ELEIÇÕES 2022

"Desde a Lava-Jato começamos a perder o senso do que é a política", diz Cardeal de Manaus

Nomeado cardeal pelo Papa Francisco em agosto, dom Leoanardo Steiner classificou como "péssima" balbúrdia de Bolsonaro em Aparecida e rebateu acusações de que CNBB é "comunista". "Essa crítica é ideológica"

Papa Francisco e dom Leonardo Steiner.Créditos: Vatican News
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Em entrevista a Ivan Martínez-Vargas, no jornal O Globo desta terça-feira (18), dom Leonardo Steiner - que foi nomeado cardeal pelo papa Francisco em agosto, criticou duramente o uso eleitoreiro da religião por Jair Bolsonaro (PL) e lembrou que a "perda de senso do que é política" começou com a Lava Jato, capitaneada por Sergio Moro e Deltan Dallagnol, senador e deputado eleitos que estão ao lado do atual presidente.

"A presidência da CNBB tem se manifestado [sobre a campanha eleitoral], a assembleia [dos bispos] também. No mês de setembro se manifestou com um texto claro [que falava em risco à democracia]. Mais recentemente, a CNBB fez uma declaração sobre o uso indevido da religião para fins políticos. O Papa Francisco está muito atento ao que está acontecendo no Brasil. O que preocupa é a violência com que se apresentam as notícias falsas. Isso é uma agressão à dignidade humana e à ética, deseja-se ganhar a parte da mentira e do engano. Passadas as eleições, precisamos fazer uma reflexão sobre onde estamos como sociedade. Desde a Lava-Jato começamos a perder o senso do que é a política", afirmou dom Leonardo.

O religioso ainda rebateu os ataques de bolsonaristas que classificam a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) como "esquerdista" e "comunista".

"Uma das preocupações principais da entidade sempre foi a questão da pobreza. Quando dizemos da necessidade dos pobres não serem colocados à margem, isso incomoda alguns. Quando a CNBB aponta esses elementos, ficam acusando de comunismo. Não se trata disso, e sim de (viver o) Evangelho. Está escrito no evangelho de Mateus: 'tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era estrangeiro, e me hospedastes; estava nu, e me vestistes. Eu estava na prisão e fostes me visitar'. Dom Helder Câmara (arcebispo de Olinda e Recife, notório defensor dos direitos humanos) era muito estimado, mas também muito criticado por alguns. Ele dizia: 'Se dou pão aos pobres, todos me chamam de santo. Se mostro por que os pobres não têm pão, me chamam de comunista'. Penso que aí está a questão. Penso que essa crítica é ideológica", disse.

Em relação à balbúrdia de Bolsonaro e seguidores em Aparecida no dia de Nosse Senhora Aparecida, o cardeal reiteirou que "lugares de romaria não são lugares de pedir voto e fazer comício".

"Ali (em Aparecida) se vai para rezar discretamente, para estar junto de Nossa Senhora, que nos conduz a Jesus. É péssimo que se use esses momentos significativos da fé do povo para querer angariar votos. Isso não tem nada de religião".

Dom Leonardo também falou do incentivo de Bolsonaro ao desmamatamento na Amazônia.

"A depredação da Amazônia preocupa. O Governo não tem feito muito coisa, eu diria que até tem incentivado, por meio das palavras, o descuido em relação à Amazônia".