O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva poderá rever os contratos firmados durante o governo Bolsonaro com a Starlink, empresa de internet via satélite controlada por Elon Musk. A proposta foi formalmente encaminhada ao Planalto nesta segunda-feira (31) pelo deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ), que alertou sobre os riscos à soberania nacional representados pela atuação “político-ideológica e arbitrária” do bilionário sul-africano naturalizado estadunidense.
A Starlink, que lidera o fornecimento de internet por satélite no Brasil, tem expandido sua presença em regiões remotas, inclusive na Amazônia. Contudo, segundo Lindbergh, a dependência de infraestrutura estrangeira coloca o país em posição vulnerável. “Estamos diante de uma nova corrida tecnológica global e precisamos nos proteger”, afirmou o parlamentar, em referência à disputa geopolítica entre Estados Unidos e China.
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A indicação enviada à Casa Civil lembra que Elon Musk não apenas concentra poder sobre dados estratégicos de diversos países por meio de suas empresas, mas também interfere diretamente em processos democráticos.
O empresário, que atualmente comanda o Departamento de Eficiência Governamental do governo Trump nos EUA, já tentou influenciar na política alemã ao apoiar o partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD), às vésperas das eleições parlamentares do país, além de ter se envolvido em confrontos com autoridades judiciais brasileiras — episódio que culminou na suspensão temporária da rede social X (antigo Twitter) no Brasil.
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Tendência global
A proposta brasileira de Lindbergh segue uma tendência global. A Itália paralisou negociações com a Starlink após declarações polêmicas de Musk. Na América Latina, o empresário Carlos Slim, dono da gigante América Móvil, rompeu colaborações com a empresa americana, gerando um prejuízo estimado em 7 bilhões de dólares à Starlink.
“O Estado brasileiro precisa usar seu poder de compra de forma estratégica, substituindo contratos com empresas estrangeiras por soluções nacionais”, defendeu Lindbergh.
Ele cita como exemplos positivos iniciativas como o Plano Nacional de Inteligência Artificial e a Nova Indústria Brasil, mas afirma que ainda são insuficientes diante da crescente influência de grandes corporações sobre a infraestrutura digital do país.
O documento ressalta que, diante do agravamento da disputa entre potências, o Brasil deve priorizar sua segurança cibernética e investir em datacenters e serviços digitais brasileiros. A proposta agora aguarda resposta do Poder Executivo. Caso avance, pode representar um marco na forma como o Brasil lida com gigantes da tecnologia global.
"Com o aumento da temperatura na disputa das grandes potências mundiais, o caminho é defender a soberania nacional, por meio da segurança cibernética e promoção de datacenters e serviços digitais totalmente brasileiros", arremata Lindbergh.