de absolvição e considerou que há evidências de crime contra Martins: "O que temos são indícios. Fortes indícios, diria eu. Por serem fortes indícios, não é cabível a manutenção da absolvição sumária do apelado".
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O caso será investigado, sob pena de "o Judiciário ser leniente em sua atuação com a prática de condutas racistas". Em outubro de 2021, o juiz da 11ª Vara Criminal do Distrito Federal encerrou o processo por avaliar que o gesto denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) não configura crime e absolveu o réu.
O gesto de unir o dedo indicador ao polegar, enquanto estica os demais dedos da mão, forma as letras "WP", referente ao lema White Power ("Poder Branco", em tradução livre do inglês). O gesto é apropriado por grupos supremacistas brancos, sobretudo dos Estados Unidos.
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A justificativa de Martins foi de que estava alinhando o paletó na ocasião, quando o senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP) identificou o gesto e alertou o presidente da bancada, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). A perícia do Senado desmentiu a versão do bolsonarista.
"Em primeiro lugar, o apelado é professor e foi assessor do ex-Presidente da República. Portanto, trata-se de pessoa que entende de política e é conhecedor das suas simbologias específicas, incluindo aquelas que enaltecem torturadores, fascistas e racistas. E utiliza essa simbologia de forma reiterada", argumentou o desembargador.
Ney Bello ainda relembrou outros usos de simbologias preconceituosas por Filipe Martins:
- Uso de lema católico no segundo turno das eleições de 218, quando o deputado Jair Bolsonaro foi eleito como presidente.
O apelado postou no Twitter: 'Esta´ decretada a nova Cruzada. Deus vult!'. A expressão 'Deus vult' representa o grito dado pelo Papa Urbano II quando do anúncio da Primeira das Cruzadas, em 1095. Ou seja, o apelado comparou a eleicão de um político brasileiro a um movimento de libertacão de Jerusalém de supostos 'infiéis'.
- Uso de lema de extrema direita: Filipe teria parabenizado o vereador Carlos Bolsonaro (PL) com a frase "ya hemos pasao" ("já passamos!", em tradução livre do inglês), utilizada pela ditadura do ditador Francisco Franco contra opositores.
- Uso de lema nazista: Martins publicou a frase "Oderint dum metuant" ("Que odeiem, desde que temam", em tradução livre do latim) em suas redes sociais. Escrita pelo poeta romano Lúcio Ácio, a frase foi apropriada pelo grupo neonazista alemão Combat 18, na década de 1990.