Denunciado pelo Estadão neste domingo (22), o chamado Bolsolão do Lixo, esquema de superfaturamento na compra de caminhões de lixo via orçamento secreto, tem ramificações dentro do Palácio do Planalto e beneficia diretamente a empresa de uma amiga de de Ciro Nogueira, ministro da Casa Civil, que levou selou a aliança entre Jair Bolsonaro (PL) e o Centrão.
Reportagem de André Shalders, Julia Affonso e Vinícius Valfré na edição desta segunda-feira (23) do jornal mostra que o Grupo Mônaco Diesel Caminhões, Ônibus e Tratores Ltda tem R$ 11,9 milhões em contratos com o governo federal para venda de caminhões de lixo.
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A empresa pertence à empresária Carla Morgana Denardin, amiga pessoal de Nogueira, que é presidente do PP, e todos os contratos foram feitos com a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) do Piauí em redutos eleitorais do ministro.
De acordo com a notícia, todo o trâmite para compra de um dos caminhões passou pelas mãos de aliados de Nogueira: a estatal que fez o pregão é comandada por um apadrinhado dele, a prefeitura que efetuou a compra é de uma correligionária e a empresa que vendeu é de uma amiga que frequenta seu gabinete.
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O caminhão, um compactador de lixo, foi comprado para a cidade de Brasileira (PI), que tem pouco mais de 8 mil habitantes. O equipamento é desaconselhado para municípios com menos de 17 mil habitantes por causa do alto custo, segundo especialistas. O ideal, nesses casos, seria caminhão basculante.
Antigo esquema da velha política
O antigo esquema da velha política de utilização do serviço de limpeza urbana para compras superfaturadas foi retomado com força no governo Jair Bolsonaro (PL) por meio das chamadas emendas do relator, que abastecem o orçamento secreto.
O esquema, que abastece pequenas cidades de redutos eleitorais de aliados do governo, funciona através de órgãos controlados pelo Centrão como a Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco), a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e principalmente a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf).
Por meio de emendas do relator, o destino é remetido a apadrinhados políticos, que fazem licitações em muitos casos com preços inflados. A entrega do veículo geralmente é feita em atos políticos com a presença dos parlamentares, como fez Fernando Collor de Mello (PTB) em Minador do Negrão, no interior de Alagoas, em agosto de 2021.
Segundo a reportagem, caminhões são destinados a pequenas cidades sem qualquer plano para construção de aterros sanitários, como determinado em lei. Em cidades, como Minador do Negrão, o caminhão é muito maior que a capacidade de produção de lixo. Com 15 metros cúbicos, o município leva dois dias para encher a caçamba do veículo, que custou R$ 361,9 mil.
Desde 2019, o governo já destinou R$ 381 milhões para essa finalidade. A reportagem identificou pagamentos inflados de R$ 109 milhões. A diferença dos preços de compra de modelos idênticos, em alguns casos, chegou a 30%.