Quem acompanha a corrida eleitoral para a prefeitura de São Paulo está acompanhando institutos como Quaest, Atlas, Datafolha, RealTime Big Data e tentando entender a principal pergunta: o que está acontecendo?
Pesquisas eleitorais não são resultados e não devem ser tomadas como definitivas. Há quem as considere como "fotografias" de momentos da campanha, outros as interpretam como "tendências", e há aqueles que acreditam que elas não devem ser levadas a sério. O fato é que, com tantos institutos e tantas diferenças - existem pesquisas que mostram Boulos na liderança, outras que indicam Nunes à frente, e um tal de Instituto Veritá coloca Marçal como o líder.
Te podría interesar
Além disso, há quem tente interpretar essa eleição como uma disputa ampla entre o campo bolsonarista e o campo lulista. E há também quem veja essas eleições como mais semelhantes às de 2020, analisando cada candidato e cada caso individualmente.
Contudo, o que realmente nos interessa é o crivo da realidade - as urnas.
Te podría interesar
Em 2020, a média das pesquisas nas últimas três semanas de campanha apontava para Bruno Covas (PSDB), do grupo de Nunes, com 30% das intenções de voto. Celso Russomanno (Republicanos) tinha 15%, Boulos (PSOL) 14%, Márcio França (PSB) 11%, Arthur do Val, o Mamãe Falei (Patriota), 4% e Jilmar Tatto (PT) 5%. Joice Hasselmann (PSL) e Andrea Matarazzo (PSD) tinham 1%.
Nos cenários da última semana: Covas aparecia com 34%, chegando a 38% no último Ibope; Boulos, com média de 15% e teto de 17%; Russomanno, com 13%; França, também com 13%, mas com teto de 17%; e Arthur do Val e Tatto, ambos com 5%.
O resultado eleitoral foi o seguinte: Covas obteve 32% (um desempenho inferior ao previsto pelas pesquisas), Boulos 20% (cinco pontos a mais que a média), França 13% (conforme a média), Russomanno 10% (abaixo da média), Arthur do Val 9% (quase o dobro do que indicavam as pesquisas), Tatto 8% (também acima da média), e os demais candidatos ficaram com menos de 2%.
O que isso nos mostra: se as eleições de 2024 seguirem mais ou menos o mesmo padrão de 2020, é possível prever alguns comportamentos, já que não houve mudanças substanciais nas alianças políticas. Nunes e Covas representam a fisiologia da centro-direita paulistana, Boulos tem o apoio do PSOL + PT + Marta Suplicy, França conta com o grupo de Tabata Amaral, e Marçal agrega o voto bolsonarista e evangélico, antes de Russomanno, e o voto fascista e jovem, que foi de Arthur do Val.
É claro que o cenário nacional é diferente, não estamos mais em uma pandemia e os candidatos não são os mesmos.
Mas... se a lógica eleitoral se mantiver, Marçal pode já ter alcançado seu teto: os 10% de Russomanno mais os 9% de Arthur do Val que votaram no fascismo em 2020 devem se repetir em 2024, batendo nos 20% das pesquisas que Marçal vem pontuando.
E se Covas teve um desempenho abaixo da média das pesquisas na eleição passada, há razões para acreditar que Nunes, sendo menos conhecido, possa ficar abaixo dos 30%.
Por outro lado, o desafio de Boulos será recuperar os 4% que o separam das pesquisas atuais em relação à soma dos votos de PT e PSOL em 2020. Ou, como aconteceu há quatro anos, as pesquisas não conseguiram captar a parte do eleitorado que vota na esquerda: os 3% de Tatto e os 5% de Boulos não apareceram nas intenções de voto.
Uma coisa é certa: as pesquisas vão errar. Outra é que Boulos tem que repetir sua estratégia de 2020 para tentar crescer na reta final de uma eleição extremamente difícil para garantir liderança ao chegar em um segundo turno contra Nunes, o seu verdadeiro adversário nessas eleições.