O parlamentar bolsonarista Frederico D’ávila, que chamou o Papa Francisco, um arcebispo e outros religiosos católicos de "pedófilos", "vagabundos" e "safados", tem sido protegido por colegas da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), entre eles Janaína Paschoal (PRTB), em seu processo de punição de pena de três meses de afastamento de mandato.
"O colega, que exorbitou com toda certeza, se manifestou na tribuna, onde tem absoluta imunidade. Posteriormente, ele se retratou. Na condição de líder da bancada que ele integrava, à época, eu pedi desculpas pela bancada", diz Janaína.
Te podría interesar
A deputada diz ainda que não caberia a suspensão de todo o gabinete de D'Ávila e que propôs poupá-los. "Houve uma certa intransigência no caso dele, talvez em virtude de ser muito crítico ao governo. Ademais, a perda de mandato temporária é prevista para casos de reincidência e ele não é reincidente."
Suspensão aprovada em fevereiro
A suspensão do deputado foi aprovada pelo Conselho de Ética da Casa em fevereiro. O plenário da Assembleia, porém, ainda precisa aprovar projeto de resolução para a perda temporária de mandato com um mínimo de 48 votos do total de 94 deputados.
Te podría interesar
Para protelar a votação, os deputados simplesmente não comparecem às sessões. Houve falta de quórum em cinco sessões onde havia previsão de votação da suspensão.
As declarações de D’Ávila foram em outubro do ano passado, após discurso do arcebispo de Aparecida (SP), dom Orlando Brandes, que disse: "Vamos abraçar os nossos pobres e também nossas autoridades para que juntos construamos um Brasil pátria amada. E para ser pátria amada não pode ser pátria armada".
O religioso ainda fez alertas sobre a campanha de armamento da população, o discurso de ódio e as notícias falsas e defendeu a ciência e a vacinação contra o coronavírus.
Bolsonaro esteve no Santuário Nacional de Aparecida no dia seguinte, onde foi recebido com aplausos e vaias e ouviu um outro sermão com referências à situação atual do país, incluindo o desemprego e a pandemia.
D’ávila então reagiu:
"Seu vagabundo, safado, que se submete a esse Papa vagabundo também. A última coisa que vocês tomam conta é do espírito e do bem-estar e do conforto da alma das pessoas. Você acha que é quem para ficar usando a batina e o altar para ficar fazendo proselitismo político? Seus pedófilos, safados. A CNBB é um câncer que precisa ser extirpado do Brasil", disse em discurso.
Diante da repercussão, o bolsonarista pediu desculpas pelo "excesso" no pronunciamento "inflamado por problemas havidos nos dias anteriores".
Carlão Pignatari (PSDB), presidente da Alesp, também pediu desculpas, em nome da Casa, ao papa e ao arcebispo. Disse que repudia palavras que extrapolem "os limites da liberdade de expressão e da imunidade parlamentar".
Falta de coragem
Paulo Fiorilo (PT), um dos autores do requerimento, reclama da falta de coragem dos colegas que não aparecem para votar a favor ou contra.
"É inadmissível que deputados não compareçam às sessões para votar se escondendo atrás da ausência. É preciso ter coragem tanto para assumir a decisão do conselho ou para rejeitá-la", diz.
"O que não pode é a Assembleia continuar sangrando em praça pública por conta de um deputado que foi irresponsável com o papa, com o bispo e CNBB."
Com informações da Folha