Missão Nordeste no Oriente Médio – Dia 5
De lá para cá e de cá para lá, a paisagem se transforma. A imagem do vaqueiro nordestino — com chapéu marcado por simbologias islâmicas, palavras herdadas do árabe, tecnologias adaptadas à secura — não é apenas uma coincidência histórica
Dubai nos recebeu com sol, aço e silício. O quinto dia foi de visitas técnicas e encontros estratégicos — mas também de sinergias sutis, de escutas que se alargam e reconhecimentos inesperados.
Logo cedo, conhecemos o Parque Solar Mohammed bin Rashid Al Maktoum, uma usina que opera 24 horas por dia, atravessando o deserto com painéis que parecem flores de luz. O que vimos lá escancarou não apenas as possibilidades, mas também nossas limitações. Produzimos muita energia renovável no Nordeste, mas nos faltam linhas de transmissão que integrem territórios e potencializem a distribuição. Produzir não basta — é preciso escoar. É preciso conexão.
No Porto Jebel Ali, impressionaram a escala e a eficiência. E mais que isso: a clareza de que parcerias ali podem acelerar a modernização dos nossos próprios portos. Sabemos bem o quanto o Nordeste precisa ampliar sua capacidade logística e integrá-la a uma infraestrutura que ainda rasteja entre o rodoviário e o ferroviário. Queremos exportar mais — mas queremos exportar com propósito. Portos verdes para escoar os frutos de uma transformação ecológica que já está em curso.
No ICBA — uma espécie de Embrapa árabe — abrimos diálogos promissores. Falar da Caatinga ali foi como acender um rastilho de curiosidade científica. O bioma que muitos tratam como obstáculo revelou-se, de novo, um trunfo. Há sinergias reais entre o sertão e o deserto. Segurança hídrica, alimentação, biodiversidade e clima — temos muito a trocar.
À tarde, o Brazil–UAE Investments Rounds reuniu empresas interessadas, representantes do BNDES e do Banco do Brasil. Apresentamos os novos fundos estruturados pelo Consórcio Nordeste — FIDC e FIP que somam cerca de 1 bilhão de dólares vinculados à transformação ecológica da região. A senhora Mariam Al Rais (do Ministério da Economia dos Emirados) esteve presente, representando o interesse institucional dos Emirados em conhecer e aprofundar parcerias com a região.
Encerramos o dia com um coquetel de despedida. Mas ninguém foi embora de verdade. Porque quando o deserto encontra o sertão, algo se finca. Houve curiosidade. Houve respeito. Houve compromisso.
E, talvez o mais bonito: houve reconhecimento. De lá para cá e de cá para lá, a paisagem se transforma. A imagem do vaqueiro nordestino — com chapéu marcado por simbologias islâmicas, palavras herdadas do árabe, tecnologias adaptadas à secura — não é apenas uma coincidência histórica. É um testemunho. De que já estivemos conectados antes. E podemos estar de novo.
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum