OPINIÃO

Chegou a hora de enfrentar o fundamentalismo! - Por Pr. Zé Barbosa Jr

O silêncio diante do crescimento dos mais absurdos frutos desse fundamentalismo nos fizeram chegar onde chegamos: às portas de uma teocracia pseudocristã

Chegou a hora de enfrentar o fundamentalismo! - Por Pr. Zé Barbosa Jr.Frei GilsonCréditos: Reprodução redes sociais
Escrito en OPINIÃO el

Na semana em que Baby do Brasil irrompe transformando uma das mais aclamadas baladas de São Paulo, transformando-a num culto e pregando que violências sexuais, abusos (principalmente promovidos por familiares) deveriam ser perdoados ao invés de severamente denunciados e punidos e que Frei Gilson, um frade emergente nas redes sociais e totalmente envolvido com ações da extrema-direita no Brasil, que conta com milhões de seguidores, afirma sem pudor algum que o papel da mulher é ser “auxiliadora” do homem e que a ideia de empoderamento feminino é uma artimanha diabólica, somente uma certeza me vem à mente: o fundamentalismo religioso precisa ser enfrentado no Brasil. Sob pena de uma ditadura do moralismo barato e hipócrita desses mesmos fundamentalistas.

Ainda que alguns apelem para um recuo de forças e uma espécie de “política de boa vizinhança” com os fundamentalistas, e que isso até pareça (só parece, mas carece de realidade e plausibilidade) sabedoria, não hesito em afirmar que foi exatamente a passividade e o silêncio diante do crescimento dos mais absurdos frutos desse fundamentalismo que nos fizeram chegar onde chegamos: às portas de uma teocracia pseudocristã (pois nada tem do Cristo e do Evangelho) que deseja impor ao estado brasileiro suas opiniões doutrinárias e moralistas como se fossem verdades universais necessárias ao sucesso do país.

Acontece que enfrentar o fundamentalismo, por mais incrível que possa parecer, passa por dialogar com todos os setores religiosos ainda não cooptados pelos extremismos, ainda que flertem com eles. E são essa paciência e vontade que parecem faltar para aqueles que se opõem aos sistemas dominados pelo recrudescimento das forças conservadoras no mundo e que aqui no Brasil têm sido largamente alimentadas por alguns setores das igrejas católicas e evangélicas. Malafaia e Frei Gilson são apenas pontas de um enorme iceberg que precisa ser derretido.

A ideia de que o enfrentamento ao fundamentalismo só aumentará a distância de católicos e evangélicos das possibilidades políticas apresentadas pelos defensores da democracia, desde o centro, centro-esquerda até á esquerda propriamente dita não é de toda verdadeira. Até porque o contrário nunca foi testado. A apatia e o calar-se diante dos maiores absurdos que cotidianamente assistimos só fez com que a extrema-direita se refastelasse nesse ambiente, intencionalmente desocupado por aqueles que se dizem defensores do Estado de Direito. Essa ideia só se confirma diante do não-enfrentamento que até hoje reina absoluto. E precisamos “testar” o contrário, o oposto, a oposição inteligente, o diálogo a partir das realidades conhecidas dessas pessoas.

E é aí que a esquerda se perde: ela não admite que quem pode fazer isso são os próprios religiosos que estão “do nosso lado”. Gente que conhece por dentro as estruturas não por estudar a partir de pesquisas, mas por vivenciar a fé no mesmo grau em que abraçam suas ideologias políticas. Sim, há muita gente disposta a esse enfrentamento mas que não encontra na própria esquerda, nos partidos e nas instituições, espaço para serem sequer ouvidas, quanto mais respeitadas e tendo seus projetos abraçados para esse embate tão visceral e necessário nesse momento da história.

Não dá mais para abraçar a política do “calar-se para não piorar” quando a situação já é calamitosa e só piora a cada declaração fundamentalista abraçada e acolhida por muitos sem quaisquer reações de uma esquerda cada vez mais distante das bases, das realidades periféricas e da realidade religiosa brasileira, libertária e democrática por “essência” (a mensagem de Jesus é, por excelência, democrática e libertadora), mas momentaneamente cooptada pelos projetos absolutistas de uma extrema-direita que não hesita em disputar esse campo. E que por enquanto ganha fácil por WO.

Ainda há tempo de reagir... ainda.

Reporte Error
Comunicar erro Encontrou um erro na matéria? Ajude-nos a melhorar