O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, foi reeleito neste domingo com 51,2% dos votos, contra 44,2% de seu principal adversário, o ex-diplomata Edmundo González Urrutia.
Os dados são oficiais e foram anunciados pelo Conselho Nacional Eleitoral.
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O comparecimento foi de 59%.
O CNE disse que foi vítima de um ataque ao sistema de transmissão de dados, mas que apurados 80% dos votos a tendência da apuração era irreversível.
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Maduro tinha, àquela altura, 5.150.092 votos, contra 4.445.978 de Edmundo.
Partidários de Maduro se concentraram no entorno do Palácio Miraflores, a sede do governo, onde está o presidente.
O opositor Leopoldo López, que comandou os protestos da oposição venezuelana em 2014, publicou no X, logo depois que os colégios eleitorais fecharam:
Temos de assumir o que aconteceu e acreditar de verdade: GANHAMOS!!!! Venezuela será livre!!!! Glória ao Bravo Povo. E as primeiras atas [eleitorais] começam a chegar e ratificam os resultados da pesquisa de boca de urna: 64% Edmundo 30% Maduro. Não poderão mudar estes resultados.
López passou a divulgar, então, vídeos de opositores comemorando a vitória em várias cidades do país, baseados em resultados locais.
GOVERNO MILEI NA OFENSIVA
A Plataforma de Unidade Democrática (PUD), de Urrutia e Maria Corina Machado, está fazendo uma contagem paralela.
No X, afirmou: "Denunciamos que o CNE está se negando a nos transmitir dados eleitorais em vários centros de votação".
O deputado governista Diosdado Cabello disse com ironia que a contagem dos votos na Venezuela não é feita pelo Departamento de Estado dos EUA, nem pela ONG Súmate, aliada da oposição, mas pelo CNE.
Tradicionalmente, a oposição venezuelana denuncia fraude e promove protestos com apoio de pesquisas e atores políticos estrangeiros.
O ex-presidente da Argentina, Mauricio Macri, antes mesmo do anúncio dos resultados, afirmou:
A maioria dos venezuelanos falou alto e claro: Maduro deve deixar o poder. [...] Apelamos à comunidade internacional, e especialmente aos países da região, que devem garantir o compromisso com a democracia, para não permitir que esta ditadura se perpetue.
A Venezuela denunciou o cerco à embaixada de seu país em Buenos Aires por um grupo de manifestantes, que contou com a presença da ministra da Segurança, Patricia Bullrich.
A chanceler argentina Diana Mondino entrou na ofensiva: "Maduro: RECONHEÇA A DERROTA", escreveu no X.
O presidente argentino, por sua vez, postou durante a madrugada:
DITADOR MADURO, FORA!!! Os venezuelanos optaram por acabar com a ditadura comunista de Nicolás Maduro. Os dados anunciam uma vitória esmagadora da oposição e o mundo espera que esta reconheça a derrota após anos de socialismo, miséria, decadência e morte. A Argentina não vai reconhecer mais uma fraude e espera que desta vez as Forças Armadas defendam a democracia e a vontade popular.
O chanceler da Venezuela, Yvan Gil, respondeu chamando Milei de "nazista nauseabundo". Disse que o povo argentino apresentará a fatura a Milei "mais cedo ou mais tarde".
BRASIL E EUA CAUTELOSOS
O ex-chanceler brasileiro Celso Amorim, que foi a Caracas na qualidade de observador, segundo um repórter da rede Telesur disse: "Vamos aguardar os resultados finais e esperamos que sejam respeitados por todos os candidatos".
Amorim manteve contato durante o dia com observadores do Centro Carter, ligado ao ex-presidente dos Estados Unidos, e com o painel de especialistas das Nações Unidas.
Mais cedo, uma mensagem da democrata Kamala Harris no X sugeriu que os Estados Unidos vão respeitar os resultados.
Ela escreveu:
Os Estados Unidos apoiam o povo da Venezuela, que expressou a sua voz nas históricas eleições presidenciais de hoje. A vontade do povo venezuelano deve ser respeitada. Apesar dos muitos desafios, continuaremos a trabalhar em prol de um futuro mais democrático, próspero e seguro para o povo da Venezuela.
Maduro vai cumprir mais um mandato de 6 anos, que começa em 10 de janeiro de 2025.
Durante o domingo, com a votação em andamento, houve uma guerra de pesquisas de boca de urna feitas nas primeiras horas da votação.
Duas davam vitória de Maduro por 11 e 21 pontos de vantagem. Outra, divulgada pelo ex-presidente mexicano Felipe Calderón, mostrava o candidato da oposição vencendo por 67% a 30%.
Calderón e outros ex-presidentes de direita denunciaram fraude antecipadamente na Venezuela. Eles formam o Grupo Liberdade e Democracia.
CHAVISMO SOBREVIVE
Maduro assumiu o comando do Palácio Miraflores pela primeira vez em 5 de março de 2013, por causa da morte de Hugo Chávez, a quem serviu como presidente da Assembleia Nacional, chanceler e vice-presidente.
A Venezuela tem um sistema eleitoral sui generis: além da votação eletrônica, mais de 50% dos votos impressos pelas urnas são auditados "a quente", antes do anúncio oficial.
A vitória de Maduro garante a sobrevivência do movimento político criado por Hugo Chávez Frias, que completaria 70 anos neste domingo.
As eleições foram resultado do chamado Acordo de Barbados, mediados pela Noruega e que contaram com apoio do Brasil.
Pelo acordo, os EUA suspenderam parcialmente o bloqueio econômico contra a Venezuela, que soltou opositores presos.
As sanções foram retomadas assim que Maria Corina Machado ficou de fora da eleição.
A sobrevivência de Maduro no poder é atribuída à recuperação econômica parcial do país, que segundo o FMI terá crescimento do PIB de 4% em 2024.
O grande apelo dos opositores era a promessa de acabar com o embargo econômico que começou em 2014.