Conhecida como Wal do Açaí, a "ex-secretária parlamentar" Walderice Santos da Conceição declarou em depoimento a procuradores que "nunca" esteve em Brasília. A mulher é acusada pelo Ministério Público de ter sido funcionária fantasma do então deputado federal Jair Bolsonaro (PL), hoje presidente da República.
O depoimento foi colhido em 2018, mas só agora se tornou público. Ao ser questionada pelos procuradores como tinha sido a sua posse no cargo em Brasília, Wal do Açaí responde que nunca esteve em Brasília.
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"A senhora tomou posse aqui em Brasília? Como é que foi a posse da senhora", questiona o procurador. Wal do Açaí responde: "Não, não foi não. Não foi, não foi em Brasília. Eu nunca fui, nunca fui a Brasília".
Em outro momento, o procurador pergunta se Walderice sobre quais funções cotidianas ela executava no dia a dia do gabinete, e Wal do Açaí reafirma que não realizava nenhum trabalho relacionado ao cotidiano parlamentar.
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“A senhora assessorava o deputado em reuniões de comissões, audiências públicas e outros eventos dos quais ele tenha participado?", pergunta o procurador. "Aqui em Angra?", questiona Wal do Açaí. "Em qualquer lugar. A senhora já participou, prestou serviços?", pergunta o MP.
"Não. Até porque... em Angra, não. Até porque quando ele vinha pra cá era férias, né? Então, não tinha isso", revelou Wal. "A senhora lidava com material de expediente, grampeador, papel, alguma coisa relacionada a atividade parlamentar?", questiona o procurador. Wal do Açaí responde com um enfático "não".
O Ministério Público pede que Wal do Açaí e o presidente Bolsonaro sejam condenados pela prática de improbidade administrativa e o ressarcimento dos recursos públicos indevidamente desviados. A ação foi enviada à 6ª Vara Federal do Distrito Federal.
Caso Wal do Açaí volta à tona: Bolsonaro é denunciado pelo MPF
O Ministério Público Federal (MPF) informou, nesta terça-feira (22), que denunciou Jair Bolsonaro (PL) e sua ex-funcionária fantasma, Walderice Santos da Conceição, conhecida como “Wal do Açaí", à Justiça Federal de Brasília. A procuradoria pede que ambos sejam condenados por improbidade administrativa e "ao ressarcimento dos recursos públicos indevidamente desviados".
O caso "Wal do Açaí" veio à tona a partir de reportagens da Folha de S. Paulo publicadas em 2018, quando Bolsonaro era deputado federal e candidato à presidência. As matérias revelaram que Walderice, registrada como funcionária de Bolsonaro em sua secretaria de gabinete na Câmara dos Deputados, vendia açaí em Angra dos Reis (RJ) ao invés de dar expediente na casa legislativa.
A presença dela na loja foi verificada mais de uma vez ao longo do ano e ela ainda prestaria serviços particulares ao então deputado, como cuidados com os cachorros e com uma casa que Bolsonaro mantém na Vila Histórica de Mambucaba.
"A investigação revelou que, durante esses mais de 15 anos, Walderice nunca esteve em Brasília (...) A análise das contas bancárias de Walderice revelou, ainda, uma movimentação atípica, já que 83,77% da remuneração recebida nesse período foi sacada em espécie, sendo que, em alguns anos, esses percentuais de saques superaram 95% dos rendimentos recebidos", diz o MPF, indicando que Wal devia repassar parte de seu salário a Bolsonaro através do esquema de "rachadinha", prática de corrupção a qual seus filhos também são acusados.
Segundo os procuradores, Bolsonaro "tinha pleno conhecimento de que Walderice não prestava os serviços correspondentes ao cargo e, mesmo assim, atestou falsamente a frequência dela ao trabalho em seu gabinete para comprovar a jornada laboral exigida pela Câmara dos Deputados, de 40 horas semanais, e, assim, possibilitar o pagamento dos salários".
"As condutas dos requeridos e, em especial, a do ex-deputado federal e atual presidente da República Jair Bolsonaro, desvirtuaram-se demasiadamente do que se espera de um agente público. No exercício de mandato parlamentar, não só traiu a confiança de seus eleitores, como violou o decoro parlamentar, ao desviar verbas públicas destinadas a remunerar o pessoal de apoio ao seu gabinete e à atividade parlamentar", diz a denúncia remetida à 6ª Vara Federal do Distrito Federal.
Tanto Bolsonaro quanto Walderice já foram intimados pela Justiça e eles devem responder às acusações em um prazo de 30 dias.
Com informações do G1.