POLÍTICA CAPILAR

Milei, Trump e Boris Johnson: por que ultradireitistas só usam cabelos esquisitos?

Entenda a relação anômola entre penteados malucos e a extrema direita no mundo

Javier Milei, Trump, Boris Jonhson e Bolsonaro.Créditos: Wikimedia Commons e Reprodução
Escrito en POLÍTICA el

O fenômeno dos penteados extravagantes compartilhados entre líderes de extrema direita tem despertado curiosidades e análises. Em "Uma história maluca da peruca", Luigi Amara destaca como o icônico artista Andy Warhol moldou sua identidade em torno de uma peruca, reconhecendo o poder simbólico do cabelo na construção da imagem pessoal. O corte de cabelo singular de Warhol, vendido por um valor considerável em leilão, ressalta a transformação do cabelo em um ícone para atingir notoriedade.

Essa estratégia, que conecta a imagem capilar à fama e ao reconhecimento, parece ecoar de forma significativa entre os líderes de extrema direita no século XXI. Na última sexta-feira, o cenário político internacional foi marcado pela vitória de Javier Milei nas eleições presidenciais argentinas e pela ascensão de Geert Wilders ao poder na Holanda. Curiosamente, a internet foi inundada com memes que destacavam uma aparente coincidência: a ligação entre líderes da extrema direita e seus penteados esquisitos.

A questão que naturalmente surge é se essa relação é mais do que uma situação cômica. Há um padrão real entre os líderes de extrema direita e seus penteados excêntricos? A resposta é multifacetada, mas há algo em comum.

Origem dos penteados excêntricos

No século XVI, a moda da peruca surgiu devido ao surto de sífilis que deixou muitos homens europeus carecas. O rei Luís XIII, sofrendo de alopecia aos 23 anos, popularizou o uso de perucas para disfarçar a perda de cabelo. Foi Luís XIV, o Rei Sol, quem transformou as perucas em símbolos de ostentação. Em 1792, a Convenção na França aboliu as perucas, levando mais de 20 mil cabeleireiros a se tornarem barbeiros, usando cabelo real. Essa mudança de moda teve um impacto significativo.

Segundo Ana Velasco Molpeceres, autora do livro "A História da moda na Espanha" em entrevista ao jornal O Globo, “com o início do século XIX, o corte de cabelo curto tornou-se o padrão de limpeza em toda a Europa: cortá-lo era uma forma de dizer adeus ao Antigo Regime”.

Os cabelos curtos ganharam uma projeção simbólica durante as revoluções liberais e a era do Iluminismo. Na Inglaterra, o desaparecimento das perucas teve uma razão distinta: a escassez de talco, vital para a preservação dos cabelos artificiais. Nesse contexto, o Estado implementou um imposto, transformando as perucas em um problema econômico, especialmente para a alta burguesia.

Ideia é 'chamar atenção'

A autora comenta sobre o penteado de Milei. “Toda vez que o vejo, ele me lembra um daqueles personagens pintados por Jacques-Louis David. Se você reparar, é curioso que esses rebeldes revolucionários, que construíram os Estados liberais, sejam os precursores das ideias de Milei, que é outro rebelde em uma mudança de época e também liberal, embora em sua expressão mais extrema”, disse. Assim, a ideia dos líderes de extrema direita é dizer que são "revolucionários” e que se “diferenciam" do resto.

“Acho que eles escolheram esses penteados porque são desconcertantes e, portanto, muito amigáveis à mídia. A estética bizarra e rupturista que sempre se encaixou na esquerda agora incorpora a direita neoliberal individualista”, contou Ana Velasco.

Para especialistas, no caso da Milei, o cabelo serviu para estruturar uma campanha inteira em torno da figura do leão. De acordo com Luis Arroyo, sociólogo e cientista político, o cabelo masculino tem historicamente sido associado a força e sabedoria, enquanto a calvície é interpretada como o oposto. Esse entendimento pode explicar o empenho de Donald Trump em esconder sua calvície a todo custo, recorrendo a uma peruca, assim como o ex-premier do Reino Unido Boris Johnson.