POLÍTICA DO ÓDIO

Caso Marcelo Arruda: o que falta a polícia entender sobre o assassinato do dirigente petista

A principal linha de investigação da Polícia Civil é que o crime cometido pelo militante bolsonarista foi motivado por intolerância e ódio político

Caso Marcelo Arruda: o que falta a polícia entender sobre o assassinato do dirigente petista.Créditos: Twitter/Reprodução
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A Polícia Civil do Paraná começou a tomar os depoimentos das pessoas que estavam presentes na festa de aniversário do dirigente petista e guarda municipal Marcelo Arruda, que foi assassinado pelo militante bolsonarista Jorge Guaranho. 

O tema da festa de aniversário de Marcelo Arruda era o PT e o presidente Lula, dessa maneira, a principal linha de investigação da Polícia Civil é que se trata de um crime com motivação política. 

Em entrevista ao Fórum Café desta terça-feira (12) Luiz Henrique Dias, que era amigo de Marcelo Arruda e estava na festa, afirma que nenhum dos presentes conhecia Jorge Guaranho. 

"Fiquei o tempo em contato com a Pamela [esposa de Marcelo] e com o filho mais velho deles: ninguém conhecia esse cara [Guaranho] no círculo do Marcelo. Então, esse papo que eu já vi rolando entre bolsonaristas: 'ah, porque era uma rixa', não [existe]. O cara foi lá simplesmente porque ele sabia que tinha uma festa. Ele não foi para atingir o Marcelo. Ele não foi para atingir a Pamela. Ele foi para matar os petistas que estavam lá", disse ele, que esteve na festa.

Luiz Henrique afirmou ainda que se não fosse a ação de Pâmela, que é policial civil e empurrou o bolsonarista, o que permitiu a reação de Marcelo, haveria uma "chacina" no local.

"Ela estava com o bebê lá, foi a primeira vez que ela saiu com o bebê. Na hora que aconteceu o bebê estava com alguém. O Marcelo salvou a família dele. Tinha criança lá. A ação da Pamela, que está de licença maternidade, foi muito corajosa e o fato dele ter pulado em cima do cara foi fundamentalmente para que o Marcelo tivesse uma reação para evitar uma tragédia maior. Eu vi no boletim de ocorrência que tinham 11 projéteis ainda. Ele poderia ter descarregado essa munição e mais ninguém ali estava armado. Então, poderia ser realmente uma chacina", contou.

A partir dos depoimentos e das imagens dos vídeos, os investigadores querem entender o motivo que levou Jorge Guaranho ir ao local da festa. Neste sentido, a Polícia Civil acredita que o depoimento da esposa de Guaranho é fundamental para responder essa pergunta e concluir que o crime cometido pelo militante bolsonarista teve ódio político como motivação. 

Para a mãe de Jorge Guaranho, Dalvalice Rosa, a motivação do crime cometido pelo filho "tem a ver com extremismo e intolerância política". 

 

"Aqui é Bolsonaro" 

 

O UOL teve acesso aos depoimentos de testemunhas e ao boletim de ocorrência, que revelam detalhes da ação perpetrada pelo militante bolsonarista. 

Segundo consta em trecho do Boletim de Ocorrência, "Jorge [Guaranho] desceu do veículo com a arma de fogo em mãos. E aos gritos dizia: 'aqui é Bolsonaro'". 

Em um áudio de um dos convidados da festa, é revelado que Jorge Guaranho aparece e ameaça matar todos os presentes. "Apareceu um cara, que não era convidado, que ninguém conhece. Veio com o carro e começou a gritar: 'É Bolsonaro, seus fdp! É o mito'. Aí nisso, o cara tira uma arma para fora pela janela. Aponta para o Marcelo, aponta para todo mundo", diz o relato do homem. 

 

“Vou matar todos vocês”

 

O relato da testemunha também afirma que a esposa de Jorge Guaranho tentou dissuadi-lo. "A mulher dele começa a gritar: 'para com isso, vamos embora'. Aí ele fala: 'Eu vou voltar e vou matar todos vocês, seus desgraçados'". 

A Polícia Civil suspeita que Guaranho tenha descoberto o tema da festa, que era em homenagem ao Lula e ao PT, a partir das câmeras de monitoramento da associação, acessíveis pelo celular dele, pois, Guaranho integrava a direção da Aresf, associação onde foi realizado o aniversário de Marcelo Arruda.