A humorista alemã Lea Maria Jahn, que vive no Brasil há anos e se tornou famosa com seus shows de stand-up em que faz piadas sobre as diferenças e semelhanças culturais entre alemães e brasileiros, usou as redes sociais, na última quarta-feira (1), para denunciar uma situação de injúria racial que presenciou contra o seu produtor.
Em outubro, Lea passou alguns dias percorrendo cidades de Santa Catarina para fazer suas apresentações e foi, pela primeira vez, à Oktoberfest de Blumenau, tradicional festa de cultura alemã. Ela conta que foi "muito bem recebida" no evento, mas fez alguns vídeos ironizando situações que viveu no estado, gerando revolta entre alguns grupos, entre eles o "Bonde do Pato", uma das atrações da festividade.
"Esses dias postei um vídeo falando sobre minha experiência em Santa Catarina durantes os shows nas últimas semanas. Fui para a Oktoberfest pela pela primeira vez, participei do desfile em Blumenau fui muito bem recebida pelo Bonde do Pato. As pessoas falando alemão, cantando músicas alemãs que eu não ouvia há mais de 10 anos, realmente deixou me sentindo em casa. Lamento que em algum momento o pessoal do Bonde do Pato tenha se sentido ofendido, por que não foi minha intenção. Usei o momento de festa e comemoração para falar sobre minha experiência no estado, como faço em todas as viagens, e falo com humor sobre as diferenças culturais", disse Lea no início de um vídeo.
Na sequência, a humorista relata uma situação absurda que presenciou em Jaraguá do Sul: uma pessoa teria a a perguntado "em que campo de concentração" ela havia encontrado seu produtor - em uma clara referência aos campos de concentração nazistas.
"Em 2 dos 4 locais que visitei eu presenciei o meu produtor sofrendo injúria racial. Inclusive, denunciamos. Em dado momento em que estávamos tirando fotos com os fãs uma das pessoas presentes veio me perguntar em que campo de concentração eu havia achado meu produtor. E o absurdo é que isso não foi um caso isolado da nossa viagem. Essa pessoa depois veio se desculpar comigo em vez de falar com o meu produtor que sofreu a injúria", revelou.
"Eu sou alemã, nasci, cresci e estudei na Alemanha. Essa prevenção contra o racismo acontece nas aulas de historia, assim como visitas em campos de concentração e de trabalho. Temos leis e recomendações para essa história nunca mais acontecer. Comentários como esses de Jaraguá do Sul são considerados crimes hediondos Queria postar esse vídeo para mostrar que esse tipo de comportamento faz parte de uma ideologia que eu não tolero, injúria racial é crime", prosseguiu Lea.
Assista
"Bonde do Pato" divulga nota de repúdio a vídeo de Lea
No dia 28 de outubro, o grupo "Bonde do Pato", que anualmente participa do desfile da Oktoberfest em Blumenau, divulgou uma nota repudiando um vídeo em que Lea Maria Jahn relata casos de racismo e importunação sexual que teria presenciado no evento.
Veja a íntegra do comunicado:
"O Bonde do Pato vem por meio deste, apresentar a sua nota de repúdio ao vídeo publicado pelo perfil @leamariajahn.
No vídeo, a autora faz menção a crimes cometidos como racismo e importunação sexual, crimes que não tem relação com nosso grupo e os quais também repudiamos.
A autora utilizou imagens de um momento de alegria e diversão para abordar tema totalmente desconexo com o desfile que participou, dando a entender que o Bonde do Pato ou algum de seus integrantes teria qualquer relação com situações como essas.
Ainda, a autora fez comentários negativos a respeito da cultura de nosso região, a qual tanto nos orgulhamos. A @oktoberfest_blumenau existe e foi inspirada na festa que acontece na Alemanha. Temos as nossas particularidades e características, o que nos torna únicos no mundo.
No decorrer da festa, recebemos turistas de todo o Brasil e do mundo, inclusive alemães, que adoram as nossas próprias tradições e retornam em outras oportunidades para a nossa região.
Por tudo isso, não vamos compactuar com a falta de respeito às nossas tradições e que usem da imagem do nosso grupo e da nossa festa para nos desrespeitar e associar a outros fatos ocorridos.
A equipe jurídica do Bonde do Pato já entrou em contato com a autora, que retirou imediatamente o vídeo, e reforçou que nenhum dos crimes citados possuem qualquer relação com o desfile ou o grupo @bondedopato.
Tomaremos as providências necessárias para preservar a integridade dos membros do nosso Grupo e Patrocinadores."