País fechado! Crise econômica! Clima de guerra! Essas foram algumas das impressões que colegas e amigos afirmaram ter sobre a Rússia ao lhes contar a notícia de que embarcaria em uma viagem de 30 dias para Moscou para um intercâmbio com a agência de notícias Sputnik no mês de outubro.
Após longas vinte horas de viagem entre São Paulo, Dubai e Moscou, desembarquei no aeroporto Domodedovo, na região metropolitana da capital russa e fiz um traslado de cerca de 50 minutos até o centro de Moscou.
O trajeto já dava indícios de como estava Moscou: sim, a guerra estava presente em outdoors convocando à mobilização, assim como as sanções se exibiam nas versões russas de McDonald’s (o Vkusno i-Toschka) ou da Coca-Cola (a Dobry Cola).
É inegável que, de fato, as ofensivas do Ocidente contra a economia e a população russa causaram um impacto no dia a dia. A consequência negativa é, claramente, o aumento de preços, em especial de produtos importados.
Por outro lado, a Rússia tem implementado uma substituição de tecnologias e de importação de altíssima velocidade: Não é necessário usar a Amazon, porque há a Ozon. Para Visa/Mastercard, há o Mir. Para o Google, há o Yandex. Para o Uber, há o Yandex. Para a Champions League, há o novo formato da Copa da Rússia com fase de grupos e mata-mata. Para as redes sociais, sempre há as VPNs. As alternativas não são perfeitas, mas suprem as necessidades.
Se a intenção do Ocidente era colocar a população do país contra o governo russo, as sanções deram errado. Em especial porque a grande maioria dos russos com quem conversei eram extremamente politizados e entendiam as sanções como injustas. Citavam a hipocrisia ocidental referente a Israel ou aos próprios EUA, relembrando a guerra do Iraque e a Líbia de Gaddafi.
A guerra, por outro lado, é tema de debate. Há os que defendem uma negociação de paz, outros que defendem uma postura mais ofensiva contra Kiev, e há uma parcela população que está mais ou menos alheia ao conflito.
As convocações para a mobilização e homenagens aos heróis de guerra estão em outdoors e no metrô. Não há silêncio sobre o tema. Aliás, sobre tema nenhum.
Putin é popularíssimo e visto como um líder que reconquistou orgulho e estabilidade para o país após os anos Yeltsin. Os BRICS também são vistos positivamente, mas há uma significativa parte do debate público que enxerga uma inevitável reconciliação com a Europa (partindo de Bruxelas, obviamente).
Apesar das questões internas e externas - que todos os países enfrentam -, Moscou segue sendo extremamente desenvolvida, cosmopolita, urbana e diversa, de modo que não deve nada a São Paulo e Rio em seu caos diurno ou em sua agitação noturna. Porém, conta ainda com planejamento urbanístico exímio - haja vista seu sistema de transporte público ímpar -, soluções tecnológicas amplas no dia a dia, e com um clima de segurança ímpar.
Muitos espantalhos são pintados sobre a Rússia moderna - a ideia de um regime fechado, de pessoas tristes ou de um país atrasado. A realidade, por outro lado, mostra uma situação diversa: a Rússia segue em seu caminho de desenvolvimento político e econômico particular, com clareza de seu papel no mundo.
Este artigo foi viabilizado pelo programa de bolsas InteRussia, organizado pelo Fundo Gorchakov e pela Agência Internacional de Informação e Rádio "Sputnik".