Durante a recepção de chefes de Estado no Itamaraty após a posse, no domingo (1º), uma cena chamou a atenção durante o cumprimento de Lula (PT) à delegação do Irã, comandada pelo embaixador Hossein Gharibi.
Na chegada dos representantes do governo iraniano, a primeira-dama Rosangela Silva, a Janja, que estava ao lado de Lula se afasta e fica ao lado de Lu Alckmin, atrás do presidente do vice, Geraldo Alckmin.
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Janja e Lu não cumprimentaram os iranianos. Dois deles fizeram um gesto, parecido com um aceno, distante para Lu.
A primeira-dama não explicou o afastamento, que foi entendido como um protesto de Janja contra a repressão violenta do governo às mulheres, que iniciaram uma série de manifestações no Irã principalmente após a prisão de Mahsa Amini, de 22 anos, por mostrar seu cabelo. Ela morreu em seguida.
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Segundo autoridades iranianas, Mahsa sofreu um ataque cardíaco após ser detida no dia 13 de setembro. No entanto, ativistas afirmaram que houve violência na abordagem da "polícia da moralidade" e iniciaram uma onda de protestos, que foi apoiada até mesmo pelos jogadores da seleção do país, que ficaram em silêncio durante a execução do hino no Catar.
No entanto, a embaixada do Irã no Brasil emitiu um tuite explicando que o afastamento da primeira-dama brasileira se deu por causa do "protocolo iraniano", em que homens não dão as mãos para cumprimentar mulheres.
"Ser visto no vídeo, na saída da delegação anterior, o cerimonial da Presidência (amarelo) informa a Janja sobre o protocolo iraniano e que a delegação iraniana seria a próxima a cumprimentar o Presidente Lula. Portanto, ela se afastando do Presidente, seguindo orientação do cerimonial", alegou a embaixada iraniana.
As imagens mostram que durante a aproximação da delegação do Irã o embaixador Fernando Igreja, responsável pelo cerimonial da posse, conversa com Janja, que se afasta e se coloca ao lado de Lu Alckmin.
Para a antropóloga Francirosy Campos Barbosa, especialista em Islã, é improvável que Janja tenha protagonizado um ato de protesto contra o Irã no dia da posse.
"Homens não estendem as mãos a uma mulher e isso não é falta de respeito ao contrário é lido como respeito à mulher. O que achei estranho é o afastamento corporal da Janja, ela não precisava sair do lado do Presidente, pois bastava acenar com a cabeça, que é o que fizeram os representantes do Irã", diz.
Nas redes, no entanto, progressistas acreditam, sim, que o gesto foi um protesto da primeira-dama brasileira pelo tratamento às mulheres pelo regime autoritário no Irã.
"A mulher que não cumprimentou o governante do Irã. Eu tenho muito orgulho de você @JanjaLula", tuitou Paulo Vieira.
Segundo Francirosy, o distanciamento corporal de géneros diferentes é visto como educação e respeito nos países islâmicos.
"Precisamos naturalizar determinados protocolos e não transformá-los em algo exótico e cheio de comentários que não condizem com a realidade. Quando estive no Irã fui muito respeitada, e os homens preferiram se comunicar com meu colega Paulo Hilu. Achei diferente e aproveitei o que era uma gentileza, respeito", afirma.