O debate realizado na noite de terça-feira (13) pela TV Cultura e pelo portal UOL, com os candidatos ao governo do estado de São Paulo, embora produtivo e bastante civilizado, levando-se em conta o momento de violência política que o Brasil atravessa, acabou sendo marcado pela truculência de cariz fascista do deputado estadual bolsonarista Douglas Garcia (Republicanos), que partiu para cima da jornalista Vera Magalhães.
O ato gerou uma onda de repúdio, até mesmo por parte de aliados do extremista, que já perceberam que os rompantes agressivos e machistas contra a imprensa, típicos dessa franja fanática pelo presidente, têm tornado tudo mais difícil para a campanha de reeleição de Jair Bolsonaro.
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Após ter o celular tomado pelo mediador do debate, o jornalista Leão Serva, que arremessou o aparelho longe e xingou o parlamentar, Garcia viu seu "excesso de macheza" virar o mais novo problema da banda de extrema-direita que está provando grande nível de rejeição por parte da sociedade, tendo dificuldades para manter a “onda avassaladora” que predominou na eleição de 2018, tornando-se alvo e sendo repreendido por todos os lados.
Mas afinal, quem é o deputado Douglas Garcia e o que ele fez nesses quase quatro anos na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp)?
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Douglas Garcia foi apenas mais um jovem que soube surfar a onda ultrarreacionária que varreu o país na última década. Afeito a temas da extrema-direita, ele foi eleito com apenas 24 anos para o Legislativo paulista, mas antes disso já sassaricava pelas redes sociais elogiando skinheads, um movimento de extrema-direita com nebulosa relação com o neonazismo e que prega o assassinato de negros, nordestinos e pessoas LGBTQIA+. “Os Carecas são nacionalistas, pró-família, são exatamente como nós, só diferem porque descem o cacete nos comunas, o que eu aprovo muito, diga-se de passagem”, escreveu Garcia, numa postagem restrita vazada.
Daí para a vida política, foi um pulo. Filiou-se ao PSL, então partido de Jair Bolsonaro em 2018, e foi eleito 74.351 votos, defendendo todo tipo de escatologia anticivilizacional, tornando-se uma expressão fiel das falanges mais odiosas e funestas da extrema-direita brasileira, na companhia de outras figuras politicamente doentias que se agarraram ao presidente da República eleito como se ele fosse um deus.
Do começo de 2019, quando tomou posse, até agora, Garcia apresentou quase 50 Projetos de Lei. Mas se engana quem pensa que isso é sinal de produtividade ou de luta com afinco pelo bem estar da população paulista. Praticamente tudo que é redigido por seu mandato está relacionado a uma interminável ladainha de bobagens hiperreacionárias, como o combate a um comunismo imaginário, defesa da Ditadura Militar (1964-1985), implantação de uma tal Escola Sem Partido (concepção amalucada de que o marxismo domina o ambiente educacional para, como desculpa, gerar um ambiente ultraconservador e de patrulhamento ideológico nos estabelecimentos de ensino) entre outras bizarrices mofadas e delirantes.
Como todo bolsonarista caxias, Garcia também é um aficionado pela polícia. Seu único projeto aprovado, mas que foi vetado pelo então governador João Doria (PSBD), visava a equiparar o curso de formação de soldados da Polícia Militar a um curso de nível superior. Menções à PM e a todo o universo dessa categoria profissional, com muita bajulação à corporação estadual, foram também uma constante em seu mandato.
Durante a mortífera pandemia da Covid-19, que deixou quase 700 mil mortos no Brasil, alinhadíssimo ao discurso negacionista e medieval de Jair Bolsonaro, Garcia tomou parte da luta encampada pelo presidente para tornar tudo pior. Ele apresentou três PL’s contra medidas de restrição que tinham por objetivo frear as contaminações e mortes pela doença no estado.
Os temas relacionados a orientação sexual e de gênero também são uma fixação para o parlamentar valentão. Nos seus primeiros meses de mandato, numa provocação abjeta e odiosa, ele disse que “agrediria uma transexual se ela usasse o mesmo banheiro que sua irmã ou mãe”, numa clara referência à colega de parlamento, a deputada estadual Erica Malunguinho (PSOL), primeira parlamentar transexual eleita na história de São Paulo.
O argumento para fugir das acusações de transfobia e homofobia? Garcia se assumiu gay, em março de 2019, logo após a ameaça de agressão proferida contra “qualquer transexual que entre no banheiro de sua irmã ou mãe”.
Seu rompante de valentia transfóbica rendeu-lhe um processo no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Assembleia Legislativa paulista, que terminou apenas com uma advertência verbal, fazendo com que Garcia voltasse com seu reacionarismo desmedido em outras ocasiões.
Uma das maiores aberrações protagonizadas pelo deputado bolsonarista foi a produção de um “dossiê” com dados pessoais de mais de mil pessoas que faziam oposição ao presidente da República. Fotos, dados privados, endereços, números de telefone, tudo colocado numa lista imensa para intimidar e promover uma perseguição autoritária contra opositores. Não é preciso dizer que o ato é ilegal, criminoso, antidemocrático e inspirado em ações de regimes de exceção.
Várias pessoas já processaram o deputado por terem sido incluídas no seu famigerado “dossiê” e ele já recebeu duas condenações, nas quais terá que pagar R$ 10 mil a uma mulher que aparece na lista e R$ 43 mil a uma outra. A maluquice de brincar de SNI rendeu ao parlamentar extremista ainda uma ruptura com o filho “paulista” do mandatário radical, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), a quem acusou de “se acovardar” diante de sua tresloucada iniciativa de criar um “cadastro” de quem deveria ser perseguido.