Ciro Gomes, ainda longe dos 20% nas intenções de votos, continua mantendo o apoio da bancada do partido na Câmara. Porém, do outro lado, já enfrenta sinais de desembarque daqueles que defendem voto útil no ex-presidente Lula (PT) como o único político capaz de derrotar Jair Bolsonaro (PL) no primeiro turno.
No último Datafolha, divulgado em 26 de maio, Ciro aparece em terceiro lugar, com 7% das intenções de voto. Lula segue na liderança com 48%, 21 pontos percentuais de vantagem sobre Bolsonaro, que aparece com 27%.
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O cenário para Ciro se manteve praticamente inalterado em relação ao levantamento divulgado dois meses antes, onde ele aparecia com 6%. Na época, nomes como o ex-juiz Sergio Moro (União Brasil, com 8%) e ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB, com 2%) ainda estavam na disputa.
O resultado da pesquisa não abalou o apoio bancada pedetista na Câmara, que continua firme com o presidenciável do partido.
Na avaliação dos apoiadores de Ciro, a candidatura é legítima e fortalece o partido, por ser uma alternativa à polarização entre Lula e Bolsonaro.
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"(A bancada dá) apoio irrestrito e incondicional ao nosso candidato à presidência Ciro Gomes. Nós não temos vacilação. E não é pelo movimento, pelas pesquisas, todas respeitáveis, que nós vamos nos comportar como outros grupos fazem de forma adesista e interesseira", afirmou à Folha de S. Paulo, o deputado Afonso Motta (RS).
Já o deputado Pompeo de Mattos acredita que o momento do voto "nem Lula nem Bolsonaro" ainda vai chegar. "A eleição está muito na pesquisa. Se pesquisa ganhasse eleição, não precisava de eleição, fazia pesquisa. A pesquisa é um retrato. O que vai sobrar de alternativa vai ser o Ciro."
Chico D'Angelo (RJ) também vai na linha de que a candidatura é legítima e que no segundo turno, Ciro poderia apoiar Lula. "Em meio à polarização, Ciro ocupa um espaço no campo democrático popular", disse. "Num segundo turno, tenho certeza de que ele viria a apoiar o Lula. A candidatura de Ciro está colocada e não tem questionamento no partido."
Contudo, há quem já defenda que o partido reavalie o cenário caso a candidatura continue sem furar a polarização. "Estou empenhadíssimo na campanha do Ciro Gomes. Mas eu entendo que a eleição presidencial tem que ser encerrada no primeiro turno. Então eu luto para que o Ciro chegue ao segundo turno, porque o Bolsonaro tem que ser derrotado", afirma Paulo Ramos (RJ).
Na visão do parlamentar, setembro é o limite para o partido "reavaliar" caso a candidatura permaneça inviável . "Obviamente, se nós chegarmos em setembro, Lula com 42% e Ciro 10%, e houver a chance de derrotar o Bolsonaro no primeiro turno, vamos caminhar para derrotar", disse.
Reservadamente, deputados afirmam que o PDT deve seguir com a candidatura até o final, mesmo sem alcançar os dois dígitos. Segundo eles, o "estrago" foi feito, como a debandada de deputados, comprometendo a estrutura de palanques competitivos para a sigla em outubro. O PDT tinha 25 deputados em sua bancada. Atualmente, são 19.
A estratégia de Ciro em atacar Lula a todo custo é vista com ressalvas por deputados, como Chico D'Angelo e Paulo Ramos.
"Poderia não ter o nível de críticas ao Lula, são excessivas. O foco é derrotar Bolsonaro. O PT tem um respeito grande em relação ao PDT".
Já Paulo Ramos Ciro recomenda que o presidenciável seja mais respeitoso. "Quando ele parte para a agressão, como ele tem partido, ele perde voto. Porque sem dúvida alguma, ele é o mais preparado para o debate", afirma Paulo Ramos.
Já Pompeo de Mattos defende a estratégia do pedetista e relativiza o conteúdo dos ataques diários. "Não tem ofensa de Ciro contra Lula, tem assertivas. Se ele disse e o outro junta o mesmo argumento é porque o argumento tem fundamento", afirma. "Eu não vejo nenhuma coisa que o Ciro disse do Lula que não tenha fundamento, que seja uma fake news."