OPINIÃO

Reeleição de Maduro é uma vitória da luta anti-imperialista

Infelizmente, parte considerável da esquerda brasileira não entendeu o que está em jogo. Sem uma agenda geopolítica autônoma, repete de maneira fidedigna todos os clichês, distorções e fake news sobre a Venezuela

Nicolás Maduro.Créditos: Ministério das Comunicações / Governo da Venezuela
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À exceção dos Estados Unidos, nenhuma eleição presidencial em outro país desperta tanto a atenção dos brasileiros quanto a venezuelana. No entanto, diferentemente do pleito estadunidense, onde os dois principais candidatos são praticamente iguais, ou seja, defendem a nefasta política imperialista, na Venezuela há uma nítida polarização. Trata-se de uma eleição fundamental não só para os venezuelanos, mas para todos os povos latino-americanos. 

Entre os dois candidatos favoritos estavam, de um lado, Nicolás Maduro, que, apesar de suas contradições, representa um projeto de governo nitidamente anti-imperialista; de outro lado, o vassalo de Washington, expoente da extrema direita, Edmundo González, cuja vitória poderia transformar Caracas em mero títere do imperialismo. 

Portanto, o chavismo fora do poder representaria uma grande perda para a resistência contra os Estados Unidos (o principal inimigo dos povos oprimidos do planeta). 

Em suma, se há um processo eleitoral que representa o tão usado lema "democracia contra o fascismo", sem dúvida, é o venezuelano. Parafraseando um famoso editorial, uma escolha muito fácil. 

Infelizmente, parte considerável da esquerda brasileira não entendeu o que está em jogo. Sem uma agenda geopolítica autônoma, repete de maneira fidedigna todos os clichês, distorções e fake news sobre a Venezuela divulgados pela mídia hegemônica. 

Nesse pleito, a mentira da vez diz respeito à fala de Maduro, sobre uma possível vitória de González levar a um "banho de sangue na Venezuela", haja vista que medidas neoliberais, típicas da extrema direita, que atacam os direitos da maioria da população, tendem a provocar protestos e confrontos. Além disso, há o 
caráter fascistóide da oposição ao chavismo e sua violência habitual. Assim, somente a vitória de Maduro poderia manter a estabilidade no país. 

Por outro lado, segundo o tradicional padrão de manipulação da imprensa hegemônica, a declaração citada acima  se transformou em ameaça de Maduro em caso de derrota. Ou seja, inverteram o que foi dito. 

Equivocadamente, até o presidente Lula caiu na fake news da grande mídia, ao dizer que Maduro deveria aprender a ganhar ou perder uma eleição. Deu combustível para a extrema direita venezuelana. 

Em resposta, Maduro declarou que o sistema eleitoral de seu país é mais confiável do que o brasileiro, pois, na Venezuela, além da urna eletrônica, o eleitor recebe o comprovante impresso do voto, confere se está correto e o deposita em uma outra urna, onde ficam armazenados os votos em papel.

Diante disso, novamente entrou em cena a manipulação midiática. Além de transformar o mal-entendido entre Lula e Maduro em uma grave crise diplomática sem precedentes, surgiu a falaciosa narrativa de que Maduro, assim como Bolsonaro, insinuou que houve fraude na eleição presidencial brasileira. 

Trata-se de uma estratégia já manjada, feita sob medida para ludibriar e atrair indivíduos mais ingênuos da esquerda. Nesse sentido, também alega-se que o chavismo, tal como buscou o bolsonarismo, aparelhou Justiça e Forças Armadas. 

Ora, se o chavismo não promovesse reformas substanciais nesses dois setores, extirpando elementos pró-imperialistas, muito provavelmente já teria sofrido um golpe de Estado. Basta lembrarmos de nossos próprios exemplos em 1964 e 2016.

Em contrapartida, os planos do bolsonarismo para Justiça e Forças Armadas estão ligados a um projeto de submissão ao imperialismo. Exatamente o oposto ao chavismo. 

Com a derrota da oposição fascistóide, como era de se esperar, surgiu o "argumento" da "fraude eleitoral", "corroborado" por uma apuração paralela dos partidários de Edmundo González. Diga-se de passagem, uma prática ilegal. Algo nos moldes de "Juan Guaidó, Autoproclamado Presidente da Venezuela". 

Também não é novidade. Nos discursos geopolíticos dos principais veículos de imprensa do Brasil, eleições em outros países são "limpas" somente quando o resultado os agrada. 

Para encerrar este texto, uma dica do velho Leonel Brizola. Embora geopolítica seja uma temática complexa e multifacetada, quando vocês tiverem dúvidas quanto a que posição tomar diante de qualquer situação, atentem. Se a Rede Globo for a favor, somos contra. Se for contra, somos a favor!

Apesar da distância temporal, estas palavras continuam mais atuais do que nunca.

Enfim, o imperialismo ladra, mas, há duas décadas e meia, a Revolução Bolivariana passa! 

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum