O paraibano Vital Farias partiu na última quarta-feira (5), aos 82 anos, vítima de um infarto do miocárdio. O cantor, compositor e violonista era daquele tipo de artista cujas obras eram muito mais conhecidas do que ele próprio. É muito comum você encontrar gente que nunca ouviu falar dele, mas que sai cantando imediatamente a letra inteira quando alguém assopra: “não se admire se um dia, um beija-flor invadir...”
Além de “Ai Que Saudade D'Ocê”, Vital é autor de vários outros sucessos que ficaram conhecidos principalmente nas vozes de outros cantores como “Veja”, “Caso você case” e “Canção em dois tempos”. Isto tudo, apesar de possuir uma bela voz, com grande intensidade nas suas interpretações e, de quebra, ainda tocar um lindo violão, que pontuava suas melodias com maestria.
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O estilo de compor de Vital Farias sempre foi muito característico, lírico, em que alternava frases melódicas extensas, que lembravam as velhas serenatas, com trechos curtos baseados nos ponteios de viola, nos sons do sertão.
Nascido no sítio Pedra d'Água, município de Taperoá, Vital era o caçula de uma família de 14 irmãos. Aprendeu tudo o que sabia por conta própria. Foi alfabetizado em casa e, com 18 anos, foi servir ao exército em João Pessoas, onde se encantou pelo violão, instrumento que aprendeu sozinho e determinou sua vida.
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Sua estirpe de compositores e cantores caminha lado a lado com Dércio Marques, Xangai João Bá, Elomar entre outros. Trovadores que sempre preservaram suas respectivas obras dos modismos e ocasiões. Nunca entrou em onda alguma, jamais se fantasiou de astro ou fez qualquer concessão.
Seu momento de maior exposição se deu durante os espetáculos “Cantoria”, junto com Xangai, Elomar e Geraldo Azevedo. O espetáculo foi registrado em dois álbuns fundamentais da nossa canção popular. Talvez o nome menos conhecido entre os quatro, era um dos que tinha os maiores sucessos entre todos, ao lado do pernambucano Geraldo Azevedo.
Os registros do “Cantoria”, gravados originalmente em 1984, no Teatro Castro Alves, em Salvador, foram lançados pelo bravo selo Kuarup. Os álbuns são disputados a tapas até hoje por fãs e colecionadores.
Além dos dois “Cantoria”, Vital deixou uma pequena e intensa discografia de apenas cinco discos, sendo um deles ao vivo. Neles, estão algumas canções fundamentais da nossa música, derramadas, bonitas, elaboradas e inesquecíveis.
Vital Farias também teve uma intensa e confusa atuação política, em que foi do PSOL para o bolsonarismo em pouco menos de vinte anos. Foi candidato a vários cargos, teve alguns resultados bons, mas nunca se elegeu.
O melhor mesmo de sua vida, no entanto, fica por conta de sua obra, que sempre nos legou um tanto de encanto, talento e alegria.