Antes mesmo de anunciar os nomes de Fernando Haddad, Flávio Dino, José Múcio, Rui Costa e Mauro Vieira como os primeiros ministros que assumirão em 2023, no seu novo governo, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) antecipou prováveis questionamentos. "Primeiramente vocês devem estar pensando, ou alguém já está com a pergunta preparada: 'Lula, não tem mulheres, não tem negros?' Vai chegar a hora em que vocês verão mais mulheres aqui do que homens, vai chegar uma hora que vocês vão ver a participação de muitos companheiros afrodescendentes aqui de pé, como estão hoje esses companheiros".
A questão da diversidade é uma pauta cara ao PT e ao conjunto dos partidos de esquerda que compõem a coligação, além de ter sido pautada também, durante a campanha eleitoral, pela candidata à presidência pelo MDB, Simone Tebet, que apoiou Lula no segundo turno e participa do governo de transição. Tebet propunha que seu governo teria paridade entre homens e mulheres no primeiro escalão. Além de todas essas pressões, esta também parece ser uma preocupação pessoal de Lula. Não à tôa os próximos nomes dados como certos para assumir pastas são de mulheres.
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Diversidade
Nísia Trindade, presidenta da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) no Rio de Janeiro, é nome quase certo para assumir a pasta com maior orçamento, o Ministério da Saúde. Segunda maior pasta, a Educação também deve ser comandada por uma mulher, a atual governadora do Ceará, Izolda Cela. Marina Silva só não assume o Meio Ambiente se recusar o convite, e nesta semana a cantora baiana Margareth Menezes foi confirmada por interlocutores ligados ao presidente Lula na Cultura. Isso talvez responda ao perspicaz jornalista que perguntou, durante a coletiva, se mulheres, negros e indígenas seriam indicados em pastas estratégicas e com grandes orçamentos.
Além deste incrível quarteto, nomes como os juristas Carol Proner e Silvio Almeida são pensados para os Direitos Humanos, Simone Tebet é nome forte para o Desenvolvimento Social - mas pode assumir algum outra pasta, certo é que fará parte do primeiro escalão -, Valmir Assunção, do MST, é cotado para o ministério do Desenvolvimento Agrário, Marielle Franco pode ser o nome que vá dar destaque à pasta de políticas para as Mulheres, na Igualdade Racial são pensadas figuras como Benedita da Silva, Silvio Almeida e Ieda Leal e Izabella Teixeira é um nome forte para a pasta que deve ser criada de Autoridade Climática. Outro novo ministério será o dos Povos Originários, para o qual Sonia Guajajara é o nome mais forte - caso o PSOL decida participar do governo, que é a tendência. Se tais indicações forem confirmadas, a promessa feita por Lula no anúncio desta sexta será cumprida.
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Bom humor
Após o anúncio dos ministérios, o presidente eleito concedeu entrevista coletiva. Em tom bem-humorado, quando perguntado porque antecipou o anúncio de futuros ministros para data anterior à diplomação, prevista para a próxima segunda (12), Lula respondeu que é para "vocês [jornalistas] terem mais gente para vocês fazerem perguntas, para entrevistar". Ao menos o dobro dos nomes indicados nesta sexta devem ser apresentados após a diplomação, na semana que vem, e deve ocorrer uma terceira leva de indicações, pois o gabinete de transição ainda vai definir a quantidade de ministérios e secretarias novas.
Lula ainda classificou a transição em curso como "a mais democrática da história", dizendo-se impressionado com a quantidade de voluntários e destacando que não foi utilizado todo o recurso disponibilizado para o processo.
Perguntado sobre o perfil que assumirá o Ministério do Planejamento, se será um nome mais técnico "para acalmar os ânimos do mercado", Lula respondeu prontamente que "será de um cara que esteja apto a cuidar do Ministério do Planejamento, do orçamento" e que tenha "bastante afinidade com a Fazenda", deixando claro que a definição é sua e que pode indicar um nome com perfil mais político. "Eu poderia indicar hoje, mas aí vocês não terão notícia na terça, na quarta", voltou a brincar o presidente eleito, que ainda fez piada com o fato de vários dos nomes anunciados já terem sido listados em matérias que cravaram os nomes ao especular as possíveis indicações. "Ninguém consegue segurar a língua do político", disse Lula ao afirmar que aqueles que cravaram as indicações, o fizeram porque tiveram fontes. "Se você não quiser que ele [um político] fale, não diga que é segredo", completou.
Segurança Pública e Defesa
A respeito do ministério da Justiça e Segurança Pública, que será assumido por Flávio Dino, Lula afirmou que há intenção de desmembrá-lo, criando o Ministério da Segurança Pública separado do Ministério da Justiça, mas deixou claro que não será no início do governo. "Vamos primeiro arrumar a casa", disse o presidente eleito, listando desafios que Dino enfrentará. Segundo Lula, o governo federal "tem que se meter" em algumas questões, destacando que o país tem cerca de 17 mil km de fronteira seca e quase 8 mil km de fronteira marítima. Para o ex-metalúrgico, o país precisa de "polícia altamente competente, bem formada, eu diria até bem remunerada. Isso estará na pauta".
O presidente eleito também defendeu a retomada do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci) e deixou claro que pretende combater a política de segurança pública que provoca a morte de moradores de bairros periféricos. "Não podemos errar. A gente não pode fazer da segurança pública uma pirotecnia", disse Lula, defendendo que não basta a presença da polícia com ausência do Estado e dizendo que atuará de forma integrada com estados e municípios. Ao final da entrevista, o futuro ministro, Flávio Dino, anunciou que o delegado Andrei Augusto Passos Rodrigues assumirá a Polícia Federal.
Forças Armadas
A respeito do Ministério da Defesa, Lula afirmou depositar confiança em José Múcio, a quem chamou de companheiro, e disse que o indicado para o ministério lhe apresentará nomes para o comando das Forças Armadas, para que ele aprove ou não. Ele ainda lembrou que governou o país por 8 anos com relação "extraordinária" com o Exército, a Marinha e a Aeronáutica. "Fui o presidente que mais recuperou condições econômicas e necessidades estratégicas das Forças Armadas", completou Lula, citando a compra de aviões após o "sucatão", que era o avião presidencial até o governo Fernando Henrique Cardoso, ter sido aposentado. A missão da Defesa foi classificada como "nobre", relacionada por Lula à soberania e à segurança do país.
Outro assunto abordado foi o chamado Orçamento Secreto. Lula se limitou a dizer que o tema está na Suprema Corte desde antes de sua eleição e que em algum momento os ministros irão colocá-lo em pauta. "Não tenho ainda nenhum poder de interferência sobre como e quando vão votar", acrescentou o presidente eleito, que afirmou ainda ainda que todos conhecem seu pensamento. "Sempre achei que emenda do deputado é importante, o que não precisa é ser secreta", disse, para em seguida minimizar qualquer possível atrito com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL): "todo mundo sabe que eu penso isso, o Lira sabe que eu penso isso".