31 DE MARÇO

Ditadura Militar: os apoiadores do golpe de 64 que estão no poder

Com o mesmo discurso propalado por Bolsonaro, de combater o "comunismo", militares se aliaram a empresários, políticos, ruralistas, conservadores e levaram o país a um amanhecer sombrio por 21 anos

Jair Bolsonaro e Walter Braga Netto.Créditos: Isac Nóbrega/PR
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Há 58 anos, na madrugada de 31 de março de 1964, as tropas comandadas pelo general Olímpio Mourão Filho partiram de Minas Gerais para o Rio de Janeiro, onde tomaram o forte de Copacabana, no dia 1º de abril, e destituíram o governo constitucional de João Goulart. 

Na mesma capital fluminense, Jango, 18 dias antes, em comício para 200 mil pessoas havia anunciado as chamadas reformas de base, que contemplava a reforma agrária, a desapropriação de terras e a nacionalização das refinarias de petróleo.

Com o mesmo discurso hoje propalado por Jair Bolsonaro (PL), de combater o "comunismo", os militares se alinharam a parte do empresariado, ruralistas, cristãos conservadores - então uma ala da Igreja Católica - e governadores de estados importantes, como São Paulo e Rio, para levar o Brasil a um amanhecer sombrio pelos próximos 21 anos.

Em 2018, 33 anos após os civis iniciarem o processo de redemocratização do país, o capitão, que ganhou o título ao ser expurgado das Forças Armadas após tentativa de sublevação, levou o discurso, os métodos e apoiadores do golpe de 64 de volta ao poder.

Muitos dos que defendiam a Ditadura, como o primeiro-ministro da Educação, o colombiano Ricardo Velez-Rodriguez - que prega que o 31 de março é "uma data para lembrar e comemorar” - cairam pelo caminho.

No entanto, outros tantos, muitos deles doutrinados nas cadeiras das escolas militares, assim como Bolsonaro, seguem firme no governo que cultua torturadores, como Carlos Alberto Brilhante Ustra, e almeja retomar as rédeas ditatoriais que resultaram em 434 mortos ou desaparecidos, 8,3 mil indígenas mortos por "ação ou omissão" - segundo a Comissão da Verdade -, 20 mil torturados, 7 mil exilados e 19 crianças sequestradas.

Os apoiadores do golpe de 64, molecotes ou recém ou nem nascidos na época da tomada de poder, se mostram viúvas da Ditadura ao bajular dia sim, outro também, os arroubos autoritários do chefe.

Veja quem é quem.

- Jair Bolsonaro
Aos 67 anos, Bolsonaro mente descaradamente ao dizer que ajudou na captura de Carlos Lamarca, capitão do Exército que desertou para se tornar líder de grupos armados de resistência à ditadura militar - ele tinha 15 anos recém-completados à época. O presidente tinha 9 anos quando foi dado o golpe, mas doutrinou-se nas escolas militares. Fã de Ustra e outros torturadores, Bolsonaro ganhou na Justiça, no ano passado, o direito de "comemorar" o golpe. O Ministério Público, no entanto, recorreu este ano e pretende reverter a decisão.

- Hamilton Mourão, vice-presidente
Com 68 anos, Mourão tinha 10 à época do golpe. Na caserna, presidiu o Clube Militar do Rio de Janeiro, principal reduto de culto à "revolução de 64", antes de se lançar na política, em 2018. No ano passado, Mourão comemorou o golpe nas redes. "População brasileira, com apoio das Forças Armadas, impediu que o Movimento Comunista Internacional fincasse suas tenazes no Brasil", escreveu.

- Walter Braga Netto, ministro da Defesa

Virtual vice de Jair Bolsonaro nas eleições de 2022, o ministro da Defesa é um entusiasta das celebração do golpe e foi um dos articuladores da ação para comemorar a data. No ano passado, divulgou uma "Ordem do Dia Alusiva ao 31 de março de 1964", em que diz que à época "os brasileiros perceberam a emergência e se movimentaram nas ruas, com amplo apoio da imprensa, de lideranças políticas, das igrejas, do segmento empresarial, de diversos setores da sociedade organizada e das Forças Armadas, interrompendo a escalada conflitiva, resultando no chamado movimento de 31 de março de 1964"

- Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI)
Aos 73 anos, Heleno tinha 17 à época do golpe e conta que "era aluno do segundo ano Científico do Colégio Militar do Rio. Vibrei com a queda de João Goulart, um cancro na política brasileira". Nos anos 70, durante o regime, ele foi instrutor na Academia Militar das Agulhas Negras, no Rio, onde Bolsonaro e outros ministro militares se formaram.

- Bento Albuquerque, ministro de Minas e Energia
Aos 63 anos, o almirante da esquadra se formou na Marinha durante a Ditadura Militar. Discreto, nos dois últimos governos militares ele se dedicou ao programa de submarinos.

- Luiz Eduardo Ramos, ministro da Secretaria-Geral da Presidência
Um dos maiores aduladores de Bolsonaro, Ramos entrou em 1973 na Escola Preparatória de Cadetes do Exército. Aos 65 anos, irônico, segue sendo entusiasta da Ditadura Militar, o que classifica como uma "questão semântica". 

Os civis que apoiaram o golpe e estão no poder

- Paulo Guedes, ministro da Economia
Fiador da política neoliberal que fez com que o "mercado" apoiasse a eleição de Bolsonaro, Guedes evita falar diretamente do assunto, alegando ser "um animal de politização tardia". Nos anos 70, ele serviu a Ditadura Pinochet no Chile - uma das mais sangrentas da América Latina - e diz que o fez por dinheiro, para receber US$ 10 mil por mês. "Ditadura por ditadura, era Figueiredo contra Pinochet. Eu não estava nem aí. Hoje eles falam: ‘Ah, trabalhou para o Pinochet’. Eu nunca vi o Pinochet na vida, não sei nem o que ele fez ou o que ia fazer”, alega.

- Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central
Aos 52 anos, Campos Neto foi alçado à Presidência do Banco Central pelos laços familiares. O avô, Roberto Campos, foi ministro do Planejamento no governo Castelo Branco, logo após o golpe, quando iniciou a condução da implantação das políticas liberais no país.

- Damares Alves, ministra da Família, da Mulher e dos Direitos Humanos
Alçada ao governo, a ex-assessora parlamentar Damares Alves foi escalada por Bolsonaro para fazer o trabalho sujo de tentar limpar a memória das vítimas da Ditadura. No Ministério da Família, da Mulher e dos Direitos Humanos, aparelhou a Comissão de Anistia com militares - órgão que Bolsonaro quer por fim - e negou 90% dos pedidos de reconhecimento de anistiados.