O ex-presidente Jair Bolsonaro, que deixou o Brasil na sexta-feira (30) para não ter que passar a faixa ao presidente eleito Lula (PT) na cerimônia de posse, resolveu se manifestar na tarde deste sábado (31) sobre a morte de Joseph Ratzinger, o Papa Emérito Bento XVI.
Diferentemente de outros líderes mundiais, que têm se limitado às condolências nas notas sobre o falecimento do religioso, Bolsonaro aproveitou seus "pesares" para atacar a esquerda, conforme fez ao longo de toda a sua carreira política.
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Através das redes sociais, o ex-mandatário diz que recebeu "com grande pesar" a notícia da morte de Bento XVI e que o ex-pontífice "deixa um legado imenso para a Igreja católica, para todos os cristãos e para a humanidade".
Na sequência, Bolsonaro passa a fazer referências políticas, citando antigas críticas de Bento XVI à Teologia da Libertação, de maneira oportunista, para atacar o marxismo.
"Em defesa da verdade do Evangelho, criticou sem medo os erros da chamada “teologia da libertação”, que pretende confundir o Cristianismo com conceitos equivocados do marxismo", escreveu o ex-presidente.
A Teologia da Libertação é um movimento sócio-eclesial surgido na Igreja Católica na década de 1960 e engloba diferentes correntes de pensamento para interpretar os ensinamentos cristãos à luz do cunho social, buscando apontar injustiças e auxiliar a população pobre e oprimida na luta por liberdade e direitos. Por este motivo, o movimento é associado à esquerda, apesar de ser apartidário.
"O Papa Bento, ao contrário, fundamentou todos os seus escritos e ensinamentos na Verdade que liberta (João, 8,32)", prosseguiu Bolsonaro, referenciando seu slogan bíblico de campanha "E conheceis a verdade e a verdade vos libertará".
O que Bento XVI disse sobre a Teologia da Libertação?
Em sua primeira entrevista após renunciar ao papado, em 2014, Bento XVI criticou a suposta falta de "clareza" da Teologia da Libertação.
"Tanto na Europa quanto na América do Norte era difundida a opinião de que se tratava de um apoio aos pobres e, portanto de uma causa que sem dúvida se devia aprovar. Mas era um erro. A pobreza e os pobres eram sem dúvida colocados em evidência pela Teologia da Libertação mas, no entanto, em uma perspectiva muito específica. Não era questão de ajuda ou de reforma, mas da grande mudança que devia fazer nascer um mundo novo. A fé cristã era usada como motor por esse movimento revolucionário, transformando-se assim em uma força política. Naturalmente, essas ideias se apresentavam com diversas variantes e nem sempre se mostravam com absoluta clareza, mas, no todo, essa era a direção. A uma símile falsificação da fé cristã era necessário se opor até mesmo por amor aos pobres e em prol do serviço que deve ser feito para eles", disse à época.
Conservador
Nascido em Marktl am Inn, município alemão do estado da Baviera, perto da fronteira com a Áustria, em 16 de abril de 1927, Joseph Aloisius Ratzinger foi ordenado padre em 29 de junho de 1951 e era conhecido por suas posições conservadoras e polêmicas, que defendeu mesmo após abdicar ao papado.
No Segundo Concílio do Vaticano (1962 – 1965), Ratzinger assistiu como peritus (especialista em teologia) do Cardeal Joseph Frings de Colónia.
Realizado em 1961, o Concílio reformou vários temas da Igreja Católica - como a missa, que deixou de ser rezada em latim e passou a ser feita nos idiomas locais - que ainda hoje causam polêmica entre conservadores e progressistas no catolicismo.
No tempo em que esteve como papa emérito, Bento XVI provocou crise na igreja por supostas críticas - desmentidas por ele - ao Papa Francisco, que defendeu o casamento de padres na Amazônia.
Bento XVI também foi acusado de encobrir casos de pedofilia e chegou a admitir a presença em reunião sobre padre acusado de abuso sexual.