O senador Sergio Moro (UB-PR), que enfrenta investigações do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e da Polícia Federal (PF), e que corre o risco de ter seu mandato cassado, resolveu atacar o site G1, da Globo, pelo fato do veículo estar noticiando, desde a última semana, as denúncias-bomba que o ex-deputado estadual Tony Garcia fez contra ele ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Recentemente, Tony Garcia, que alega ter atuado como "agente infiltrado" do senador em sua época de juiz, entregou ao STF um conjunto de documentos explosivos que revelam uma suposta tentativa de Moro de investigar ilegalmente desembargadores, juízes e ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ), incluindo o uso de grampos.
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Os documentos em questão fazem parte de um acordo de colaboração premiada firmado entre Tony Garcia e Sergio Moro em 2004, logo após o empresário ser preso no âmbito de uma investigação contra o Consórcio Garibaldi. O acordo serviria para Garcia se livrar da prisão. Até recentemente, esses documentos estavam sob sigilo na 13ª Vara Federal de Curitiba, mas o juiz Eduardo Appio decidiu levantar este sigilo, permitindo que Tony Garcia tivesse acesso. Agora, esses materiais foram entregues pelo ex-deputado estadual ao STF com o objetivo de anular as ações de Moro contra ele.
No conjunto de documentos estão registradas cerca de 30 tarefas que foram designadas a Tony Garcia por Moro como parte do acordo para evitar sua prisão. Estas tarefas incluíam investigações de autoridades paranaenses com foro privilegiado, utilizando métodos questionáveis, uma vez que essas investigações estavam, legalmente, fora da alçada de atuação de Moro enquanto juiz. O material entregue ao STF inclui até mesmo registros de conversas telefônicas entre Moro e Garcia, nas quais o ex-juiz pressiona pela execução das tarefas consideradas ilegais.
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Nesta segunda-feira (2), veículos da Globo, como o canal GloboNews e o site G1, deram destaque a outro trecho da denúncia de Tony Garcia ao STF dando conta de que Moro teria colocado escutas no escritório do ex-deputado e infiltrado no local um agente da Polícia Federal (PF) para que autoridades com foro privilegiado fossem grampeadas.
Moro, então, foi às redes sociais para negar as acusações e dizer que o site G1 estaria reverberando "mentiras" para "fabricar um falso escândalo".
Trata-se de uma jogada arriscada do senador, que agora se volta contra o grupo de comunicação que o heroificou enquanto juiz da Lava Jato.
"O G1 reverbera as mentiras de um criminoso condenado, Tony Garcia, para fabricar um falso escândalo sobre supostos fatos de 2004 e 2005, ou seja DE QUASE 20 ANOS ATRAS! As investigações conduzidas pelo MPF e executadas pela PF foram sobre tráfico de influência e escuta ilegal e resultaram em condenações de advogado por esses crimes e que foram proferidas por outro juiz. Nenhum juiz ou magistrado do TRF4, STJ ou de qualquer outra Corte, foi investigado com minha autorização. A inexistência de gravações de magistrados ou de medidas investigatórias contra eles é, alias, reveladora da farsa do notório mentiroso", escreveu Moro.
Policial infiltrado
De acordo com a denúncia do ex-deputado Tony Garcia encaminhada ao Supremo Tribunal Federal (STF) em uma decisão datada de 15 de dezembro de 2004, que sucedeu a assinatura do acordo de colaboração de Garcia, o ex-juiz Sergio Moro determinou a instalação de escutas no escritório do empresário e que um policial federal atuasse infiltrado no local, como se fosse um secretário do ex-parlamentar. As informações são da jornalista Daniela Lima, da GloboNews.
Segundo a denúncia de Tony Garcia, tal estrutura permitiu que o ex-juiz grampeasse autoridades com foro, incluindo o então presidente do Tribunal de Contas em 2005.
Ao G1, Sergio Moro refutou as acusações e afirmou que nenhuma autoridade com foro foi investigada e que nunca solicitou gravações.
No entanto, na decisão do próprio Moro está detalhado todo o aparato fornecido a Tony, que alega ter sido usado pelo ex-juiz para obter informações sobre ministros do STJ, conselheiros do TCE e também desembargadores do TRF-4.
Na decisão, Moro determina:
"a) instalação de equipamento de escuta ambiental, preferivelmente áudio e vídeo, com capacidade para gravação por períodos longos, em duas salas e em estabelecimentos distintos".
"b) A provável utilização, por um período de cerca de seis meses, de um agente policial infiltrado como secretário de escritório de prestação de serviços".
De acordo com informações dos investigadores que atuam com o ministro Dias Toffoli, do STF, o conteúdo das gravações era entregue em mãos a Moro e tais gravações não passavam pelo Ministério Público.