Deputados de oposição de vários partidos divulgaram uma nota conjunta repudiando as comemorações ao Golpe Militar de 1964, neste 31 de março, pelos comandantes das Forças Armadas e por autoridades do governo federal, inclusive pelo próprio presidente Jair Bolsonaro.
A nota foi direcionada inicialmente ao general Walter Braga Netto, ministro da Defesa, que divulgou um comunicado enaltecendo a sinistra data que marcou o iniciou de um mergulho do país numa ditadura que durou 21 anos.
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"Repudiamos com veemência a Ordem do Dia publicada nesta quarta (30) pelo ministro da defesa, general Braga Netto, e endossada pelos comandantes do Exército, da Marinha e da Força Aérea, em alusão aos 58 anos do golpe que deu início à ditadura militar no Brasil. É inaceitável que ministros de estado eleitos no período pós-ditadura militar e comandantes das Forças Armadas profiram ataques contra o regime democrático no país. Somos democratas e jamais aceitaremos a defesa e exaltação da ditadura militar que matou e torturou tantos brasileiros e brasileiras", diz o início da nota assinada pelas lideranças da Minoria na Câmara dos Deputados, que foi antecedida por um verso da Canción Por La Unidad de Latino America, de Chico Buarque e Milton Nascimento.
O texto relembra ainda que, sob o governo de Jair Bolsonaro, o hábito funesto de tripudiar sobre os corpos das milhares de vítimas da violência da repressão tornou-se corriqueiro, altura em que os deputados exigiram respeito do presidente aos mortos, torturados e ao Regime Democrático de Direito.
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O comunicado menciona também o apoio e o financiamento de setores empresariais à aventura golpista e ditatorial e afirma serem esses 21 anos de regime de exceção um motivo de vergonha na História do Brasil.
Leia a íntegra da nota:
Nota da Liderança da Minoria na Câmara em repúdio à Ordem do Dia publicada pelo ministro Braga Neto sobre o golpe de 1964
“A História é um carro alegre
Cheio de um povo contente
Que atropela indiferente
Todo aquele que a negue”
Milton Nascimento e Chico Buarque –
Canción Por La Unidad de Latino America
Repudiamos com veemência a Ordem do Dia publicada nesta quarta (30) pelo ministro da defesa, general Braga Netto, e endossada pelos comandantes do Exército, da Marinha e da Força Aérea, em alusão aos 58 anos do golpe que deu início à ditadura militar no Brasil.
É inaceitável que ministros de estado eleitos no período pós-ditadura militar e comandantes das Forças Armadas profiram ataques contra o regime democrático no país. Somos democratas e jamais aceitaremos a defesa e exaltação da ditadura militar que matou e torturou tantos brasileiros e brasileiras.
As Forças Armadas servem ao país e não a governos. Devem se postar em defesa da soberania nacional e não se intrometer na vida política/partidária do nosso povo, muito menos tentando fraudar a história.
Mais uma vez, como já é de costume, o governo de Jair Bolsonaro ataca a democracia e nega o triste episódio de nossa história que perdurou de 1964 a 1985. Mais do que afrontar o acesso da população à verdade, a atual presidência da República desrespeita a memória e gera sofrimento às famílias dos mais de 400 mortos e desaparecidos, vítimas de um regime violento que cerceou os direitos humanos e a liberdade civil.
O texto assinado pelo ministro e pelo comando das Forças Armadas reflete mais um momento crítico para o país, que vive uma nova ameaça democrática promovida pelo próprio presidente, sua equipe e apoiadores radicais, com constantes ataques às instituições. Não à toa, a nota que chama o golpe de 1964 de “um marco histórico da evolução política brasileira” foi publicada no mesmo dia em que Bolsonaro voltou a questionar o Poder Judiciário sobre
possíveis resultados das eleições e que um deputado federal se nega a cumprir uma determinação judicial, utilizando o espaço da Câmara dos Deputados como refúgio.
Reforçamos que não há caminho fora do Estado Democrático de Direito. Não se pode reescrever a história, não houve um “movimento que refletiu os anseios e aspirações da população da época”. O que ocorreu foi um golpe orquestrado pela alta cúpula das Forças Armadas com apoio de setores da elite nacional e subsídio dos Estados Unidos da América, que financiava ditaduras em toda a América Latina.
O golpe empresarial-militar de 1964 pôs fim ao mandato do presidente João Goulart – que propôs reformas de base que não conseguiram ser implementadas -, além de diversos outros políticos democraticamente eleitos, como o ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes e do então deputado Leonel Brizola. Nos anos seguintes, instaurou a censura, exilou patriotas, dissolveu o Congresso e aumentou a desigualdade.
Não obstante, a ditadura militar ainda manchou o solo com sangue de brasileiros e brasileiras que lutaram por democracia, além de instaurar a crueldade da tortura como uma prática corriqueira do Estado contra seus opositores.
O golpe de 1964 é, sem dúvida, um dos episódios mais vergonhosos de nossa história recente e deve ser execrado para que nunca mais ocorra. Por verdade, memória e justiça!
Dep. Alencar Santana Braga, líder da Minoria na Câmara
Dep. Wolney Queiroz, líder da Oposição na Câmara
Dep. Arlindo Chinaglia, líder da Minoria no Congresso
Dep. Reginaldo Lopes, líder do PT na Câmara
Dep. Bira do Pindaré, líder do PSB na Câmara
Dep. André Figueiredo, líder do PDT na Câmara
Dep. Sâmia Bomfim, líder do PSOL na Câmara
Dep. Renildo Calheiros, líder do PCdoB na Câmara
Dep. Joenia Wapichana, líder da Rede na Câmara