OPINIÃO

Quaest mostra que Lula precisa cumprir promessa de pôr pobre no orçamento e rico no Imposto de Renda

Pesquisa traz uma avenida para Lula desfilar e retomar aprovação. E para isso, basta lembrar da principal promessa de campanha: "colocar os pobres no orçamento e os ricos no imposto de renda".

Lula no lançamento da isenção do IRPF para faixa até R$ 5 mil.Créditos: Ricardo Stuckert / PR
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Pesquisa Quaest, encomendada pelo banco Genial, divulgada nesta quarta-feira (2) mostra que, para retomar a popularidade, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva precisa focar em uma das suas principais promessas de campanha: "colocar os pobres no orçamento e os ricos no imposto de renda".

Diferentemente da Latam Pulse divulgada no dia anterior, que mostra uma desaceleração da avaliação negativa do presidente entre fevereiro e março, a Quaest teve um hiato com a última pesquisa indo a campo em janeiro, o que se traduz na curva mais acentuada de desaprovação do governo: que passou de 49% para atuais 56% desde o primeiro mês de 2025. A aprovação foi de 47% para 41% e não sabem ou não responderam de 4% para 3%.

Essa avaliação ganha destaque em dois nichos específicos: região e renda. E se relaciona com as políticas sociais anunciadas pelo governo nos últimos meses, com destaque para a isenção do Imposto de Renda para a faixa até R$ 5 mil e a desoneração da taxação sobre alimentos.

Regiões e renda

No Nordeste, onde Lula tem mais capilaridade eleitoral, a aprovação caiu de 59% em janeiro para atuais 52% se aproximando da desaprovação, que subiu de 37% para os atuais 46%.

No Sudeste, onde se concentram os maiores colégios eleitorais do país, e no Sul a pesquisa registra um aumento considerável da desaprovação. Passou de 53% para 60% no Sudeste e de 59% para 64% no Sul. Já no Centro Oeste/Norte, a desaprovação foi de 49% para 52% e a aprovação de 48% para 44%.

Em relação à renda, na faixa mais pobre (até 2 salários mínimos), acontece um movimento similar ao do Nordeste. Lula ainda lidera, com a aprovação variando de 56% em janeiro para atuais 52%, com uma crescente desaprovação, que foi de 39% para 45% no período.

Na classe média (2 a 5 salários mínimos), mais beneficiada pela isenção do IRPF, a desaprovação saltou de 54% para 61% e a aprovação foi de 49% para 36%. 

Nesse recorte, Lula vinha numa crescente desde fevereiro de 2024, chegando a 51% de aprovação contra 46% de desaprovação em outubro de 2024. Dois meses depois, houve a inversão e a avaliação negativa, com 50%, superou a positiva, de 48%, com o "jacaré abrindo a boca" desde então.

Entre os mais ricos, com ganhos acima de 5 salários mínimos, a avaliação negativa saiu de 59% em janeiro para 64%. No sentido contrário, a aprovação caiu de 39% para 34%.

Vale destacar que a aprovação de Lula vem caindo até mesmo entre aqueles que votaram no petista no segundo turno de 2022, atingindo 72% - era 81% em janeiro. Entre os que declaram voto branco e nulo a desaprovação passou de 55% para 62% e a aprovação caiu de 38% para 31%.

Promessas de campanha

Desde abril de 2023, a Quaest tem mostrando uma desconfiança crescente entre os eleitores de que Lula vai cumprir as promessas de campanha. À época, 55% diziam que ele não cumpriria e 35% que cumpriria.

Atualmente, o índice de desconfiança no presidente está em 71%. Apenas 24% acreditam que Lula deve honrar com o que prometeu nas ruas em 2022 - embora boa parte da população ainda veja boas intenções do presidente.

Esses dados se refletem muito na questão econômica - 56% dizem que a economia piorou, um salto de 17 pontos desde janeiro. Segundo a Quaest, 88% afirmam que os preços dos alimentos subiram no último mês, quando o presidente anunciou a desoneração dos impostos sobre a cesta básica.

O dado encontra respaldo na comunicação: 56% dizem que só souberam da desoneração da importação de 11 alimentos básicos na hora em que foram abordados pela Quaest - sendo que 48% acreditam que a medida surtirá efeito nos preços nos supermercados.

Sobre a isenção do Imposto de Renda, a maioria (53%) diz que "já sabia" da medida, sendo que 66% afirmam ter entendido "completamente" as novas regras do IRPF - um assunto difícil para boa parte da população.

No entanto, 35% dizem já ser isentos. Ou seja, não tiveram benefício algum com a medida - 13% é o índice daqueles que afirmam que passarão a ser isentos e também dos que devem se beneficiar parcialmente com a medida.

A maioria dos que declaram que já eram isentos estão na faixa até 2 salários mínimos (41%) e entre 2 e 5 salários mínimos (38%). Na parcela mais pobre, apenas 9% serão totalmente beneficiados pela medida e 6% parcialmente. Outros 26% afirmam que não serão beneficiados.

Trocando em miúdos, a principal aposta do governo teve pouca capilaridade na faixa onde a desaprovação do presidente é mais crescente.

Essa faixa é a que mais sofre com os preços nos supermercados - e pouco sabia da medida de desonerar a cesta básica. Ou seja, o pobre não sente que está sendo "colocado no orçamento" pelo governo.

Um outro dado da pesquisa diz respeito à outra parte da promessa de campanha de Lula: 59% concordam com a taxação para endinheirados (alta renda). E esse apoio se expande nas três faixas de renda: 58% entre os mais pobres, 60% na classe média e 58% entre aqueles com renda familiar acima de 5 salários mínimos.

A falha no direcionamento das políticas sociais e, especialmente, na forma de divulgar essas medidas podem ser comprovadas em outro dado: o índice da percepção de que há mais notícias negativas sobre o governo saltou de 31% para 47% entre junho de 2023 e março deste ano. No período, aqueles que dizem ouvir mais notícias positivas caiu 10 pontos, de 33% para 23% no período.

Nesta semana, Lula deve lançar um novo plano de comunicação do governo, focado na máxima "o Brasil é dos brasileiros". A campanha deve atingir principalmente as mídias por onde as pessoas mais se informam: TV (44%), redes sociais (34%) e sites, blogs e portais de notícias (10%).

A pesquisa Quaest, no entanto, traz uma avenida para Lula focar as ações no próximo ano. E para isso, basta lembrar da principal promessa de campanha: "colocar os pobres no orçamento e os ricos no imposto de renda".

É a burguesia que tem que arcar com a reparação histórica do fosso da desigualdade no Brasil. E é esse o principal embate com a ultradireita entreguista neoliberal de Jair Bolsonaro.

Leia a íntegra da pesquisa
 

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