Criadora do Prêmio Carolina Maria de Jesus para mulheres negras da cultura e direitos, Erika Hilton (PSOL-SP) é a primeira deputada federal negra e trans eleita historicamente no país. Erika tem 31 anos e foi vereadora da capital paulista antes de se eleger para o cargo em Brasília, além de ser pedagoga de formação.
Ao Estadão, ela fez três indicações culturais: uma série, um livro e uma música, onde são abordados a vida dos jovens negros, o dia a dia das periferias e a busca por reconhecimento das mulheres pretas em um país pepertuado pelo racismo estrutural. Suas escolhas transcendem meramente o entretenimento, servindo como janelas para a compreensão da importância da representatividade.
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Sintonia
Uma das séries nacionais que conquistou o coração do público na Netflix é "Sintonia", e esta é a escolha de Erika Hilton. A série, idealizada pelo renomado produtor KondZilla, conhecido por ser dono do maior canal de funk do Brasil e empresário de alguns dos maiores músicos desse segmento, oferece um olhar penetrante sobre os caminhos complexos trilhados pelos jovens Rita, Nando e Doni, que compartilham raízes profundas na periferia de São Paulo.
As vidas desses três personagens são intrincadas com os elementos distintivos que moldam a experiência das comunidades periféricas brasileiras. Na série, o funk serve como uma expressão cultural poderosa, que não só inspira, mas também desafia as normas sociais e oferece uma voz a uma juventude muitas vezes marginalizada.
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"Sintonia" também explora a influência da igreja nas comunidades periféricas, mostrando como a espiritualidade e a fé desempenham papéis significativos na vida de muitos residentes dessas áreas. Os valores religiosos se chocam com as realidades da vida na periferia. Além disso, a série aborda a série o tráfico de drogas.
"Quarto de Despejo", de Carolina Maria de Jesus
“Quarto de Despejo é meu livro de cabeceira, porque diz muito sobre a minha trajetória. Em alguns momentos, eu me reconheço nas histórias e nas dores de Carolina Maria de Jesus. A inteligência, a delicadeza, a preciosidade da escrita de uma mulher negra, catadora, da favela, é algo que forma as minhas ambições para a sociedade”, afirma Erika.
A sugestão da leitura do livro "Quarto de Despejo: diário de uma favelada" é uma obra escrita pela grande Carolina Maria de Jesus, na época uma catadora de papel que viveu na favela do Canindé, em São Paulo, nos anos 1950.
A notável particularidade deste livro é que Carolina Maria de Jesus registrou suas experiências e reflexões em cadernos encontrados no lixo. Nestes cadernos, ela descreve de forma crua e rica de interpretações como era a vida no barraco. Suas palavras capturam a dureza da existência nas favelas, o desafio constante da sobrevivência.
Erika conta que o lê "como se fosse um evangelho [...] por mais dolorosa, cruel, perversa, atravessada por um racismo desenfreado, que tenha sido a vida de Carolina, é algo que nos impulsiona a lutar por uma sociedade melhor. É um livro inspirador. Quem não leu, precisa ler."
Renaissance
O último álbum de Beyoncé, Renaissance (renascimento, em português), lançado em junho de 2022, marca um retorno triunfante após um hiato de seis anos na carreira da icônica diva pop e é outra dica sugerida por Erika. “Beyoncé transcende: a música dela é um ícone de força, luta, garra, beleza e sofisticação. Ter uma mulher negra como uma das maiores artistas do universo musical é algo que é extremamente relevante e importante.”
“Renaissance me dá coragem para continuar existindo, para me arrumar, para levantar, para acreditar que as coisas podem ser possíveis”. O encerramento da turnê mundial do sétimo álbum de estúdio de Beyoncé, programado para hoje, 1 de outubro, é um evento que transcende fronteiras e deixa sua marca em todo o mundo