TRANSIÇÃO DE GOVERNO

Mourão detona Bolsonaro: "Agora não adianta mais chorar"

Autodeclarado "apêndice" no governo, Mourão classificou Bolsonaro como sem noção, "verborrágico" e mandou o presidente e apoiadores golpistas a "baixarem a bola". Sobre se conversa com Lula em 2023 foi enfático: "lógico".

Jair Bolsonaro e Hamilton Mourão.Créditos: Presidência da República
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Atuando como "apêndice" - palavra usada por ele - durante os quatro anos em que esteve na vice-presidência da República, o senador eleito general Hamilton Mourão (Republicanos-RS) atacou duramente o comportamento de Jair Bolsonaro (PL) em longa entrevista na edição desta quarta-feira (2) do jornal O Globo.

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Antes de dizer que nas eleições havia "o jogador que não deveria jogar foi (autorizado a jogar)", em referência a Lula (PT), que venceu o pleito, Mourão falou que não adianta agora Bolsonaro chorar.

"Nós concordamos em participar de um jogo em que o outro jogador (Lula) não deveria estar jogando. Mas se a gente concordou, não há mais do que reclamar. A partir daí, não adianta mais chorar, nós perdemos o jogo", afirmou.

Na sequência, o vice-presidente mandou Bolsonaro e os apoiadores que realizam protestos nas rodovias contra o resultado das urnas "baixarem a bola".

"Nós concordamos em participar de um jogo em que o outro jogador (Lula) não deveria estar jogando. Mas se a gente concordou, não há mais do que reclamar. A partir daí, não adianta mais chorar, nós perdemos o jogo", afirmou o militar, que antes de entrar para a política presidiu o Clube Militar do Rio de Janeiro, núcleo golpista de reservistas.

Mourão afirmou ainda, sobre os protestos, que "não considero que houve fraude na eleição" e que orientou Bolsonaro a se pronunciar durante as 45 horas em que manteve silêncio após o anúncio da vitória de Lula.

O general ainda destilou uma série de alfinetadas sobre Bolsonaro, a quem classificou como sem noção, "verborrágico" e que como deputado tinha o papel de "meter o dedo nos outros".

Indagado sobre a "dificuldade de comunicação" com o presidente, Mourão disse que "nunca briguei com ele publicamente".

"Ele reclamava de mim, pô. É aquela história, eu tenho noção, né?", afirmou.

Em seguida pontuou as diferenças que vê entre ele e o presidente derrotado nas urnas.

"Ele é um sujeito mais incisivo, mais verborrágico, e eu não sou. Minha forma de fazer as coisas é outra. Ele sempre foi deputado. Na Câmara, se você não se destaca pela peleia, é engolido. E o papel do Bolsonaro era meter o dedo nos outros. E ele continua fazendo esse papel. E eu nunca fui disso, eu passei dessa fase na minha vida", afirmou Mourão, denunciando o comportamento imaturo de Bolsonaro.

O general ainda confirmou a conversa com o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB) - "é um cara educado, eu também sou" - dizendo que é "de boa educação eu me dirigir a ele e dizer que estamos em condição de recebê-lo, que a casa em que ele vai morar está em condições de ser vistoriada".

Por fim, disse que quer chegar como "aluno" no Senado, antes de tentar presidir a casa legislativa. E foi incisivo ao dizer se vai até Lula, caso seja convidado: "Lógico".