A queda na aprovação pessoal e do governo Lula, retratada na pesquisa Quaest divulgada nesta quarta-feira (6), encontra explicação em duas vertentes cruciais para a disputa eleitoral, tanto em outubro, nos municípios, quanto a de 2026, no embate direto com o bolsonarismo.
Segundo o estudo, desde dezembro, Lula teve uma queda de 3 pontos percentuais - de 54% para 51% - na aprovação de seu trabalho. O mesmo ocorreu inversamente com a desaprovação, que cresceu de 43% para 46%.
Em relação ao governo, a queda de avaliação positiva foi de um ponto no período - 36% para 35%. A reprovação, no entanto, saltou 5 pontos, de 29% para 34% - com queda de 32% para 28% entre aqueles que classificam a gestão petista como regular.
No entanto, para entender as duas vertentes que derrubaram a popularidade de Lula é preciso ampliar essa visão até agosto, quando a Quaest registrou o melhor índice pessoal do presidente - 60% aprovam contra 35% desaprovam - e do governo - 42% positivo e 24% negativo.
A partir de agosto, o índice entrou em queda livre. A aprovação a Lula caiu 9 pontos e a avaliação positiva do governo encolheu 7 pontos. Por outro lado, a desaprovação do presidente saltou de 11 pontos e a do governo 10 pontos.
Economia
A popularidade de Lula se reflete diretamente no preço dos alimentos nos supermercados. A própria Quaest revela que até agosto, a perspectiva de queda no preço dos alimentos era crescente, chegando a 36%.
Depois disso, houve uma ligeira queda até dezembro, quando 32% ainda diziam que houve queda no preço dos alimentos. De lá pra cá, esse índice despencou e atualmente apenas 13% dos entrevistados afirmam que os preços dos alimentos estão em queda.
Por outro lado, 73% afirmam que os preços dos alimentos subiram. Essa percepção era de 37% em agosto de 2023 - menor índice da série - e subiu de forma vertiginosa a partir de dezembro, quando 48% afirmavam que os preços subiram.
Dados do IBGE mostram que os preços dos alimentos quedas frequentes até setembro de 2023. Em outubro, a alta foi de 0,31%, pós quedas de 0,66% em junho, 0,46% em julho, 0,85% em agosto e 0,71% em setembro.
A partir daí, o supermercado passou a ficar mais caro, especialmente para a classe média e média baixa, com a inflação acelerando em itens básicos como pepino (25,75%) batata (11,23%), cebola (8,46%), arroz (2,99%) e carnes (0,53%). Frutas também tiveram aumento considerável, como laranja lima (14,05%), manga (13,05%) e tangerina (8,46%).
Além disso, o azeite praticamente foi riscado da lista de compras da classe média, com alta de até 80% desde agosto passado devido aos baixos estoques globais.
O impacto econômico também encontra eco no preço das contas de serviços residenciais, como luz e água, que subiram para 63%. E também dos combustíveis, considerados mais caros para 51% dos entrevistados.
A alta dos preços de ítens básicos refletiu diretamente na expectativa da população em relação à economia nos próximos 12 meses. Aqueles que acreditam que a economia vai melhorar passaram de 59% em agosto para atuais 46% - em fevereiro de 2023, no início do mandato de Lula, 62% apostavam na melhora da economia.
Até mesmo entre declarados eleitores de Lula, a expectativa econômica vem caindo de forma recorrente, passando de 86% que apostavam em melhor no início do mandato para atuais 69%.
Já entre os bolsonaristas, apenas 18% acreditam em melhora econômica e 59% apostam na piora - o maior pessimismo desde fevereiro de 2023.
Israel
A queda na popularidade de Lula é motivada ainda pelo aumento do tom das críticas ao governo sionista de Benjamin Netanyahu, puxada principalmente pelo nicho evangélico, onde a narrativa da ultradireita fascista e de Jair Bolsonaro (PL) tem grande impacto.
Desde o ataque do Hamas, que deixou cerca de 1,2 mil israelenses mortos, Lula manteve uma postura neutra até dezembro, quando terminou o resgate de brasileiros que estavam na faixa de Gaza.
O último grupo de repatriados de Gaza, com 48 pessoas, chegou ao Brasil no dia 11 de dezembro. Dois dias depois, Lula começou a subir o tom, denunciando que a "violação cotidiana do direito humanitário é chocante e resulta em milhares de civis inocentes, sobretudo mulheres e crianças".
No Natal, Lula e Janja almoçaram com os repatriados do território palestino, deixando a neutralidade de lado.
Ao deixar Adis Abeba, na Etiópia, em 18 de fevereiro, o presidente chegou ao ápice das críticas, denunciando o genocídio na Faixa de Gaza que, segundo ele, só encontra precedente histórico "quando Hitler resolveu matar os judeus”.
A declaração gerou uma crise diplomática, mobilizou a narrativa da ultradireita fascista - que já mentia sobre uma ilusória relação entre o PT e o Hamas - e foi considerada "exagerada" por 60% dos entrevistados na Pesquisa Quaest - apenas 28% dizem que Lula não exagerou e 12% não sabem ou não responderam.
A impressão negativa foi maior entre os bolsonaristas, com 85% dizendo que o presidente exagerou, e evangélicos: 69% têm a mesma opinião.
O tema impactou diretamente na popularidade do presidente na comunidade evangélica. Em agosto, Lula atingiu o pico de 50% de aprovação nesse grupo religioso - com 46% de reprovação, segundo menor índice desde a posse.
De lá pra cá, no entanto, a desaprovação aumentou e cresceu 10 pontos, passando de 52% em outubro - quando iniciou o conflito na Palestina - aos atuais 62%.
A reprovação do governo entre os evangélicos, que era de 30% no início do mandato, agora está em 48%. O salto maior, de 13 pontos percentuais, se deu entre dezembro e fevereiro. Apenas 22% dos evangélicos classificam como positivo o governo e 27% como regular.
Mulheres e jovens
Outros dois públicos, que foram essenciais para a vitória de Lula sobre Bolsonaro em 2022, também registram queda preocupante.
Ente as mulheres, a aprovação pessoal do presidente passou de 60% em agosto do ano passado para atuais 51% - uma queda de 9 pontos. Ao mesmo tempo, a desaprovação de Lula entre as mulheres cresceu de 35% para 45% no período.
Entre os eleitores mais jovens, de 16 a 34 anos, a desaprovação do trabalho do presidente foi a maior que a aprovação pela primeira vez desde o início do governo.
Lula assumiu com aprovação de 57% desses eleitores. Em agosto, o índice chegou a 59%, mas caiu e está em 46%.
Em contrapartida, a desaprovação, que era de 29% na posse chegou a 50%. Entre eleitores com idade entre 35 e 59 anos, Lula tem 50% de aprovação e 48% de desaprovação. Já entre aqueles com mais de 60 anos, a parovação do presidente está em 61%, contra 35% que desaprovam.
A Quaest ouviu 2 mil eleitores entre os dias 25 e 27 de fevereiro de forma presencial. O índice de confiança é de 95% e a margem de erro de 2,2 pontos percentuais.
Leia a íntegra da Pesquisa Quaest