De Caracas -- Como fazer parecer que um grupo político que está no poder desde 1999, ou seja, por um quarto de século, representa a juventude e a esperança?
A resposta está sendo dada nas ruas da Venezuela pelos marqueteiros de Nicolás Maduro.
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Aproveitando a diferença de idade com seu principal opositor, o ex-embaixador da Venezuela na Argentina e na Argélia, Edmundo González Urrutia, de 74 anos, Maduro, aos 61, se apresenta nas redes sociais como um homem irriquieto.
Ele toca bateria, marimba e bongô. Dança sob todos os ritmos. Anda na garupa de uma moto. Dá um pique com a multidão.
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Para seus 4,8 milhões de seguidores no X e os 2 milhões do Instagram, o presidente que está no poder desde março de 2013 é irriquieto.
Cumprindo o ritual da política caribenha, que envolve uma boa dose de teatro e humor, Maduro se apresenta como o galo pinto, que bota para correr o galo pataruco, que não é bom de briga.
Trata-se, obviamente, de uma menção ao bloco de oposição venezuelano associado aos Estados Unidos, que desde a ascensão de Chávez trama com Washington a troca de regime em Caracas.
A Venezuela experimentou uma crise econômica terrível, que o governo atribui ao bloqueio econômico estadunidense, mas a oposição diz ser resultado de incompetência na gestão das riquezas locais.
NACIONALISMO
Maduro, desta feita, é o candidato da paz e do amor. Os eleitores parecem cansados da intensa polarização do último quarto de século.
Por isso, o presidente não gasta muito tempo nos comícios com ataques a adversários.
Quem viu Hugo Chávez em público nota a diferença. Chávez, muito carismático e com dons extraordinários de oratória, fazia o público vibrar.
Os comícios de Maduro estão mais para um teatro eleitoral, em que ele se apresenta como filho de Chávez, faz "revelações" sobre o que teria ouvido de seu mentor antes da morte do "comandante", levanta as mãos para o céu falando em Jesus Cristo, dança com a esposa e enfatiza a recuperação econômica da Venezuela.
Com ajuda da China, Rússia e Irã, o país conseguiu driblar boa parte das sanções estadunidenses. A previsão de crescimento do PIB para este ano está entre 4% e 5%.
Se há um discurso de campanha, ele se concentra nos adversários entreguistas: seriam "lacaios de Washington", que se juntaram a estrangeiros para penalizar a Venezuela, assaltando as reservas de ouro do país no Banco da Inglaterra e tentando tomar para si ativos importantes da petrolífera estatal, a PDVSA, como a subsidiária Citgo, nos Estados Unidos, considerada a "joia da coroa".
O discurso tem grande ressonância no país, especialmente no interior, uma vez que de fato, quando controlou a PDVSA, a oposição venezuelana não investiu em projetos sociais -- ao menos não na medida do governo Chávez.
Hoje, o principal bloco de oposição baseia seu discurso na recuperação da democracia, um bem intangível. O fato de que Urrutia não assinou um documento endossado por nove candidatos ao Palácio Miraflores, prometendo aceitar em paz o resultado das eleições de 28 de julho, joga contra esta ideia.
Meses antes das eleições, Nicolás Maduro "anexou" oficialmente a Guiana Essequibo ao território da Venezuela. Há ruídos de enfrentamento armado com o vizinho, com o Reino Unido e a Quarta Frota dos EUA. Ponto para Maduro.
Ele tomou para si uma demanda nacional que estava dormente e, com isso, sublinha a incongruência dos oposicionistas alinhados aos Estados Unidos e ao Ocidente.
Maduro, o galo de esporas afiadas, se apresenta assim como o único candidato capaz de vencer "os demônios que assombram a Venezuela".