Na campanha eleitoral de 2022, Eduardo Leite (PSDB), que buscava um segundo mandato para governar o Rio Grande do Sul, enfrentou uma campanha homofóbica e sórdida por parte de seu opositor, o bolsonarista Onyx Lorenzoni (PL-RS), que havia integrado o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Durante o pleito, Lorenzoni apostou no ódio às LGBT para derrotar Eduardo Leite, que é gay e casado com outro homem, o médico Thales Bolzan. Ao longo das eleições, uma série de materiais apócrifos de conteúdo homofóbico foram produzidos contra Eduardo Leite.
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Ao término do primeiro turno, Onyx Lorenzoni disparou: "Estou muito feliz com o resultado obtido no primeiro turno. E tenho certeza de que os gaúchos e as gaúchas entenderam que vão ter, se for da vontade deles, do povo gaúcho, um governador e uma primeira-dama de verdade, que são pessoas comuns e que têm uma missão de servir e transformar a vida dos gaúchos para melhor".
Como resposta, a maioria do povo gaúcho e opositores históricos do PSDB do RS saíram em defesa de Eduardo Leite e lhe confiaram um novo mandato. A vitória de Leite teve um amplo significado, mas principalmente: foi um não ao negacionismo e à homofobia.
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Claro, ninguém se iludiu de que Eduardo Leite deixaria de ser um neoliberal com sanha privatista e devoto do Estado mínimo. O resultado está aí: o Rio Grande do Sul embaixo d'água, mas que agora conta com o apoio total do governo federal e com presença do Estado, que será necessário para reconstrução do RS.
Porém, durante entrevista à Band na noite desta terça-feira (14), Eduardo Leite se revelou uma figura ingrata com o seu povo e, no auge de seu neoliberalismo, criticou as imensas doações que chegam ao Rio Grande do Sul, pois acredita que elas podem atrapalhar o comércio gaúcho. Inacreditável.
A fala de Eduardo Leite: "quando você tem um volume de doações físicas chegando ao estado, há um receio, que nós observamos em outras situações, sobre o impacto que isso terá no comércio local. Você tem uma cidade que está impactada, o comércio que foi impactado também, e o reerguimento desse comércio fica dificultado na medida que você tem uma série de itens que estão vindo de outros lugares do país. Não quero ser entendido como alguém que está desprezando isso, pelo contrário, mas inclusive isso gera uma preocupação para nós, para os impactos do comércio no Rio Grande do Sul".
Posteriormente, Eduardo Leite pediu desculpas e tentou justificar a sua fala: "Em nenhum momento eu tive a menor intenção de inibir ou desprezar as inúmeras doações que o Brasil e o mundo estão fazendo pra ajudar nosso Rio Grande nessa reconstrução [...] o impacto no comércio local vai ser preocupação para outro momento”.
As declarações de Eduardo Leite revelam um gestor LGBT que conseguiu derrotar o ódio e a homofobia na eleição de 2022, que foi abraçado pela maioria do povo gaúcho, mas que foi derrotado pelo ideário do neoliberalismo e que, mesmo vendo a população sem nada, que perdeu tudo, se revelou mais preocupado com a situação da iniciativa privada.
Eduardo Leite é um governador LGBT - em um país profundamente homofóbico e machista como o Brasil isso não é pouca coisa -, mas que perdeu a sua capacidade de cidadania e se transformou no clássico "homus economicus", ou seja, o homem empresa: frio, calculista, que só pensa em como diminuir a presença do Estado e aumentar a da iniciativa privada.
Eduardo Leite é um governador LGBT que foi abraçado pelo povo gaúcho, mas que no decorrer do caminho perdeu de vista a cidadania e não consegue reencontrá-la nem mesmo agora, quando o Rio Grande do Sul está destruído e embaixo d’água. Mais importante do que as doações, é salvar o Deus Mercado. Essa é a cartilha de Leite.