(*) Por Élbia Pires e Luciane Kozicz Reis Araujo
O ambiente escolar tem se tornado uma máquina de sofrimento. Nesse espaço, os professores e orientadores educacionais têm sido submetidos a extremo desamparo e submissão. O caos nas relações socioprofissionais tem causado dor física e emocional. Em parte, resultado do modelo de contrato temporário, sem expectativa de carreira, com instabilidade de planejamentos e variação contínua de projetos.
Um modelo que enfraquece os laços sociais, exigindo a maior eficácia possível sem as condições de trabalho necessárias. Mudanças incessantes e aprendizados contínuos são impostos pela necessidade de lidar com diferentes públicos que a escola recebe.
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São incontáveis os adoecimentos causados pelas patologias do trabalho em decorrência dos governantes delegarem ao trabalhador a responsabilidade individual sobre o sucesso ou fracasso do aprendizado. Muitas vezes, o trabalhador é coagido a um tipo de comprometimento para além das suas atribuições. Tudo isso baseado em padrões sustentados nas ideologias do superior-inferior, do desempenho, da urgência, do foco, do possível e da felicidade. Produz o sujeito cerebral que tudo sabe, tudo pode e sempre ganha. Com o afeto a deriva duas patologias tem se destacado no ambiente laboral: a depressão, marcada pelo descarte e a perversão, que busca o desempenho admirável e olímpico. Um trabalhador operacional sempre em prontidão, adaptando-se às diferentes demandas em situações cada vez mais complexas.
O convite para o divã neste maio que se inicia celebrando o Dia do Trabalhador é para uma pausa: que educador que se está produzindo com essas práticas? Um convite a subverter métodos que insistem em destruir a dimensão coletiva da existência, uma quebra da homogeneização de um discurso de ser tutelado com técnicas manipuladoras.
O desafio atual é buscar formas de nomear esse estranho que habita em nós, estabelecendo relações com uma escuta lúdica e empática, de indagação aberta, de acolhimento podem ser a janela para um novo momento. As paredes do psiquismo precisam ser ampliadas para que não fiquemos enclausurados em modelos únicos, que corroem a personalidade e estimulam a dopagem generalizada.
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(*) Élbia Pires, professora efetiva da rede pública de ensino do Distrito Federal, diretora eleita do Sinpro-DF e coordenadora da Secretaria para Assuntos de Saúde do Trabalhador.
(**) Luciane Kozicz Reis Araujo, psicologa, pesquisadora do Núcleo de Trabalho e Linguagem Universidade de Brasília (UnB).