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Adele x Toninho Geraes (Martinho da Vila): vossa excelência o plágio

Polêmica sobre "Million Years Ago", de Adele e “Mulheres”, sucesso na voz de Martinho da Vila, reacende a discussão: afinal o que é plágio?

A cantora Adele.Créditos: Divulgação
Escrito en OPINIÃO el

O juiz Victor Agustin Cunha, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), mandou retirar das plataformas digitais a canção "Million Years Ago", da cantora britânica Adele. Segundo ele, a música lançada em 2015, tem forte indício “da quase integral consonância melódica” de “Mulheres”, de Toninho Geraes, sucesso de 1996, na voz de Martinho da Vila.

Esta não é a primeira acusação de plágio sofrida pela melodia de Adele. Em 2015, fãs do falecido cantor turco Ahmet Kaya, morto em 2000, apontaram nas redes semelhanças entre a canção de Adele e "Acilara Tutunmak", lançada por ele em 1985. Logo, se Adele teria copiado Geraes, o mesmo copiou Kaya? Não é tão simples assim.

A bem da verdade, acredito que em nenhum destes casos, a coisa tenha sido deliberada. Não é muito factível imaginar que uma compositora de talento como Adele tenha copiado descaradamente a bela canção de Geraes. As três músicas têm estruturas harmônica e melódica muito comuns, muito usadas e são, de fato, muito semelhantes.

My Sweet Lord

Um caso parecido e famoso é o do ex-beatle George Harrison com a sua “My Sweet Lord”, que é, de fato, basicamente igual à canção “He’s so fine”, de Ronnie Mack, e sucesso do grupo vocal feminino americano The Chiffons. É difícil considerar a possibilidade de que Harrison, um autor de mão cheia, com melodias lindas como “Something” e “Here Comes the Sun”, entre várias outras, precisasse copiar a canção de alguém.

Sua explicação foi tão simples quanto crível: “esta canção veio para mim de forma inconsciente”, disse ele em “This Song”, composição sua que ironiza o processo. No clipe, ele é condenado por um rigoroso e implacável tribunal formado pelos seus amigos do grupo de humor inglês Monty Python.

Há centenas de exemplos, alguns bastante descarados. Um deles é o famoso riff de guitarra de “Smoke on the Water", da banda Deep Purple, que é rigorosamente igual, nota por nota, à introdução de “Maria Moita”, clássico de Carlos Lyra. Outro caso de envergonhar é o da canção “Da Ya Think I’m Sexy?”, de Rod Stewart, que tem uma frase absolutamente igual à “Taj Mahal”, do nosso Jorge Ben Jor.

Os exemplos não param e, caso a caso, basicamente todos acabaram em acordos que contemplaram a todas as partes envolvidas. Copiou, mesmo que inconscientemente, paga. E ponto. O que não se pode e nem se deve é tratar artistas talentosos como criminosos. Música popular é algo muito simples, na maior parte dos casos. As melodias apresentam estruturas semelhantes, repetitivas. Um compositor carrega consigo tudo o que ouviu na vida.

Paul McCartney

Paul McCartney conta sempre que compôs “Yesterday” sonhando. Acordou e a melodia estava lá, pronta. Passou várias semanas perguntando a todos se alguém conhecia o tema. Ele achava que poderia ter copiado inconscientemente alguém. Chegou, no final das contas, à conclusão que a composição era mesmo sua. E ela acabou virando, não só um sucesso dos Beatles, como a canção mais regravada do planeta.

Talvez até hoje, McCartney tenha pesadelos de que venha a aparecer o dono de fato da melodia, se é que existe algum. Seria o maior escândalo de todos os tempos da história da indústria fonográfica.

A conclusão mesmo é que, há muitos e muitos anos nada se cria e tudo se transforma ou copia na história da canção popular. A propósito disso, John Lennon, o ex-companheiro de banda de Harrison, talvez tenha revelado um de seus truques de composição ao comentar sobre o caso de “My Sweet Lord”:

“George poderia ter mudado alguns compassos daquela música e ninguém poderia incomodá-lo, mas ele simplesmente deixou para lá e pagou o preço”, ironizou.

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