DARTH VADER

As mães de bebês reborn e os marmanjos cosplays de Darth Vader

Enquanto tiver gente adulta disposta a fazer papel de idiota acalentando bonecos e se fantasiando de heróis imaginários, haverá espertos para vender tais bugigangas

Darth Vader.Créditos: Lucas Film/Divulgação
Escrito en OPINIÃO el

Se os homens podem, as mulheres também podem. Este é o tom de dois ótimos artigos publicados nesta Fórum. Um deles de Lelê Teles, com o divertido título de “Sobre a machulência e os bebês reborn”. O outro, um tanto mais direto e reto, chamado “Em defesa dos bebês reborn (e de suas mães)”, de Yuri Ferreira.

Nos dois casos a tônica é parecida, pra não dizer a mesma. Homens têm – e sempre tiveram – seus hobbies infantilóides e a eles, consequentemente, sempre foi dado este direito. No entanto, quando as mulheres se entregam a bizarrices semelhantes, elas são esculhambadas.

Não há como não concordar com Lelê e Yuri. Há machismo e misoginia em tudo e em toda a parte. Só acrescento um detalhe um tanto relevante. Os dois lados, neste caso, me parecem extremamente reveladores de, no mínimo, várias ausências: de criatividade, de realizações reais da vida e, sobretudo, de inteligência.

Não vejo diferença alguma entre um sujeito que vai à pré-estreia de um dos filmes da saga Star Wars fantasiado de Darth Vader para a moça que faz, com voz tatibitate, o parto de um bebê reborn. Os dois me espantam – e que me desculpem os atingidos – pela extrema manifestação de imbecilidade.

O curso da vida

Crianças que se fantasiam de super-heróis estão cumprindo o curso de suas vidas. E a linha do tempo prossegue com cada vez mais novos e melhores atributos e escolhas. Aprendemos a gostar der vinho, literatura, boa música e bons filmes.

Mas há os que se esquecem ou não conseguem construir a própria existência. Sujeitos que se fantasiam de Paul McCartney em bandas cover dos Beatles, por exemplo, sempre me lembram os anos 60, pelas ruas do bairro do Boqueirão, em Santos, quando um gritava: “eu sou o Pelé”, e o outro respondia: “tá, eu vou ser o Rivelino”, e por aí afora.

O tempo passa e nos tornamos nós mesmos, ou quase isso, com nossos valores e atitudes. E com eles criamos nossos filhos reais e descobrimos que super-heróis, infelizmente, não existem. Que o buraco fica muito mais embaixo quando pretendemos mudar e compreender o mundo.

No final das contas, é sempre bom que se lembre, cosplays, bonecos reborn e toda a sorte de fantasias infantilóides servem, e muito bem, pra alimentar a indústria. Enquanto tiver gente adulta disposta a fazer papel de idiota acalentando bonecos e se fantasiando de heróis imaginários, haverá espertos para vender tais bugigangas.

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